Thursday 30 April 2009

World Digital Library

Cá está mais uma maravilha cibernética.
A World Digital Library: http://www.wdl.org/en/



Uma biblioteca global acessível a todos, em todas as línguas, onde encontro mapas do século 18 do "Kingdom of Algarve" (é assim que é referido no site) ou um livro sobre as "possessões" lusas na Oceania, de Affonso de Castro (1867).

Curioso também um livro chinês sobre as cerimónias relacionadas com o Amor e Romance, escrito em lígua Naxi (nunca ouvi tal!), apenas usado em rituais shamanísticos. Bem, só tem duas páginas muito ilustradas com animais e pássaros. Lamento mas isto não é o Kama Sutra chinês.

Para já tem essencialmente documentos históricos, normalmente pouco acessíveis ao público.
Fica aqui o registo desta biblioteca online recentemente "aberta" ao público (tem 9 dias de vida).

Tvv

PS. Notícia da Ípsilon acedida hoje: http://ipsilon.publico.pt/livros/texto.aspx?id=228510

Tuesday 28 April 2009

Lá para o fim, apresento-vos Stelarc

Hoje quero escrever algo
Ainda não sei bem o quê
Algo vindo do nada
Sem razão aparente
E não me apetece ser correcta com a pontuação do texto
Estou numa irreverência juvenil

A foto nada tem haver com o meu pensamento
Apetece-me simplesmente partilhar imagens
Imagens que ando a recolher sobre Live Art
Imagens que gosto
Esta é de uma coreografia da Pina Bausch
Pungente e lírica
Cores fortes e apaixonadas
Foto acústica

Agora algo que não tem nada a ver
O meu percurso auditivo

  • Em criança quando me pediam para cantar cantarolava "Sobe, sobe balão sobe" da Manuela Bravo acabadinha de ganhar o festival da canção

  • Logo a seguir comecei a cantar em inglês com os ABBA. Conheci todo o seu repertório e chorei quando eles terminaram

  • Depois a pirosada dos anos 80. Ouvia a música pop do momento. Consumia e deitava fora. Nada ficou dentro de mim. Excepto o "Não há estrelas no céu" do Rui Veloso que me acompanhou Verões sem fim na praia deserta da Apúlia

  • Com os 17 ou 18 anos descubro os decibéis do rock dos anos loucos (60/70s) através dos Led Zeppelin. Nada de Stones, ou Beatles ou Pink Floyd. Apenas Led Zeppelin, não sei porquê...

  • Anos mais tarde, já na faculdade e com 19 anos, reconciliei-me com o Piano (o meu segredo de adolescente!) e ouço obsessivamente a Antena 2. Ganhei uma base sólida do repertório clássico que me tem acompanhado até hoje. Enquanto estudava reacções metabólicas, mecanismos de regulação enzimática e técnicas de manipulação genética, ouvia sinfonias, trios de câmara, música barroca, ópera, canção francesa e todo o repertório para piano (claro)

  • Já na ESMAE ouço mais do Canon da música erudita Europeia; interesso-me pela tradição mais recente da música e descubro Ligeti, Crumb, Stokhausen e... o Jazz!! Um jazz bem docinho - o contraponto necessário a tanta vanguarda de sons

  • E, como não tenho mais paciência, salto para os anos mais recentes onde perdi todas as inibições auditivas que ainda restavam e ouço sonoridades electrónicas, o exotismo das músicas do Mundo, o free jazz, as fusões da música erudita com a popular (tipo Fredric Rzewski), o universo peculiar do Tom Waits (que me acompanhou em toda a jornada inglesa), a voz hipnótica de Laurie Anderson, o experimentalismo dos sons da vanguarda, o regresso ao universo pop, o flamenco, o fado...ouço TUDO, TUDO!
Isto para dizer o quê?
Que vou renovando os sons que me rodeiam
Cada um deles me traz memórias de sabores, experiências, certezas e ingenuidades
Eu gosto de cada um desses momentos mas preciso de me renovar CONSTANTEMENTE
Preciso de procurar o som que me define nesse momento
Aquele que me explica e me compreende
A minha relação mais séria da vida estão nestes sons
Sempre em des-sintonia uns com os outros

Ser-me-ia impossível viver agarrada de forma dogmática ou cega a um som apenas
A renovação, a procura constante de algo novo, é o que me sustenta o ânimo e alegria de viver
Por isso, é-me incompreensível ver o quanto as pessoas se agarram ao passado, sem nunca o largarem
Parece que têm medo de trair os seus sonhos da sua juventude
E lá vão ouvindo sempre, sempre, sempre, e mais uma vez, as mesmas melodias e sonoridades
Obviamente não há nada de mal nisto
Apenas é um sinal do quanto as pessoas se sentem inseguras do presente e têm medo de arriscar
E isso é o que EU não quero

(Como vêm
Eu uso SEMPRE a música para me compreender e aos Outros)

Comecei com uma foto acústica
Termino com uma foto fortemente ruidosa
Apresento-vos Stelarc, o "live artist" australiano que conheci na Brunel, cujo trabalho se centra na convicção de que o corpo humano é "obsoleto"



Para ele, o corpo já deu o que tinha a dar
As suas capacidades já foram exploradas ao limite em todas as áreas: físicas, cognitivas, psicológicas e sociais
Além disso, o corpo não é perfeito nem eficiente
Cansa-se rapidamente, apanha doenças, tem limites de sobrevivência muito apertados
Resta ampliá-lo ou dotá-lo de novas capacidades através de prostéticos quer tecnológicos, virtuais ou biológicos

Aqui, ele apresenta o seu terceiro braço
Na Brunel, apresentou o seu ouvido-extra que "construiu" biologicamente no seu braço esquerdo
Ele redesenha o seu corpo e cria um ser híbrido
Explora a interface humano-tecnológica de forma REAL
Porque o corpo é "obsoleto"

Sei que parece estranho tudo isto
Também o foi para mim, mas já não o é
Ele fez-me pensar nos limites do corpo humano
E eu gosto de ser desafiada
Obviamente não estou com vontade de testar "prostetesias" (inventei esta palavra agora) deste tipo em mim
Continuo a ser alguém fundamentalmente acústico

Teresa vv

PS1. Raios, eu que queria escrever algo curtinho...

PS2: Para saber mais sobre Stelarc: http://www.stelarc.va.com.au/
E um video que encontrei do Stelarc com o seu terceiro braço, num video dos Queen.


Thursday 9 April 2009

Unbound & Franko B


Cá está uma loja online para os interessados em publicações e artefactos relacionados com Live Art: teatro experimental, body art, performance digital, história e teoria da Performance. Podem encontrar livros, DVDs, bem como edições limitadas, e os preços variam entre as 10£ e as 500£. Este último valor refere-se a uma edição limitada de um livro de Franko B feito para o 10º aniversário da Live Art Development Agency.
Este italiano, radicado em Londres há três décadas, é dos artistas mais em voga no mundo da Live Art. TODA a gente quer fazer workshops com ele! Ele é que é!
Investiguei um bocadinho sobre o seu trabalho e o que me saltou mais à vista foram os títulos dos seus projectos. Pararam a minha respiração..

Oh Lover Boy (2001)
I Miss You!
I'm Thinking of You (2009)
Blinded by Love

Meu Deus, que homem mais intenso! Só poderia ser latino (e muito gay)!

Tvv

Sunday 5 April 2009

Comédias do Minho, conhecem?

Pois, eu também não conhecia. Mas pelos vistos esta companhia profissional de teatro já existe há alguns anos e resulta de um esforço conjunto de cinco autarquias do Alto Minho para criarem uma companhia próxima das suas terras e tradições. Um teatro para as pessoas que nunca foram ao Teatro. Esta companhia apresentou este fim de semana um programa ousado e fisicamente muito exigente, tanto para actores/produtores como para o público. Incluiu cinco apresentações, cada uma com duração aproximada de duas horas (acreditem, o tempo passou a voar...), em locais recônditos do Alto Minho que se tornaram em espaços de excelência dramática: uma mercearia e ermida na freguesia de Lara/Monção, uma casa rural na freguesia de Parada do Monte/Melgaço e outra casa antiga na freguesia do Bico/Paredes de Coura. (Houve mais, mas eu não assisti a tudo, infelizmente.) Terras todas elas aqui tão perto e simultâneamente tão distantes de nós.

Fui um pouco por acaso. Sem saber exactamente ao que ia, pois não gosto de saber tudo em antecipação, deixei-me levar pelos amigos e fui para terras nortenhas. Dou por mim a reviver memórias cheiros, sabores, pessoas, paisagens, lendas e histórias de tempos antigos que, afinal de contas, também fazem parte de mim. Apesar de não ter pensado muito sobre isto, confesso que temia ver algo brejeiro e/ou paternalista sobre os hábitos, cultura, saberes e estilos de vida minhotos, muitas vezes tão rudes e cruéis para pessoas fora deste contexto geográfico. Verifiquei surpreendida (e agradecida!) que me enganei. Através dos pequenos momentos performativos vi que os encenadores/actores souberam deixar para trás o seu olhar enviesado de quem é "gente da cidade, cosmopolita e civilizada" para olharam de frente nos olhos daquelas pessoas, tão cheios de sonhos e de expectativas como os de qualquer um de nós. As suas histórias e memórias tornaram-se numa valiosa matéria-prima para a criação de momentos de magia, de comicidade, de poesia física e metafísica, com que brindaram todos os sentidos dos espectadores (por vezes actores também).


Ouvi histórias simultaneamente arrebatadoras e cruéis como a de Clotilde que envelhece sozinha junto à maquina de costura, rodeada de lágrimas e suspiros resignados, esperando em vão pelo regresso do seu marido emigrante; ou a história pungente de um touro perdido, apavorado e humilhado pelo destino;

Recordei o cheiro das casas antigas, aquecidas pelo bafo dos animais no rés-do-chão, com mobiliário simples mas sempre ornadas com rendas e panos de linho, para dar um toque de beleza cuidada;

Degustei o sabor honesto de um sopa feita com a couve mais 'grosseira' que há, a couve galega;

Relembro o regresso dos "francius" durante o Verão, sempre com os seus histerismos e falas mestiçadas;

Ouvi Roberto Leal, o grande animador dos bailes em honra da Nossa Senhora disto e daquilo;

Enterneço com a solidão resignada e beleza calma da Sr.ª Esmeralda, cujos os sonhos de criança ainda hoje persistem aos 80 anos;

Ouço os pregões, as premonições sombrias do Sr. Padre;

Ginastico o corpo através da mestria de quem sabe, ou seja, do sr. Hipólito (?), cujo sustento da famila depende do seu vigor;

Ouço o som rouco da caneta no papel rude e as palavras sussurradas de alguém sôfrego de notícias de um ente querido;

Inundo os meus ouvidos com os sons do grupo coral e das concertinas, onde o sagrado e profano se misturam num convívio tão íntimo quanto exemplar;

Revejo o a velha mercearia da aldeia onde, tal como de confessionário se tratasse, as pessoas contam as suas histórias de (des)amor e onde se vejo produtos que não existem nos supermercados;

Mais o velho aldeão que tenta apaziguar os corações dos doentes de amor...

E muito mais...

Tudo isto eu também vivi. E sinto-me enternecida por me trazerem, de forma tão sensível e sensitiva, um tempo que já passou: a minha infância. Um tempo igualmente recheado de lendas, mitos, sonhos e de quatro estações bem distintas. Claro que tudo isto ainda está presente na pessoa que sou hoje. Viver é recriar, transformar e contaminar o passado com as novidades do presente. Apesar de muito ter mudado no espaço de uma geração, eu persisto, tal como estes encenadores e actores, em construir uma ponte de afecto, de compreensão, de carinho entre as formas de viver do passado e do presente. Porque o futuro faz-se assim.


Tvv

Mais informações sobre esta companhia de teatro pesquisar o blog http://www.comediasdominho.blogspot.com/