Saturday 19 January 2008

Crónica inglesa 9: Pina Bausch


Consegui!!! Consegui comprar um bilhete para ver finalmente ao vivo a companhia da Pina Bausch, a Wuppertal Tanztheatre, em duas criações emblemáticas: «A Sagração da Primavera» e o «Café Muller». Após tantos anos de espera...

O trabalho da Pina Bausch é uma inspiração para mim.

Porque o que conta são as pessoas. Somos nós. As suas histórias são as nossas histórias. Vemos abraços, encontros, desencontros, alienação e a procura desesperada de um sentido no meio do caos. Pina fez-me tomar consciência de que toda a criação artística é uma metáfora da Vida, onde o passado se cruza com o presente. E talvez com o futuro...

Porque a sua matéria-prima são as emoções. São as nossas emoções. No ‘Café Muller’ há uma distância brutal entre todas as personagens; elas nunca se encontram… é-me muito perturbador. Duas delas estão absorvidas num abraço inerte. São ausentes, anestesiadas, talvez oníricas; há a mulher solitária. Nervosa, perdida em gestos indecisos. Ela procura e procura, mas não sabe o quê, onde nem porquê; e depois o 'waiter', a personagem mais real no meio de personagens isoladas no seu mundo. O rapaz que procura em vão compor o mundo através das cadeiras e dos abraços. Eu pergunto, no meio destas personagens onde estamos nós? Somos aqueles dois seres que se abraçam como que fugindo ao que os rodeia? Ou aquela mulher perturbada, perdida em si própria? Ou aquele ser que procura desesperadamente pôr ordem nas cadeiras do café? Não fomos todos já um pouco destas personagens? Sim, a distância entre elas é tremendamente perturbadora. E é nesta distância ou tensão que eu quero trabalhar.

Porque os seus bailarinos estão longe dos padrões de beleza e de performance física que nos são apresentados a todo o momento pela TV e media em geral. Os seus bailarinos são pessoas como nós. Os seus corpos também envelhecem, ganham rugas e marcas com o tempo. Pina B. sabe que um corpo sem marcas é um corpo sem histórias; é um corpo incapaz de uma expressão inteira. Por isso ela não trabalha com belezas plásticas e rígidas; ela trabalha com pessoas como nós. Com corpos que sentem como os nossos. E o sentir forte não é apanágio da juventude. É apanágio do ser humano;

Pina B. é uma pessoa que se atrapalha com as palavras. Não é através delas que melhor se exprime. É pelos gestos das suas mãos. É aí que tudo começa. Tudo o que nos é apresentado um dia como grande e sofisticado, começou por uma pequena pergunta ou por um movimento não pensado. Mais uma vez, a importância das coisas sem importância...

Por tudo isto e muito mais, ela me inspira.

Teresa