Wednesday 4 March 2009

Autobiology 2



Recém regressada de Glasgow, onde participei no workshop "Autobiology" (detalhes no post Autobiology 1), sinto-me em estado de choque. E agora? Um workshop é respirar mais fundo dentro de nós mesmos; é um período para experimentar algo novo; é descobrirmos novas potencialidades para o futuro. O ambiente de salutar criticismo e a variedade incrível de projectos aí apresentados, abrem as portas da minha percepção para o que é "Performance. Mais do que apenas música, teatro ou dança, é humor, drama, imagem, palavra, histórias, ou apenas um sentir. É um momento de transformação de nós, é construir uma relação forte com o outro, é tocar o inefável, é sentir uma energia simultaneamente poderosíssima e fragilíssima. É viver um momento certo na vida!

Neste workshop fiz duas "NO performances". A minha primeira manifestação de um "gut feeling" andou à volta da palavra No - palavra que todos têm medo de dizer, em especial nos olhos do Outro; palavra que tantas vezes tenho de dizer na minha vida... Construí um momento cheio de drama, de olhar forte, de respiração, de cabelos desalinhados e alinhados. A segunda, proposta da Helen Paris, foi ser apenas Eu. Apresentar-me como pessoa real, sem representação metafórica de nada, apenas a nudez de mim. Improvisei ao piano enquanto respondia às questões das pessoas. Desta vez, sem subterfúgios, máscaras ou metáforas de qualquer espécie. Apenas Eu. De olhos nos olhos. Tive medo, confesso. Não envolvia qualquer preparação, nada, nada. Teria de aceitar o que quer que acontecesse, sem tentar controlar o momento. Isto foi aterrador! Mas Gemma disse-me as palavras mágicas: Everything is going to be fine, Teresa! E acalmei. Pensei no John Cage e na sua "não intencionalidade", no espírito Zen (aceitar o que acontece como o melhor que pode acontecer nesse instante) e arrisquei. Foi um momento maravilhoso! Consegui criar empatia com as pessoas e venci um novo desafio. Nunca fiz nada assim na minha vida. Tudo é sempre calculado, estudado. Aqui, foi o inverso e resultou! Esta faceta do "real me" é-me inteiramente nova. Ainda não sei como me transformará mas sei que dei aqui um passo importante .

Esta viagem à Escócia também ficou marcada pelas pessoas que conheci nomeadamente o coreógrafo Paulo Ribeiro que é uma pessoa muito generosa e autêntica. Ele é uma inspiração para mim pois soube transformar as suas dificuldades em mais-valias. São as nossas idiossincrasias e diferenças que tornam este mundo num espaço - tempo fascinante para se viver. Outra pessoa inspiradora foi a minha "room-mate", uma escritora australiana de 70 anos que está em Glasgow a investigar para o seu novo livro. Tem o nome da minha mãe, Isabelle. Que mulher! Acho que me vi daqui a quatro décadas assim: a viajar pelo mundo, sozinha ou acompanhada, mas sempre em processo criativo e ousando viver os seus sonhos. Nunca encontrei ninguém com tantos sonhos, mistérios e instintos. Isabelle vai atrás deles sem esperar pelo dia de amanhã. Ela vive o hoje. Ainda procura aquele que viu no seu sonho: «Será ele o homem dos meus sonhos?». Quem diz isto aos 70 anos?

Agora, de regresso a casa, encontro emails que me põe triste. Ainda não consegui reagir ao embate. Preciso de respirar e descansar. Vou fazer Yoga...

Teresa

1 comment:

Maravilhas