Tuesday 17 November 2009

teresa vila verde no FeministizARTE

música ou performance? eis a questão

concepção musical e performer: teresa vila verde
direcção artística: vítor alves da silva
luz: margarida alves
vídeo: joana fernandes gomes
som: joão pedro carvalho

Evento performativo que cruza a música, o teatro, a performance, o vídeo e a instalação. Ao apresentar uma pianista que canta e fala, que conta histórias autobiográficas, que gosta de explorar inusitados espaços sonoros do seu instrumento e da sua voz, este projecto pretende desafiar convenções acerca do que é um concerto, uma pianista e uma mulher. música ou performance? eis a questão tem como base a improvisação, sendo esta pontuada com referências a outros universos musicais.

Evento que resulta da participação no workshop Autobiology, orientado pela dupla anglo-americana Curious (http://www.placelessness.com/) e parte integrante do National Review on Live Art (Glasgow, Fevereiro 2009), cujo objectivo foi explorar o visceral e os “gut feelings”, as conexões entre o corpo e a mente, biologia e autobiografia, visando a criação de material artístico “straight from the heart”.

Teresa no workshop autobiology


Para saber mais sobre esta e outras performances consulte a página:
http://www.myspace.com/teresavilaverde

Tuesday 3 November 2009

Desabafos de um Médico

Uma das experiências mais marcantes da minha vida de estudante foi assistir ao segundo parto da minha vida. Houve o meu há 25 anos. E houve o de uma jovem mulher que nunca conheci numa das já longínquas semanas de aulas na Faculdade. Era o Bloco de Obstetrícia que decorria e, em toda a ignorância daquele momento, assistia a uma das maiores alegrias que o género humano pode conhecer. O nascimento de alguém.

Muitos anos mais tarde, confrontei-me com a vivência do doente demente. E atroz o sofrimento e a perda de dignidade. Era um médico interno incauto e, a meu lado, estavam dois adolescentes. O pai, de idade avançada - mas, como sabiamente se diz em Psiquiatria Geriatrica, ainda "jovem" -, prostrado na cama. E aqueles dois olhares, a estrondarem esperança e desespero por todos os lados, seguiam-me por todo o lado. Auscultava aquela pessoa, que ardia de febre e frases soltas e desconexas. Os adolescentes, irmao e irma, vertiam discretas lágrimas. Diziam-me que não tinham mais ninguém com quem contar. Estavam, de facto, sós. A demencia de alguém é partilhada. Não estamos sós na doença.

Por momentos, olhava o corredor que dava em frente daquele quarto. Um outro doente deambulava pelo corredor, sem sentido definido. Como a vida da maioria das pessoas, talvez. Soltava gemidos, ininteligíveis. E a alma, que lutava por um pouco de dignidade, ia e vinha. O corpo daquele doente "trausente" movia-se de uma força inanimada, quase que por inércia. Olhava, incredulo e chocado, a manifestaçao violenta do que é a demencia. E, para muitos doentes, o estado de morto-vivo. Se-lo-a, um dia, para algum de nos?

Olhava de novo o doente, pai daqueles jovens. E pensava com toda a minha coléra e raiva se era "justo" uma vida humana se hipotecar daquela forma espectacular. O homem fora um dia um menino, com sonhos e projectos por concretizar. Era ignorante de todos os misterios insondaveis da vida humana que, mais tarde ou mais cedo, o peso e angustia do tempo que passa, fatalmente, nos traz. Poucas vezes nos atrevemos a revisitar a nossa existencia e a nos colocarmos as questoes fundamentais que gravitam em torno da aspiraçao mais universal: ser feliz. Alguma vez aquela pessoa imaginara terminar assim a sua vida? Senti-me, por momentos, e no usufruto do meu egoismo, o homem mais sortudo à face da terra. Quao melhores, talvez "bons", seriamos, de facto, se dessemos o real valor ao "taken for granted" dos nossos dias.

Muitas vezes, é a força fatal da demencia que sopra, com elegancia, os pilares ocos que nos constituem. O estado de "doença", na medida em que nos fragiliza, devolve-nos, muitas vezes, a verdadeira noçao do que é importante. Dissolve o narcissismo e a prepotencia subtil que a vida colectiva e de "copetiçao" nos imprime. Muitas vezes, sem que sequer tao pouco disso nos apercebamos. Por vezes, tarde demais. E ao olhar aquele homem, cadaver adiado que jamais voltaria a procriar, senti a minha mortalidade em todo o seu peso. Nos, médicos, temos um medo desgraçado da morte - quem nao tem? - e muitas vezes cometemos o "erro" estrondoso de conceber um acto médico isolado da carga afectiva, de "sentido", que pode significar uma mudança num rumo de vida. Ver o corpo de um doente demente putrificar-se, devorado por todas as possiveis e mais baixas co-morbilidades que se pode imaginar, é brutal. E horrivel chegar a casa e, enquanto o meu flatmate come um pessego, dizer-lhe, friamente, que uma doente morreu naquele mesmo dia depois de ter aspirado o caroço de um pessego. Adivinhem la? Sim, sofria de uma demencia e a Mae-Natureza, que felizmente nos fez mortais - aos bons e aos maus, aos corruptos e aos justos, aos egoistas e aos solidarios -, escolheu daquele modo ceifar a vida daquela mulher inocente.

Pergunto-me, por vezes, se realmente damos valor a estas coisas. Na anestesia fulminante que vivemos hoje, que tem o seu esplendor na solidao e na devassidao das conversas que gravitam nos ares de Nova Iorque e todas as grandes cidades, que tempo nos concedemos para renovar o "nosso" sentido? Ulisses, moldado por forças divinas, viajou longos anos pelos recessos do Mundo antigo à procura da sua "casa". Como bem diz Antonio Lobo Antunes, a moral da historia de Ulisses "foi ter chegado atrasado a casa".

Olhava o exterior daquele quarto triste. O vento soprava, suave, e libertava as folhas menos resistentes das arvores de Belle-Idée. Ao meu lado, aquela pessoa, que de todo desconhecia, estava ja "a caminho". E os dois adolescentes, cheios de ternura na sua expressao de perda, abraçavam-se.

Há dias fui ao dentista. Disse-me que tinha uma carie, mas que teria de escolher entre tratar isso ou fazer a limpeza dentaria que motivara a minha consulta. Pensando neste doente "demente" (e que, na realidade, podemos ser muito dementes na ausencia de demencia), com toda a frieza do Arctico, achei que aquele dentista nao tinha categoria para ser médico. E atroz que haja cada vez mais "profissionais da Medicina" e cada vez menos "profissionais na Medicina".

A coisa mais odiosa que nos pode suceder é a escolha voluntaria da "demencia" e da ignorancia de si.

Vítor Hugo
1 Nov 09

Sunday 11 October 2009

Fuga de Luanda: a única escola de música Angolana

Tive a sorte de ver este documentário no passado Sábado na RTP2

vieram-me as lágrimas aos olhos

(que benção são estas lágrimas para mim... SINTO-me finalmente)

Ouvir um piano desafinadíssimo; ver umas instalações muito precárias mas cheias de vibração humana; ouvir falar de "Romantismo" num contexto africano; ouvir o Alfredo tocar a "sonata ao luar" de Beethoven... fico sem palavras.

Mas pior são os preconceitos que os alunos, em especial as mulheres, têm de enfrentar. "Você vai estudar o quê??"

Uma delas (Domingas, 42 anos, divorciada, 5 filhos, desempregada) vivia deprimida na sua condição de mãe e esposa (a única permitida às mulheres). Encontrou nesta escola a alegria e o sentido que lhe faltava. Ao ponto de ter de se divorciar porque o marido lhe batia e ameaçava de morte por ser estudante dessa coisa estranha.

Joana diz que o seu companheiro a obrigou a escolher entre o casamento e a escola de música. Escolheu continuar os seus estudos. Quer ser a primeira mulher - baterista angolana, apesar do professor ter desaparecido a meio do ano.

A directora da escola recebe constantemente ameaças de morte pelo facto de ser mulher num cargo de chefia. É muito difícil ser-se "chefiado" por alguém que usa saias. Ela decide ir-se embora e a escola fecha.

Alfredo, que escapou ao destino de ser soldado, luta por um espaço seu na música. Ele toca Beethoven com uma dedicação e abnegação louvável. Um amor gratutito a algo que acredita e sente como único caminho possível para a sua vida.

O documentário vai mais longe e filma estes estudantes em suas casas. Ver um dos filhos a tomar banho numa bacia pequena com a ajuda de um caneco, tocou-me fundo outra vez...

É incomparável esta situação com a nossa. Sim, estão muito "atrasados" dos índices ocidentais, quer musicais, sociais, quer escolares; mas aqui tal comparação nem se põe. Esta escola é MUITO mais do que qualquer índice europeu.

É preciso resistir ao apelo fácil de considerá-los "coitadinhos". Eles são é uma FORÇA DA NATUREZA! E por isso, uma inspiração para mim.

Todas as escolas de música Portuguesas deveriam ver este documentário. Porque é fundamental não esquecer a essência da música, o seu papel na vida das pessoas. Sejam elas profissionais, estudantes, meros diletantes, amadores, melómanos ou simplesmente pessoas. É primordial nunca deixar de sentir a compreensão, a alegria e o sentido que sentímos naturalmente em criança, mas que muitas vezes se esmaga face a uma competição desenfreada onde o tudo vale.

Nesta escola vi e senti a importância da Música na vida das pessoas. Não o esqueçamos!

Teresa

Para saber mais, consultar http://www.escapefromluanda.com/about.php

Monday 14 September 2009

A velhinha de Chaves

Uns olhos húmidos me abordam
senhora com os seus 80 anos
vestida de fato domingueiro azul
cabelos muito branquinhos e limpos
dentes escassos
ruguinhas no rosto e mãos
muito bonita, uma simplicidade sóbria
mas com olhos tristes

Ouço-a
bem, na realidade não a ouço
observo-a
a sua aflição comove-me mais do que tudo
aperto-lhe as mãos e lanço um sorriso
sem nunca largar os seus olhos dos meus
ela pergunta-me
«A menina conhece Chaves?»
«Não, mas meus pais vão a Trás-dos-Montes muitas vezes comprar azeite»
o rosto logo ilumina-se
alguém conhece a sua terra
«Pois, toda a gente vai a Espanha comprar azeite. Poucos são os que compram lá»
«Os meus pais sempre compraram azeite em Chaves e Mirandela. E tenho uma grande amiga de Chaves»
o rosto ilumina-se mais ainda
«Oh, ás tantas ainda a conheço. Como se chama?»
«Melissa, é professora de piano. Mas trabalha em Vila Real»
E a conversa foi por aí fora
com o rosto mais aliviado da tensão
encontrou alguém que entendia o seu viver e a sua terra


Não aguentei ver uma senhora naquela situação
alguém que podia ser minha avó
ou uma octagenária da minha aldeia
É-me revoltante
como podemos nós - sociedade e Estado - deixar as pessoas caírem nesta situação?
pessoas que já trataram dos seus pais, do marido e dos filhos, talvez emigrados agora
quem trata delas agora? (suspiro)

Perguntei-lhe o que precisava
pouco mais de nada
dei-lhe um pouco mais
desta vez é ela quem me aperta as mãos
«Por favor, venha a Chaves»
«Não creio que o possa fazer. Apenas quero que regresse a casa tranquila»
Olha-me bem dentro de mim
aperta de forma vigorosa as minhas mãos
(como se ela fosse jovem e eu uma velha)
«Se não fosse a menina que seria de mim agora?»

Regressei ao meu café com o coração transformado
estava....FELIZ!?
Mais tarde conto de forma breve o episódio a amigos
estes põem-me céptica e triste
enfim, contos do vigário praqui e pracolá
Fiquei a pensar
Seria a história desta senhora verdade?
Raios, porque lhe disse não iria a Chaves?!
Assim tiraria as dúvidas...
Depois penso
Eu é que olhei nos seus olhos
senti a força e calor das suas mãos
vi o seu rosto transformar-se quando falou da sua terra
Foi um sentir que me impediu de lhe dizer oc costume: Não!

E porque me vêm as lágrimas aos olhos agora?
Eu tenho de Acreditar nas pessoas!!
Mesmo que tal não passe de uma farsa, o que perdi?
nada, pouco mais de nada
E se fosse verdade?
Eu não poderia correr esse risco
não me perdoaria
Eu sei o quanto nos tornamos indiferentes ao sofrimento dos Outros
eu também me tornei assim
por norma nunca dou moedinhas nem esmolas
mas hoje não consegui ser assim
eu tenho de Acreditar nas pessoas
e acreditar que há pessoas boas e verdadeiras nos seus propósitos
e que há energias que se transmitem de pessoa para pessoa
Senão...
fico seca e amarga
Eu jamais quero ser assim!!

Teresa vv

Thursday 20 August 2009

Nomadic.0910: Stories of Art and Science

Mais um evento transdisciplinar que muito me apraz divulgar, o projecto Nomadic.0910, que se inicia próximo dia 17/Setembro com uma conferência intitulada Stories of Art and Science. Somos informados pelo seu website (http://nomadic0910.wordpress.com/conferences/) que:

Nomadic.0910 is a project of multiple events exploring art and science. It is anchored on the idea of circulating on a two-way road, exploring this fundamental, reciprocal question:
  • How does science benefit when placed in artistic territories?
  • How does art benefit when it rehearses itself as science?

Duas boas questões, quanto a mim. A relação entre arte e ciência tem sido longamente debatida mas nunca como agora este território se apresenta como um espaço de possibilidades infinitas em termos de criação de novos saberes. É sem dúvida aqui que o futuro se ensaia hoje.

Este esforço de convergência entre narrativas tidas como opostas é de louvar. Tal implica o reconhecimento de que não há um conhecimento totalizante ou um saber hegemónico seja ele científico, técnico, artístico ou de outra natureza qualquer. Nós precisamos de TUDO e de TODOS!

O mundo que vivemos é altamente complexo e volátil. TUDO muda a TODO o momento. É difícil termos as "verdades absolutas" dos outros tempos. Se tal deixa as pessoas inquietas e inseguras, também pode ser trampolim para novas aventuras e experiências na nossa vida. E porque não mudar e começar de novo? Este é o desafio excitante dos dias de hoje.

Por essência sou partidária de um saber que sai da sua torre de marfim e que dialoga com o Outro. Este diálogo nem sempre é fácil mas é possível e desejável. Parece-me que é nesta direcção que a humanidade tem de seguir o seu rumo: no sentido de ser capaz de comunicar com o Outro, independentemente deste ser seu semelhante ou seu dis-semelhante.

Tvv

Esta temática toca-me de forma muito particular. Toda a minha vida vivi na tensão de ter de escolher entre o científico e o artístico (entre outras dicotomias). Em vez de idolatrar os saberes "clássicos" defendi os saberes "híbridos", com toda a incompreensão que isso acarreta, pois são os únicos capazes de criar pontes entre o Eu e o diferente de mim. Sem dúvida a minha utopia é a da união dos opostos: desafia-me, fascina-me e explica-me.

Thursday 6 August 2009

que procuro? (2)

Num dia só recebo duas notícias antagónicas
Tocam dois mundos que vivem em tensão dentro de mim Ser pragmática ou arriscar novamente?
Por onde vou seguir a minha respiração?
Uma propunha-me trabalho como professora de piano
(enfim, mais do mesmo...)
outra, uma mensagem da minha amiga Caroline Wilkins, compositora e performer
um misto de inglesa, francesa, australiana e alemã com uma energia contagiante

Caroline as instrument-woman in the Ukiyo (Moveable World) project. Photo retrieved from http://people.brunel.ac.uk/dap/ukiyo10.html.
Conheci Caroline durante um curto passeio entre dois pavilhões da Brunel University
encontro breve mas surpreendentemente empático
desabafei na altura toda a minha frustação acerca da forma como a música era entendida naquele meio académico
recebi uma compreensão incondicional desta senhora que perdura até hoje!
incrível tendo em conta que ela não me conhecia de lado nenhum
ouviu-me e isso bastou-lhe
ela percebeu logo onde eu queria chegar
(nós mulheres funcionamos muito por instintos, certo?)
Nunca mais nos vimos
mas vamos trocando impressões
e aos poucos ela vai insuflando-me novamente com a ânsia de voltar ao mundo académico
de embrenhar-me a fundo noutra aventura: a da descoberta de algo novo!
isto é fascinante, magnético, põe-me histérica de energia
eu quero fazer aquelas coisas também, damn it!
Mas depois vem o lado pragmático
eu sei que ainda não encontrei as respostas que preciso: O Quê? Como? Com Quem? Onde?
então vou alimentando-me por conferências, contactos, livros e experiências
e, claro, trabalhando

Tvv

Wednesday 22 July 2009

que procuro?

Mais do que a perfeição técnica
procuro uma intensidade e entrega
que encontro apenas em alguns artistas, pensadores e amantes

Tvv

Saturday 18 July 2009

BigBrother Rural

Passar a infância numa aldeia minhota durante os anos 80 significava habitar um Mundo povoado por mitos, ladainhas, sermões, milagres e histórias do fim do mundo
Dizia-se por exemplo
que era um perigo as raparigas irem passear para os campos de milho
tudo poderia acontecer
o "mal" e o "pecado" andavam sempre à espreita
Balelas, dizia eu
Hummm, será?!



Estava eu e a minha amiga de longa data num bucólico passeio pelas terras verdejantes do Verde Minho
tentando encontrar os locais pertencentes à nossa infância
procurando um refúgio para uma conversa mais íntima
para uma partilha de segredos e degredos da vida
quando
.....tcham, tcham, tcham......
alguém nos espreita e mede a presença


"Que estão aquelas moçoilas aqui a fazer? Quem serão? Humm..."
Após sabe-se lá que pensamentos decide aproximar-se das moças
a conversa surge e desvenda-se o mistério
"É apenas a filha do Daniel e do Doutor?!
Há tantos anos que não as via
Tava eu em casa quando vi duas damas a passar
Disse prá minha mulher, olha, vou pró campo regar o milho
Mas é melhor vires lá depressa"
(É que um hóme é sempre um hóme)

Ordem cumprida a preceito
minutos depois apareceu a mulher
(não fosse o diabo tecê-las)
e após as devidas apresentações e explicações
lá se foram os dois embora

Foi divertido, claro
Mas penso, será que não há privacidade em lado nenhum?
O BigBrother, a video-vigilância e sei lá mais o quê, já chegou aos campos de milho?
Não podemos fumar um charrito à vontade?
Não podemos perder-nos num fim do Mundo qualquer só pelo prazer de estarmos PERDIDAS e DESNORTEADAS por alguns minutos?
Ou ter uma conversa mais mais mais mais...
(imaginem o que quiserem
A perversidade está na vossa imaginação
não na minha)

Ginha no País das Maravilhas

Ps. Fotos da minha amiga Sofia

Wednesday 15 July 2009

Pós «Pitié!» de Ballets C. de la B.

A semana passada tirei a barriga de misérias
E fui ao DANCEM'09 ver a companhia de dança belga C. de la B.
Foi um soco na barriga
mas não uma congestão!!




"Mas o que é isto?" pensámos nós, meros mortais
vemos coisas que gostámos, outras odiámos, outras extasiam-nos, outras magoam-nos
é visceral, vai aos limites de tudo, da dança, dos corpos, do Belo, do movimento
sempre com boa música...
gostei do diálogo entre J. S. Bach e a contemporaneidade pelo talento de Fabrizio Cassol
a música e as palavras ditas ao "microfone-confessionário" entrelaçam tudo num todo
saí com os meus sentidos intoxicados, saturados, ultra-
estimulados
por isso Adorei!!


É que para andar dentro dos limites, ando eu todos os dias
para ver coisas bonitinhas, politicamente correctas ou uma sensualidade enlatada
não preciso de ir ao teatro
Eu quero é algo que me toque FUNDO
me tire da apatia da vida quotidiana
quero uma arte que rasgue, que ouse, que arrisque uma sincera loucura
Arte que me olhe de frente
e de olhos nos olhos me mostre algo forte
Esta companhia desafiou-me
E é assim que eu gosto de ser tratada

Tvv


Tuesday 14 July 2009

Ensinar-te o QUÊ e COMO?!

Acabo de ser acordada pelo telefone
Alguém me pede num estado desesperado
para lhe ensinar a conquistar a liberdade e o prazer que encontrou no meu último video
e que sente que o perdeu algures no tempo
Ensinar-lhe o QUÊ e COMO?
Que livros? Que técnicas?
Como posso adaptar as minhas construções a outra pessoa?
Pensando nestas e noutras questões
verifico, com satisfação claro, o quanto já andei
e o quão distante estou dos formalismos e convenções associadas à música

Onde tudo começou?
Nos sons de George Crumb
ouvi-os e disse para mim própria "é isto o que eu quero tocar! Senão prefiro tocar nada"
Qual a minha primeira performance?
Troquei de casaco (!?) entre duas peças
precisava de mudar de identidade e fí-lo assim
o impacto no público foi ENORME!!!
Quais as minhas "técnicas"?
Estudo OUTRAS áreas para além de música
sejam elas performativas ou não
e interligo TUDO à música
O que leio?
Leio sobre TUDO
eu consigo cruzar TUDO com a música
consigo pensar sobre música lendo rigorosamente NADA sobre ela
tentei simplesmente responder às minhas questões
fossem elas sobre o estado do mundo actual (pósmodernismo), sobre a transcendência do ser humano (ritual, visceral, expressionismo) ou inquirindo acerca da necessidade da música nos indivíduos e sociedade actual
Quais as minhas referências performativas?
Desculpem-me a minha "anormalidade"
mas cansei-me de estudar música de uma forma tecnicista e fechada em si própria
simplesmente porque tanto conhecimento técnico, tanta análise, tanta veneração aos GRANDES mitos da música europeia
quase me fez perder o prazer que sentia antes por uma simples audição
quase assassinei aquele prazer de criança pelas coisas simples
aquele prazer de não pensar muito
e simplesmente FAZER porque sim
pelo prazer em si mesmo
Além disso sentía-me separada do Mundo
habitava uma torre de marfim acessível só aos entendedores da "grande música"
em vez de privilegiada sentí-me num gueto elitista?!
Então, decidi partir
fui à procura de contactos, empatias, contaminações, saberes
à procura de uma forma de expressão que fosse capaz de me exprimir com naturalidade
em ligação com o mundo que me rodeia, atento às suas interrogações e inquietações
Daí que as minhas referências venham essencialmente da dança, do teatro e da performance
aqui encontrei uma liberdade, uma ousadia e um contexto para experimentar novas formas de fruição estética
encontrei o arrepio, a compreensão, a loucura, o prazer, a facilidade e a naturalidade de mim

Segui o caminho de alguém que não se acomodou ao pré-estabelecido
de alguém que procurou a sua expressão singular
independentemente do que é suposto "ser-se"
e tenho esta ânsia de partilhar as minhas conquistas com o Outro
de propor uma nova forma de se pensar e fazer música
Por isso vou a conferências, escrevo, publico as minhas ideias sempre que posso
dou a cara: falo, toco, canto...

Se inspiro alguém a querer mudar o seu rumo
ou a pensar de uma forma diferente a música ou a Vida
é simplesmente MARAVILHOSO!!

Teresa

Friday 10 July 2009

Amin Maalouf: para compreender o Mundo de hoje

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1391201&idCanal=14

Acerca da entrevista a Amin Maalouf ao Público, escritor libanês residente em França
Pessoa com uma visão clara dos dois mundos, o do Ocidente e o Àrabe
Alguém que tenta compreender historicamente as tensas relações entre eles
Compreender para depois fazer pontes, encontrar pontos de diálogo entre velhos "inimigos"

Toda a colonização foi, e continua a ser, desigual
Envolveu dominação e opressão por parte do mais forte pelo mais fraco (militarmente falando)
Mas esqueceram-se que tudo o que fazemos pode ter forte impacto nos outros e o 11 de Setembro foi o reverso dessa luta
Quem é líder do que quer que seja tem de ter presente uma coisa
liderar é ter uma responsabilidade perante os Outros
Os líderes deveriam ser exemplos, modelos a seguir e não déspotas ou egoístas
Infelizmente raros são os líderes que têm este sentido de missão...

Respeito Cultural
Ninguém quer ser desrespeitado, dominado e oprimido
ninguém quer que a sua cultura (língua, formas de estar e de pensar, tradições, religião, etc.) seja ignorada e tida como tribal e obsoleta
Daí que Amin apresente como "solução" para o mundo de hoje a edificação de uma única civilização - uma civilização capaz de englobar todas as micro e macro-culturas que pululam por esse mundo fora

É uma atitude contra qualquer bloco ou poder central
Contra qualquer hegemonia ou forma totalizante
O mundo de hoje faz-se de mesclas, de misturas, de vivências com todo o género de tribos e estilos de vida
O futuro TEM de seguir o rumo da integração do Outro
Simplesmente porque não há outra alternativa ao futuro

Crise: será tudo mau?
E isto lembra-me muitas outras coisas
Por exemplo, o facto de estarmos a viver uma CRISE
Para mim não é mais do que o colapso de um sistema económico que não tinha em conta os recursos limitados da Terra, nem o bem-estar das pessoas
A queda de um sistema que se alimentava do lucro fácil e não sustentado de uma minoria, face à opressão dos interesses da esmagadora maioria das pessoas
Algum dia isto teria de PARAR!
Chegou esse momento, parece-me (graças a Deus!)

As crises são momentos de mudança, de criatividade, de procura de novas soluções
São reacções naturais contra a estagnação e soluções instaladas
Chegou a hora de alimentarmos o nosso espírito criativo e empreendedor e meter mãos à obra
É hora de pararmos, olharmos à nossa volta e perguntarmo-nos «por onde devo seguir? que devo fazer?»
É hora de arriscarmos novos caminhos, até aqui banidos ou desvalorizados
E tal passa por respeitar mais o planeta e as pessoas, com todas as suas diferenças e diversidades
Passa pelo despertar das novas gerações para o ecológico, a cidadania, o respeito multicultural e para consciência do papel activo de cada um face a um sistema colectivo

Não me esqueço de ter sido veementemente repreendida por uma criança de 3 anos pelo facto de estar a juntar todo o lixo num mesmo recipiente
Onde está o Teu ecoponto? disse-me ela
Não soube o que responder...
Envergonhei-me da minha atitude negligente e aprendi uma lição
Com crianças assim pode ser que o Futuro, afinal de contas, não esteja perdido

Tvv

Tuesday 7 July 2009

Obrigada, Pina...

Uma semana após a morte de Pina Bausch, a minha musa, recordo palavras que escrevi num post antigo sobre a razão da minha admiração incondicional (algo raro em mim!) a esta coreógrafa.

«Consegui!!! Consegui comprar um bilhete para ver finalmente ao vivo a companhia da Pina Bausch, a Wuppertal Tanztheatre, em duas criações emblemáticas: «A Sagração da Primavera» e o «Café Muller». Após tantos anos de espera...



O trabalho da Pina Bausch é uma inspiração para mim.

Porque o que conta são as pessoas. Somos nós. As suas histórias são as nossas histórias. Vemos abraços, encontros, desencontros, alienação e a procura desesperada de um sentido no meio do caos. Pina fez-me tomar consciência de que toda a criação artística é uma metáfora da Vida, onde o passado se cruza com o presente. E talvez com o futuro...

Porque a sua matéria-prima são as emoções. São as nossas emoções. No ‘Café Muller’ há uma distância brutal entre todas as personagens; elas nunca se encontram… é-me muito perturbador. Duas delas estão absorvidas num abraço inerte. São ausentes, anestesiadas, talvez oníricas; há a mulher solitária. Nervosa, perdida em gestos indecisos. Ela procura e procura, mas não sabe o quê, onde nem porquê; e depois o 'waiter', a personagem mais real no meio de personagens isoladas no seu mundo. O rapaz que procura em vão compor o mundo através das cadeiras e dos abraços. Eu pergunto, no meio destas personagens onde estamos nós? Somos aqueles dois seres que se abraçam como que fugindo ao que os rodeia? Ou aquela mulher perturbada, perdida em si própria? Ou aquele ser que procura desesperadamente pôr ordem nas cadeiras do café? Não fomos todos já um pouco destas personagens? Sim, a distância entre elas é tremendamente perturbadora. E é nesta distância ou tensão que eu quero trabalhar.

Porque os seus bailarinos estão longe dos padrões de beleza e de performance física que nos são apresentados a todo o momento pela TV e media em geral. Os seus bailarinos são pessoas como nós. Os seus corpos também envelhecem, ganham rugas e marcas com o tempo. Pina B. sabe que um corpo sem marcas é um corpo sem histórias; é um corpo incapaz de uma expressão inteira. Por isso ela não trabalha com belezas plásticas e rígidas; ela trabalha com pessoas como nós. Com corpos que sentem como os nossos. E o sentir forte não é apanágio da juventude. É apanágio do ser humano;

Pina B. é uma pessoa que se atrapalha com as palavras. Não é através delas que melhor se exprime. É pelos gestos das suas mãos. É aí que tudo começa. Tudo o que nos é apresentado um dia como grande e sofisticado, começou por uma pequena pergunta ou por um movimento não pensado. Mais uma vez, a importância das coisas sem importância...

Por tudo isto e muito mais, ela me inspira.

Teresa»

PS. Música de Purcell. Liiiiiinda!!!!



Friday 3 July 2009

LUSO2009 (Londres)



Estive (virtualmente!) no LUSO2009 - 3º Encontro de Estudantes e Investigadores no Reino Unido (http://luso2009.pt.vu/). Apresentei o meu trabalho através deste video, realizado em Maio passado no PERFORMA'09. Gosto do resultado.

Teresa VV

Processos Criativos II

Hoje pela estrada e autoestrada fora visualizei-me mais uma vez no futuro
E percebi o que tenho de fazer no meu próximo trabalho em cena
Partindo do que vi e experimentei em Glasgow
Vou ser REAL e falar.... de mim,
Falar na primeira pessoa de onde vim os meus obstáculos e como me fiz mulher
Mas é CLARO!! É isto o que tenho de fazer!!
Isto é "live art" no seu sentido mais puro

Agora o problema é: o que vou dizer?! e como o vou dizer?!
Sei que terei de ser crua sem pudores não-sentimental
terei de revelar datas e factos que vão incomodar a minha família
Mas para mim serão apenas datas e factos
que me moldaram de alguma forma na Mulher que sou hoje

Isto vai exigir muita coragem da minha parte
Terei de jogar entre o real e o teatral
contarei a verdade mas parecerá ficção
o Real parecerá Irreal
Tem de ser assim
Porque é assim que quero
apresentar-me como Mulher

Porque o tema é exactamente o "Feminismo"

Teresa VV


PS. Ufa, menos um problema para resolver. Isto de conduzir 2h por dia é maravilhoso! São nestes momentos, quando estou sozinha e com a sensação de dever cumprido, que resolvo estes e outros problemas.

Saturday 27 June 2009

Video: (more than) A Musical Performance, part 2

Another excerpt of (more than) A Musical Performance's event, created as part of my Master in Contemporary Music. Performed in May 2008 at the Brunel University, this composition from Joel Bell mixtures written parts with improvisation and electronics.

Hope you enjoy it!

Teresa vv

Thursday 25 June 2009

Vidas Duplas? É a Minha

Ainda exausta
tomo cafés
durmo muitas horas
e sinto o corpo recuperar aos poucos do cansaço

realmente isto de se dar a cara quando mostramos o nosso trabalho tem os seus custos
nunca posso ser mediana
nunca posso poupar energia
tenho sempre de jogar nos limites

Nunca poderia fazer o que mais gosto de fazer
todos os dias
nem todas as semanas
nem todos os meses
não teria equilibrio
seria, paradoxalmente, INFELIZ!

não lamento nada ter uma "vida dupla"
ou seja, ter de trabalhar numa coisa para financiar a outra
(mas isso é o que TODOS nós fazemos
trabalhamos para financiar os nossos prazeres e loucuras!)

eu não quero ser "performer" todo o tempo
só às vezes
só pontualmente
eu preciso de ter uma vidinha "normal"
sem grandes excitações ou chatices
com rotinas e rituais familiares
com idas ao supermercado e à peixaria
com cafés com amigos
com banalidades

mas CLARO também com espaços para pensar
espaços para duvidar de tudo
e imaginar impossíveis possíveis

uso cada momento performativo
para me transcender
para transcender toda a minha vida pacata e banal
é assim que encontro o meu equilíbrio
depois vem a exaustão inevitável

Quando vejo olhos a brilhar
palavras sempre insuficientes
sempre atrapanhadas, incoerentes e incapazes de descrever toda a emoção
digo "valeu a pena"

esqueço toda a tensão das últimas semanas (e momentos antes do "é agora Teresa")
as horas de improvisação à procura de algo que "faça sentido"
as noites mal dormidas
a impaciência para cozinhar e saborear a comida
a expressão sempre preocupada do rosto
a voz cansada
todo este esforço condensa-se, gasta-se, queima-se em segundos
muito intensos
que me transcendem (e aos outros se possível)

por tudo isto
a Arte tem de ser paga e valorizada como qualquer outra actividade profissional
apesar de não gerar bens ou objectos consumíveis
mas gera momentos de sonho e transcendência
despoleta o inexprimível e a profundidade de nós
e assim percebemos o que significa REALMENTE
ser-se HuMaNo

Teresa vv

PS. Crónica a propósito de uma reportagem da SIC, emitida ontem, intitulada "vidas duplas", referindo-se aos artistas que têm duas profissões (Kátia Guerreiro e Adolfo L. Canibal, como exemplos); bem como ao facto de ser comum as pessoas pensarem que há profissões que devem ser pagas e outras que naturalmente não devem ser pagas. Porque nada geram...

Para mim, não há diferenças entre ser-se professor, economista, médico, sapateiro, político, músico ou palhaço. Todos precisamos de Todos e Todos prestamos um serviço que deve ser pago. Mais, não tenho pudor em me apresentar como artista ou "performer", que entendo como uma das minhas facetas, pois sou realmente "fazedora" de algo, tal como os "artesãos" o são. Não sou fazedora de objectos, mas de momentos e, quem sabe, de arrepios. Deixei de ter vergonha!

Tuesday 9 June 2009

Teresa on Piano: a documentary film (2007)

«Teresa on piano» is a documentary film that I did shortly after arriving in UK for the first time, in October 2007. It was made by my dear friend Liang -Hui Chang (Taiwan) who draws a connection between my profile as a pianist and autobiography. It was recorded and shown at the Brunel University (West London), in November 2007. Music from Pedro M. Santos and George Crumb.

«Teresa on piano» é um pequeno filme documentário realizado pela minha querida amiga Liang - Hui Chang de Taiwan. Executado pouco tempo após a minha chegada ao Reino Unido pela primeira vez (daí o meu parco inglês...) ele tenta estabelecer uma na ligação entre o meu estilo pianístico e factos autobiográficos. Foi gravado e exibido na Brunel University em Novembro de 2007. As músicas são dos compositores Pedro M. Santos e G. Crumb.

Tvv


Monday 25 May 2009

Processos Criativos I: Corpo Livre - Livro Corpo

A minha próxima apresentação será na Faculdade de Belas-Artes no dia 22 de Junho (22h) onde vou integrar um evento performativo que alia a dança, música e texto.
Que vou fazer!?
Ainda não sei
Experimentei hoje algo a nível vocal e corporal
Interessa-me a ligação entre o som e o gesto
gosto de desconstruir a pureza do som através de oscilações do corpo
gosto da distorção da afinação pura (desculpem-me o pecado musical!?)
gosto de desconstrução do belo convencional para criar outro Belo

Acho que a minha inspiração vai ser Meredith Monk
os seus "não sons", "não palavras"
sempre aliada à procura de uma nova percepção da realidade
Esta é a minha inspiração agora




Tvv

Edgar Morin & Laurie Anderson

«O filósofo e sociólogo Edgar Morin, que hoje participa em Viseu num colóquio sobre Educação promovido pelo Instituto Piaget, defende uma "reforma radical" do modelo de ensino nas universidades e escolas, salientando a necessidade de acabar com a 'hiperespecialização'.

"Temos a necessidade de reformar radicalmente o actual modelo de ensino nas universidades e escolas secundárias. Porquê? Porque actualmente o conhecimento está desintegrado em fragmentos disjuntos no interior das disciplinas, que não estão interligadas entre si e entre as quais não existe diálogo", sublinha, em entrevista à Lusa. O filósofo francês considera que o modelo actual leva a "negligenciar a formação integral e não prepara os alunos para mais tarde enfrentarem o imprevisto e a mudança".

Edgar Morin, de 88 anos, critica, por exemplo, que nas escolas e universidades "não exista um ensino sobre o próprio saber", ou seja, sobre "os enganos, ilusões e erros que partem do próprio conhecimento", defendendo a necessidade de criar "cursos de conhecimento sobre o próprio conhecimento". Lamenta, igualmente, que a "condição humana esteja totalmente ausente" do ensino: "Perguntas como 'o que significa ser humano?' não são ensinadas", critica.

Por outro lado, acredita que a "excessiva especialização" no ensino e nas profissões produz "um conhecimento incapaz de gerar uma visão global da realidade", uma ‘inteligência cega’". "Conhecer apenas fragmentos desagregados da realidade faz de nós cegos e impede-nos de enfrentar e compreender problemas fundamentais do nosso mundo enquanto humanos e cidadãos, e isto é uma ameaça para a nossa sobrevivência", defende.

"Está demonstrado que a capacidade de tratar bem os problemas gerais favorece a resolução de problemas específicos", garante Morin, lembrando que a maioria dos grandes cientistas do século XX, como Einstein ou Eisenberg, "além de especialistas, tinham uma grande cultura filosófica e literária".

"Um bom cientista é alguém que procura ideias de outros campos do conhecimento para fecundar a sua disciplina", afirma, sublinhando que "todos os grandes descobrimentos se fazem nas fronteiras das disciplinas". Garante também que "apesar de em muitas universidades norte-americanas existir maior flexibilidade no que toca ao modelo ensino", nos Estados Unidos existe o "mesmo problema que na Europa". »

Texto retirado de : http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=31878&op=all


Não conhecia as ideias de Edgar Morin mas após leitura deste texto fiquei bastante curiosa de conhecer o seu pensamento, que parece ser tão radical quanto urgente nos tempos actuais. Igualmente sou avessa ao "conhecimento hiper-especializado", por múltiplas razões que nem vale a pena citar, mas sempre pensei ser uma questão de âmbito pessoal, não geral. Esta crença cega nos especialistas ("aqueles que vão resolver todos os nossos problemas") sempre me fez arrepiar...

Claro que todos nós precisamos de nos focarmos em algo, de nos especializarmos nalguma coisa, mas o perigo acontece quando nos tornamo-nos parte de um "clube" fechado que segue a lógica do "nós é que sabemos resolver os problemas das pessoas, logo, nós é que somos realmente importantes no mundo. Os outros não interessam". É preciso, dentro da nossa especialidade, pôr as antenas viradas para fora no sentido de establecer ligações ao que nos rodeia. Talvez daqui venha o meu fascínio pela filosofia, que sempre vi como a disciplina capaz de ligar os múltiplos fragmentos numa unidade mais ou menos coesa. É a filosofia que me dá noção do todo. Ela aborda o conhecimento científico, social, artístico, técnico, virtual, psicológico, etc., num único discurso. Cria a síntese.

Bem a propósito, o último trabalho de Laurie Anderson (Homeland, que vi o ano passado no Barbican) ironiza entre outras coisas esta cultura de idolatria dos "experts". A letra desta "canção falada" é magnífica! Ouçam com atenção, porque "only an expert can deal with the problem"...




Ela é realmente a "21st troubadour", como disse há uns meses atrás a jornalista americana Joy Goodwin (New York Sun).

Tvv

Friday 22 May 2009

Gosto de ser descoberta


Gosto de ser descoberta
Sei que isso é raro
É demasiado bom

Por princípio, não fico à espera que "me descubram"
Eu procuro o meu caminho
Independentemente das Modas e dos Outros
Eu crio o meu próprio espaço
Sigo o meu instinto
Auto motivação não me falta
Gosto de descobrir coisas
Tenho prazer nesta procura

E depois
muito tempo depois
estruturo o caos
e
mostro a minha visão do Mundo
ao Mundo
Então
Descobrem-me

E quando me dão toda a liberdade criativa
Para fazer "o que eu quiser" num evento
Que mais posso eu querer?
Fico feliz
Estou feliz
É assim que me sinto neste momento
A ser descoberta
A ser imediatamente agarrada

Mas isto vem de um longo percurso
De uma persistência que me surpreende
Não desisti da minha paixão visceral pela música
Não deixei que me "apagassem"
Não desisti de mim
Repito,
Eu não desisti
Atrevi

Tvv


Thursday 7 May 2009

A 'Round Midnight Performance at PERFORMA'09



Music or Performance? That is the question

At PERFORMA'09 I will make a short performance around the Thelonious Monk tune 'Round Midnight. I will explore the body and theatricality in a musical event. So, it will involve live lighting, improvised (or choreographed) music, as well as excerpts of George Crumb’s "A Little Midnight Music" (2001), also based on the same tune.

Then I will get inside «Performance Studies» to understand what a performance is and in which ways music-making can be a performance. By promoting cross-fertilization between a diversity of arts and theories I expect to draw an alternative way to think, make, and engage with music; a way that comes in line with the more contemporary artistic scene and theory. Eventually, this reflection can contribute to integrate music in the current debate inside Performance Studies, for which is still very residual.

Venue: University of Aveiro, May 15, from 10 till 11 a.m. (I know! It's too early to make a midnight performance!!)

Tvv

For more details, please check conference's website: http://performa.web.ua.pt/


Thursday 30 April 2009

World Digital Library

Cá está mais uma maravilha cibernética.
A World Digital Library: http://www.wdl.org/en/



Uma biblioteca global acessível a todos, em todas as línguas, onde encontro mapas do século 18 do "Kingdom of Algarve" (é assim que é referido no site) ou um livro sobre as "possessões" lusas na Oceania, de Affonso de Castro (1867).

Curioso também um livro chinês sobre as cerimónias relacionadas com o Amor e Romance, escrito em lígua Naxi (nunca ouvi tal!), apenas usado em rituais shamanísticos. Bem, só tem duas páginas muito ilustradas com animais e pássaros. Lamento mas isto não é o Kama Sutra chinês.

Para já tem essencialmente documentos históricos, normalmente pouco acessíveis ao público.
Fica aqui o registo desta biblioteca online recentemente "aberta" ao público (tem 9 dias de vida).

Tvv

PS. Notícia da Ípsilon acedida hoje: http://ipsilon.publico.pt/livros/texto.aspx?id=228510

Tuesday 28 April 2009

Lá para o fim, apresento-vos Stelarc

Hoje quero escrever algo
Ainda não sei bem o quê
Algo vindo do nada
Sem razão aparente
E não me apetece ser correcta com a pontuação do texto
Estou numa irreverência juvenil

A foto nada tem haver com o meu pensamento
Apetece-me simplesmente partilhar imagens
Imagens que ando a recolher sobre Live Art
Imagens que gosto
Esta é de uma coreografia da Pina Bausch
Pungente e lírica
Cores fortes e apaixonadas
Foto acústica

Agora algo que não tem nada a ver
O meu percurso auditivo

  • Em criança quando me pediam para cantar cantarolava "Sobe, sobe balão sobe" da Manuela Bravo acabadinha de ganhar o festival da canção

  • Logo a seguir comecei a cantar em inglês com os ABBA. Conheci todo o seu repertório e chorei quando eles terminaram

  • Depois a pirosada dos anos 80. Ouvia a música pop do momento. Consumia e deitava fora. Nada ficou dentro de mim. Excepto o "Não há estrelas no céu" do Rui Veloso que me acompanhou Verões sem fim na praia deserta da Apúlia

  • Com os 17 ou 18 anos descubro os decibéis do rock dos anos loucos (60/70s) através dos Led Zeppelin. Nada de Stones, ou Beatles ou Pink Floyd. Apenas Led Zeppelin, não sei porquê...

  • Anos mais tarde, já na faculdade e com 19 anos, reconciliei-me com o Piano (o meu segredo de adolescente!) e ouço obsessivamente a Antena 2. Ganhei uma base sólida do repertório clássico que me tem acompanhado até hoje. Enquanto estudava reacções metabólicas, mecanismos de regulação enzimática e técnicas de manipulação genética, ouvia sinfonias, trios de câmara, música barroca, ópera, canção francesa e todo o repertório para piano (claro)

  • Já na ESMAE ouço mais do Canon da música erudita Europeia; interesso-me pela tradição mais recente da música e descubro Ligeti, Crumb, Stokhausen e... o Jazz!! Um jazz bem docinho - o contraponto necessário a tanta vanguarda de sons

  • E, como não tenho mais paciência, salto para os anos mais recentes onde perdi todas as inibições auditivas que ainda restavam e ouço sonoridades electrónicas, o exotismo das músicas do Mundo, o free jazz, as fusões da música erudita com a popular (tipo Fredric Rzewski), o universo peculiar do Tom Waits (que me acompanhou em toda a jornada inglesa), a voz hipnótica de Laurie Anderson, o experimentalismo dos sons da vanguarda, o regresso ao universo pop, o flamenco, o fado...ouço TUDO, TUDO!
Isto para dizer o quê?
Que vou renovando os sons que me rodeiam
Cada um deles me traz memórias de sabores, experiências, certezas e ingenuidades
Eu gosto de cada um desses momentos mas preciso de me renovar CONSTANTEMENTE
Preciso de procurar o som que me define nesse momento
Aquele que me explica e me compreende
A minha relação mais séria da vida estão nestes sons
Sempre em des-sintonia uns com os outros

Ser-me-ia impossível viver agarrada de forma dogmática ou cega a um som apenas
A renovação, a procura constante de algo novo, é o que me sustenta o ânimo e alegria de viver
Por isso, é-me incompreensível ver o quanto as pessoas se agarram ao passado, sem nunca o largarem
Parece que têm medo de trair os seus sonhos da sua juventude
E lá vão ouvindo sempre, sempre, sempre, e mais uma vez, as mesmas melodias e sonoridades
Obviamente não há nada de mal nisto
Apenas é um sinal do quanto as pessoas se sentem inseguras do presente e têm medo de arriscar
E isso é o que EU não quero

(Como vêm
Eu uso SEMPRE a música para me compreender e aos Outros)

Comecei com uma foto acústica
Termino com uma foto fortemente ruidosa
Apresento-vos Stelarc, o "live artist" australiano que conheci na Brunel, cujo trabalho se centra na convicção de que o corpo humano é "obsoleto"



Para ele, o corpo já deu o que tinha a dar
As suas capacidades já foram exploradas ao limite em todas as áreas: físicas, cognitivas, psicológicas e sociais
Além disso, o corpo não é perfeito nem eficiente
Cansa-se rapidamente, apanha doenças, tem limites de sobrevivência muito apertados
Resta ampliá-lo ou dotá-lo de novas capacidades através de prostéticos quer tecnológicos, virtuais ou biológicos

Aqui, ele apresenta o seu terceiro braço
Na Brunel, apresentou o seu ouvido-extra que "construiu" biologicamente no seu braço esquerdo
Ele redesenha o seu corpo e cria um ser híbrido
Explora a interface humano-tecnológica de forma REAL
Porque o corpo é "obsoleto"

Sei que parece estranho tudo isto
Também o foi para mim, mas já não o é
Ele fez-me pensar nos limites do corpo humano
E eu gosto de ser desafiada
Obviamente não estou com vontade de testar "prostetesias" (inventei esta palavra agora) deste tipo em mim
Continuo a ser alguém fundamentalmente acústico

Teresa vv

PS1. Raios, eu que queria escrever algo curtinho...

PS2: Para saber mais sobre Stelarc: http://www.stelarc.va.com.au/
E um video que encontrei do Stelarc com o seu terceiro braço, num video dos Queen.


Thursday 9 April 2009

Unbound & Franko B


Cá está uma loja online para os interessados em publicações e artefactos relacionados com Live Art: teatro experimental, body art, performance digital, história e teoria da Performance. Podem encontrar livros, DVDs, bem como edições limitadas, e os preços variam entre as 10£ e as 500£. Este último valor refere-se a uma edição limitada de um livro de Franko B feito para o 10º aniversário da Live Art Development Agency.
Este italiano, radicado em Londres há três décadas, é dos artistas mais em voga no mundo da Live Art. TODA a gente quer fazer workshops com ele! Ele é que é!
Investiguei um bocadinho sobre o seu trabalho e o que me saltou mais à vista foram os títulos dos seus projectos. Pararam a minha respiração..

Oh Lover Boy (2001)
I Miss You!
I'm Thinking of You (2009)
Blinded by Love

Meu Deus, que homem mais intenso! Só poderia ser latino (e muito gay)!

Tvv

Sunday 5 April 2009

Comédias do Minho, conhecem?

Pois, eu também não conhecia. Mas pelos vistos esta companhia profissional de teatro já existe há alguns anos e resulta de um esforço conjunto de cinco autarquias do Alto Minho para criarem uma companhia próxima das suas terras e tradições. Um teatro para as pessoas que nunca foram ao Teatro. Esta companhia apresentou este fim de semana um programa ousado e fisicamente muito exigente, tanto para actores/produtores como para o público. Incluiu cinco apresentações, cada uma com duração aproximada de duas horas (acreditem, o tempo passou a voar...), em locais recônditos do Alto Minho que se tornaram em espaços de excelência dramática: uma mercearia e ermida na freguesia de Lara/Monção, uma casa rural na freguesia de Parada do Monte/Melgaço e outra casa antiga na freguesia do Bico/Paredes de Coura. (Houve mais, mas eu não assisti a tudo, infelizmente.) Terras todas elas aqui tão perto e simultâneamente tão distantes de nós.

Fui um pouco por acaso. Sem saber exactamente ao que ia, pois não gosto de saber tudo em antecipação, deixei-me levar pelos amigos e fui para terras nortenhas. Dou por mim a reviver memórias cheiros, sabores, pessoas, paisagens, lendas e histórias de tempos antigos que, afinal de contas, também fazem parte de mim. Apesar de não ter pensado muito sobre isto, confesso que temia ver algo brejeiro e/ou paternalista sobre os hábitos, cultura, saberes e estilos de vida minhotos, muitas vezes tão rudes e cruéis para pessoas fora deste contexto geográfico. Verifiquei surpreendida (e agradecida!) que me enganei. Através dos pequenos momentos performativos vi que os encenadores/actores souberam deixar para trás o seu olhar enviesado de quem é "gente da cidade, cosmopolita e civilizada" para olharam de frente nos olhos daquelas pessoas, tão cheios de sonhos e de expectativas como os de qualquer um de nós. As suas histórias e memórias tornaram-se numa valiosa matéria-prima para a criação de momentos de magia, de comicidade, de poesia física e metafísica, com que brindaram todos os sentidos dos espectadores (por vezes actores também).


Ouvi histórias simultaneamente arrebatadoras e cruéis como a de Clotilde que envelhece sozinha junto à maquina de costura, rodeada de lágrimas e suspiros resignados, esperando em vão pelo regresso do seu marido emigrante; ou a história pungente de um touro perdido, apavorado e humilhado pelo destino;

Recordei o cheiro das casas antigas, aquecidas pelo bafo dos animais no rés-do-chão, com mobiliário simples mas sempre ornadas com rendas e panos de linho, para dar um toque de beleza cuidada;

Degustei o sabor honesto de um sopa feita com a couve mais 'grosseira' que há, a couve galega;

Relembro o regresso dos "francius" durante o Verão, sempre com os seus histerismos e falas mestiçadas;

Ouvi Roberto Leal, o grande animador dos bailes em honra da Nossa Senhora disto e daquilo;

Enterneço com a solidão resignada e beleza calma da Sr.ª Esmeralda, cujos os sonhos de criança ainda hoje persistem aos 80 anos;

Ouço os pregões, as premonições sombrias do Sr. Padre;

Ginastico o corpo através da mestria de quem sabe, ou seja, do sr. Hipólito (?), cujo sustento da famila depende do seu vigor;

Ouço o som rouco da caneta no papel rude e as palavras sussurradas de alguém sôfrego de notícias de um ente querido;

Inundo os meus ouvidos com os sons do grupo coral e das concertinas, onde o sagrado e profano se misturam num convívio tão íntimo quanto exemplar;

Revejo o a velha mercearia da aldeia onde, tal como de confessionário se tratasse, as pessoas contam as suas histórias de (des)amor e onde se vejo produtos que não existem nos supermercados;

Mais o velho aldeão que tenta apaziguar os corações dos doentes de amor...

E muito mais...

Tudo isto eu também vivi. E sinto-me enternecida por me trazerem, de forma tão sensível e sensitiva, um tempo que já passou: a minha infância. Um tempo igualmente recheado de lendas, mitos, sonhos e de quatro estações bem distintas. Claro que tudo isto ainda está presente na pessoa que sou hoje. Viver é recriar, transformar e contaminar o passado com as novidades do presente. Apesar de muito ter mudado no espaço de uma geração, eu persisto, tal como estes encenadores e actores, em construir uma ponte de afecto, de compreensão, de carinho entre as formas de viver do passado e do presente. Porque o futuro faz-se assim.


Tvv

Mais informações sobre esta companhia de teatro pesquisar o blog http://www.comediasdominho.blogspot.com/

Friday 27 March 2009

Parabéns, Eduarda!

Esta semana não me foi nada fácil. Tive tomar algumas decisões que irão ter um forte impacto na minha vida. Parece que tenho de começar tudo de novo e faltam-me as forças... estava a precisar de um abanão para reagir. Depois de ler esta notícia, fiquei mais animada.


Resumidamente, diz a notícia do Expresso que a Eduarda Melo, cantora e minha colega do curso de música, vai estar hoje em Paris no Théatre Châtelet a interpretar uma das personagens da ópera "As fadas" de Richard Wagner. O convite veio na sequência de várias audições que fez em França para directores e Teatros. Pelos vistos sentiu que em Portugal as coisas estavam um pouco difíceis e foi admitida no Centro Nacional de Artistas Líricos em Marselha. O que mais gostei foram estas palavras, que passo a citar do artigo do Expresso de hoje:

«Considerando que Portugal "neste momento está um bocadinho difícil para uma maior realização profissional e conseguir outra projecção", Eduarda Melo sugere aos cantores portugueses que tentem fazer audições "cá fora, que há muito mais oportunidades, independentemente de continuar a cantar em Portugal."»

Estava a precisar de ouvir isto. Obrigada, Eduarda, e parabéns!

TVV

Wednesday 25 March 2009

Sobre o Twitter e outras ciber-necessidades

Eis um link para perceber isto do Twitter, algo que para mim é uma novidade.

http://tvig.ig.com.br/88865/twitter-e-privacidade.htm

Com algum espanto verifico que já existe um canal Twitter Portugal! (Nestas coisas cibernéticas ninguém perde tempo...) Se entendi bem, as pessoas respondem a uma simples pergunta: o que estás a fazer neste momento? As respostas vão para o canal Twitter da net e todos passamos a saber da vida particular de todos. Isto já acontecia no Facebook/Hi5, mas agora é ao nível do planeta e não dos nossos "amigos". Visito agora a página nacional do Twitter. As frases são desconexas e tudo junto mais parecem aqueles poemas Dadas/Surrealistas onde cada pessoa escreve um verso a partir de uma palavra deixada por outra pessoa e assim sucessivamente. Depois lê-se tudo como se se tratasse de um poema. Sabem a que me refiro, espero? Caso contrário, visitem o café Pinguim (Porto) uma terça à noite (penso eu) e tornem-se poetas por um dia.


Voltando ao Twitter. É mais uma ferramenta que propicia um esbatimento entre as fronteiras do privado e público, muito em voga actualmente. Pergunto-me sobre as vantagens, motivações e consequências desta nova forma de expressão ciber-pessoal. Talvez valha a pena ver o vídeo supra citado para ouvir a opinião da artista brasileira Martha Gabriel sobre isto. Ela não só dá exemplos da sua aplicabilidade como alerta para alguns dos seus perigos. Por exemplo, ela adverte para alguns riscos que corremos sempre que abrimos a nossa caixa de correio e esquecemos de fazer "log out". Outros podem ter acesso à nossa informação privada sem nos apercebermos. Isto é, como diz a minha amiga Pat , um "big brother cibernético".

Isto faz-me pensar sobre as nossas necessidade cibernéticas. Porque precisamos do Hi5, Facebook, Messenger, MySpace, Flick e outros? Claro que podemos viver perfeitamente sem estes canais, mas depois de os experimentarmos já não sabemos viver sem eles. É mais uma necessidade que se criamos, desta vez contribuíndo que o nosso real se (con)funda com o virtual de forma cada vez mais homogénea e menos peceptível. Rapidamente passamos da ausência à omnipresença, fixamos efemeridades, deixamos um rasto num mundo do etéreo e partilhamos algo nosso com alguém imaginário (e, logicamente, idealizado!). Parecem-me ser meios de ultrapassar muitas limitações inerentes ao ser humano, sejam elas geográficas, temporais, profissionais ou mesmo sociais.

Eu gosto do aspecto da partilha. Claro que há sempre a hipótese de ninguém nos ler, visitar ou intervir, mas isso pouco me importa. Começo a ter o prazer de simplesmente me exprimir ciberneticamente para meu prazer. Afinal escrevo diários desde a adolescência. Ainda guardo muito para esses livros; aqui os registos são outros. Revelo, mas guardo muito mais. Porque o mistério é fundamental na nossa vida. Mas preciso da net para deixar de me sentir num buraquinho. Assim posso viver num qualquer "fim do mundo" pois faço"parte do mundo". Só não quero é que estas ciber-necessidades me dominem ou se tornem em obrigações. Por isso gosto mesmo de me afastar durante uns dias por semana do computador. Para recuperar o velho tempo vagaroso e elástico que é essencial para me ouvir.

TVV

Thursday 19 March 2009

À procura de "espaços vazios"

Confesso que a minha prioridade não tem sido a performance, no seu lado mais prático ou criativo. Simplesmente porque cheguei a Portugal em Outubro passado e dei por mim desempregada. Após um ano em que vivi às custas das minhas poupanças, tinha de arranjar trabalho! Isto de estudar e não trabalhar é um privilégio dos portugueses. Em Londres, ninguém se pode dar ao luxo de o fazer com propinas a chegar aos 12-15 mil euros! Felizmente, por ser de um país membro da UE, paguei apenas um terço deste valor. Portanto, isto de trabalhar em part-time é algo muito sério e digno. Aqui em Portugal pensamos que só os pobrezinhos é que o fazem. Seremos assim tão ricos?

Por ter trabalhado durante uns bons anos pude ser uma pessoa privilegiada e apenas estudei. Agarrei esta oportunidade e devorei livros e livros. Encontrei uma biblioteca que me extasiou: finalmente podia ler sobre quase tudo! Li livros, ensaios e revistas científicas sobre tudo e mais alguma coisa. É que os meus interesses são muito mais do que música. Pegando nas palavras de Abel Salazar e contextualizando-o para a música, acho que "um músico que só sabe de música, nem de música sabe". Palavras bem sábias! É preciso sair do nosso buraquinho e procurar empatias ou linhas de pensamento mais abrangentes. Ler sobre outras matérias abrem-nos a percepção para novos horizontes. E mais facilmente deixámos de ser meros imitadores dos Outros e passámos a ser autores de algo nosso. É por isso que é importante ler!

Voltando à minha confissão inicial, a minha prioridade tem sido trabalhar e é isso que tenho feito. Trabalho para os outros, não para mim. Vivo uma pausa de mim, digamos assim. Mas a minha sanidade mental e psicológica pede-me contextos onde possa reflectir sobre a minha prática e confrontá-la com outras pessoas. Daí procurar conferências, por exemplo. São tão importantes quanto um "concerto". A sua preparação é igualmente exigente e morosa. Neste momento preciso de criar um "evento" e respectivo texto a contextualizá-lo. Mas quando começarei a prepará-los? Preciso de espaços vazios na minha vida: espaços para ler, escrever ou simplesmente para explorar um território novo. Felizmente a tendência será para melhorar. As férias vêm já aí, ufa!

TVV

Tuesday 17 March 2009

O Portugal de Ontem e de Hoje

Há dias ouvi o meu pai dizer uma frase que é recorrente nele e que me fez pensar sobre Portugal, o de Ontem e o de Hoje. «A tua opinião não conta para nada», disse ele. As circunstâncias deste comentário são irrelevantes. O importante é fiquei a pensar... Como é ele capaz de negar a sua força como ser humano? Como pode negar a sua voz? Será que nós não contámos realmente para nada? Somos seres assim tão passivos e submissos na nossa vivência? Como é possível alguém aceitar que não conta para nada neste mundo?

Só consigo entender esta expressão como um legado dos 50 anos de ditadura aos dias de hoje. Nessa altura cultivava-se o que eu chamo o"Portugal dos pequeninos": as pessoas tinham de ser felizes com a sua pobreza e ignorância; viver só era possível dentro de parâmetros muito estreitos; e era preciso obedecer, sempre e sem pestanejar, à autoridade, fosse ela de que natureza fosse. Qualquer atitude de empreendedorismo, de criação, de ousadia, de risco, de crítica salutar era impensável neste quadro ideológico-sócio-económico.

Felizmente sou filha da revolução e não me revejo neste Portugal. Quero um país arejado, inovador, capaz de arriscar e de se mostrar ao Mundo sem complexos. Por isso me interessam as vanguardas, em todas as suas dimensões. O nosso espaço de intervenção já não se limita à nossa rua. A nossa acção pode chegar a toda a parte. O que conta é encontrarmos empatias, estejam elas onde estiverem. O que conta é vermos uma consequência da nossa acção ou pensamento, por mais mínima que seja. O que conta é que nós contamos!

Muito devemos a Maio de 68. Os seus slogans, muitas vezes radicais e excessivos, foram fundamentais para resgatar o indivíduo de um viver medíocre e acomodado. Quarenta (e um) anos depois, temos o direito de ser nós próprios e de contribuir para o mundo com a nossa diferença. Esta mudança de paradigma (que Touraine diz ser individual e cultural) apela-nos à responsabilidade. Agora temos de responder na primeira pessoa pelas consequências das nossas acções e pensamentos. E é exactamente este sentido de responsabilidade que a geração do meu pai não se habituou. Sempre tiveram alguém a moldar-lhes o agir, pensar e viver. Às vezes pelo Salazar, outras pela figura paternal, outras clerical, outras civil (polícia), etc.

Hoje podemo-nos afirmar com mais facilidade, é verdade, mas também ficamos sujeitos aos seus efeitos "laterais". Por isso, há que ter coragem para viver, para nos afirmarmos de viva voz, para arriscar apesar dos riscos, para perder o medo de errar, e para nos lançarmos sempre para a frente. Porque o futuro é aí. E eu quero pertencer ao Portugal de amanhã.

E sim, nós contamos, meu pai.

TVV

Thursday 12 March 2009

Música ou Performance? Eis a questão

Que entendo eu de blogs? Nada ou muito pouco. Espaço para fixar pensamentos, partilhar emoções e experiências com um Outro, mas qual o interesse destas histórias senão para mim? Vou esquecer isto e escrever. Apenas escrever. Talvez assim descubra o sentido deste blog.

Após uma semana em Glasgow, onde o Eu teve o privilégio supremo, é-me difícil pensar numa proposta de investigação que não passe por mim. Não é narcisismo; é não me rever nos dogmas de uma musicologia que venera o objecto (a partitura) em vez do evento; que vê o músico como "tradutor" de partituras e não como um ser criativo (estatuto esse reservado ao compositor); e que vive nostalgicamente "à procura do tempo perdido", situado algures entre os séculos XVIII e XX.

Eu preciso de futuro; preciso de um mundo académico mais aberto à contemporaneidade, à miscigenação de géneros artísticos, às tecnologias e às novas metodologias; aberto ao não convencional, ao subjectivo e ao contingente. Porque o mundo real é assim mesmo. Tratar a música como se fosse algo controlável e gerador de leis universais, é negar a sua essência. O seu elemento vital. Tal como as outras artes, ela vive da energia e expressividade de um momento, do imprevisto, da efemeridade e do arrepio. Isto não se mede, sente-se.

Por não me rever na orientação clássica da investigação musicológica quero mudar de departamento. Aos poucos vou-me aproximando da "performance" - conceito novo para mim, mas que me soa a esperança. Baseia-se em teorias filosóficas e estéticas completamente distintas, que me parecem em melhor consonância com o mundo pós-moderno que vivemos. Tenho uma enorme curiosidade em saber mais sobre esta manifestação expressiva que começou há exactamente 100 anos (segundo RoseLee Goldberg* a Performance começa com a publicação do primeiro manifesto futurista de F. T. Marinetti no jornal francês Le Figaro em 20/02/1909). Quero estudar performance para investigar música. Veremos o que farei com disto.

TVV
* Goldberg, R. (2001). Performance Art: From Futurism to the Present. London: Thames and Hudson.

Sunday 8 March 2009

This is not art - Australia




CALLS FOR PROPOSALS NOW OPEN:

Closing 31st March 2009
If you work, think, play or study in creative, intellectual or artistic practices then…
We want you!
Join us for the 2009 grand interpretation of This Is Not Art: Australia’s largest and most diverse media and arts festival.
This Is Not Art has been growing and developing over the past twelve years to become a national showcase and skills share for Australia’s most creative and niche movers and shakers.
This year it’s your turn!
To be a part of the This Is Not Art 2009 Festival Program, you will need to go to our website at: www.thisisnotart.org and download and submit an application form. Alternatively you can send an email to: admin[at]thisisnotart.org and request an application form , or phone (02) 4927 0675.

We are always open to new suggestions and ideas for events or other inclusions into the festival program. While not every proposal can be guaranteed a place in the festival, we try to be as inclusive as possible, so please send us your proposals… We’d love to have you along for the ride!
Please ensure we receive your application by 31st March 2009. Email and postal details are found on the application forms.

xx This Is Not Art
Office: 3 / 231 King Street, Newcastle, 2300
Phone: (02) 4927 0675
Fax: +61 2 4927 1475
Email: amin[at]thisisnotart.org

independent, emerging & experimental annual arts & media festival

01 – 05 October 2009
Newcastle, Australia

www.thisisnotart.org

Wednesday 4 March 2009

Autobiology 2



Recém regressada de Glasgow, onde participei no workshop "Autobiology" (detalhes no post Autobiology 1), sinto-me em estado de choque. E agora? Um workshop é respirar mais fundo dentro de nós mesmos; é um período para experimentar algo novo; é descobrirmos novas potencialidades para o futuro. O ambiente de salutar criticismo e a variedade incrível de projectos aí apresentados, abrem as portas da minha percepção para o que é "Performance. Mais do que apenas música, teatro ou dança, é humor, drama, imagem, palavra, histórias, ou apenas um sentir. É um momento de transformação de nós, é construir uma relação forte com o outro, é tocar o inefável, é sentir uma energia simultaneamente poderosíssima e fragilíssima. É viver um momento certo na vida!

Neste workshop fiz duas "NO performances". A minha primeira manifestação de um "gut feeling" andou à volta da palavra No - palavra que todos têm medo de dizer, em especial nos olhos do Outro; palavra que tantas vezes tenho de dizer na minha vida... Construí um momento cheio de drama, de olhar forte, de respiração, de cabelos desalinhados e alinhados. A segunda, proposta da Helen Paris, foi ser apenas Eu. Apresentar-me como pessoa real, sem representação metafórica de nada, apenas a nudez de mim. Improvisei ao piano enquanto respondia às questões das pessoas. Desta vez, sem subterfúgios, máscaras ou metáforas de qualquer espécie. Apenas Eu. De olhos nos olhos. Tive medo, confesso. Não envolvia qualquer preparação, nada, nada. Teria de aceitar o que quer que acontecesse, sem tentar controlar o momento. Isto foi aterrador! Mas Gemma disse-me as palavras mágicas: Everything is going to be fine, Teresa! E acalmei. Pensei no John Cage e na sua "não intencionalidade", no espírito Zen (aceitar o que acontece como o melhor que pode acontecer nesse instante) e arrisquei. Foi um momento maravilhoso! Consegui criar empatia com as pessoas e venci um novo desafio. Nunca fiz nada assim na minha vida. Tudo é sempre calculado, estudado. Aqui, foi o inverso e resultou! Esta faceta do "real me" é-me inteiramente nova. Ainda não sei como me transformará mas sei que dei aqui um passo importante .

Esta viagem à Escócia também ficou marcada pelas pessoas que conheci nomeadamente o coreógrafo Paulo Ribeiro que é uma pessoa muito generosa e autêntica. Ele é uma inspiração para mim pois soube transformar as suas dificuldades em mais-valias. São as nossas idiossincrasias e diferenças que tornam este mundo num espaço - tempo fascinante para se viver. Outra pessoa inspiradora foi a minha "room-mate", uma escritora australiana de 70 anos que está em Glasgow a investigar para o seu novo livro. Tem o nome da minha mãe, Isabelle. Que mulher! Acho que me vi daqui a quatro décadas assim: a viajar pelo mundo, sozinha ou acompanhada, mas sempre em processo criativo e ousando viver os seus sonhos. Nunca encontrei ninguém com tantos sonhos, mistérios e instintos. Isabelle vai atrás deles sem esperar pelo dia de amanhã. Ela vive o hoje. Ainda procura aquele que viu no seu sonho: «Será ele o homem dos meus sonhos?». Quem diz isto aos 70 anos?

Agora, de regresso a casa, encontro emails que me põe triste. Ainda não consegui reagir ao embate. Preciso de respirar e descansar. Vou fazer Yoga...

Teresa

Friday 20 February 2009

PERFORMA'09

I just been informed that my proposal to present a lecture-recital at the forthcoming conference on Performance Studies PERFORMA'09, hosted by the Department of Communication and Art of the University of Aveiro (Portugal, 14-16 May 2009) was accepted. I am glad, of course. It will be a great challenge for me. Here is a copy of the submitted abstract.
For further information, pleaase check http://performa.web.ua.pt/.


ABSTRACT
Musician or Performer? That is the question.
When some years ago Nicholas Cook (2001)[1] challenged us to think about music as performance he launched a new paradigm to understand musical performance. Indeed, a musical performance is more than the reproduction of scores; it performs meaningful events in a specific social context. This subtle change of emphasis, from the ‘text’ to the ‘event’, not only opened new paths to comprehend what a musical performance is and what the performers’ role is inside of it, but also posited music closer to other performance arts such as live art, body art, contemporary dance and theatre. Acknowledging this, I intend to get inside Performance Studies to understand what a performance is and in which ways music-making can be a performance. By promoting cross-fertilization between a diversity of arts and theories I expect to draw an alternative way to think, make, and engage with music; a way that comes in line with the more contemporary artistic scene and theory. Eventually, this reflection can contribute to integrate music in the current debate inside Performance Studies, which is still very residual. Hence, my presentation starts with a short performance where I explore the body and theatricality to create a musical event. It involves live lighting, improvised (or choreographed) music, as well as excerpts of George Crumb’s A Little Midnight Music. This work, composed in 2001, is rumination on ‘Round Midnight by Thelonious Monk. Then I present the paper.


[1] Cook, N. (2001). Between Process and Product: Music and/as Performance. Music Theory Online, 7(2).

Thursday 12 February 2009

(More than) A musical performance



This is the first video of a series of five that aim to show details of my "performances with music". This one highlights few moments of a larger event that took place at the Brunel University (West London) in May 2008 where I intended to explore everything around music, i.e., improvisation, body's presence, voice, viscerality, theatricality, live lighting, mixture of electronic and acoustic sounds, etc.


What have been said about this event: «'More Than' was a bold and adventurous programme which used live lighting, theatrical actions and a dramatic use of spac to communicate music. Organising this level of collaborative process was admirable and some of the visual situations which were created - warming hands on the red light of the 'burning' inside piano or the wind player under what seems like a street light - were highly communicative and showed real imagination. You played with drama and passion again.» Sarah Nicolls and Richard Barrett (Brunel University)


Thursday 5 February 2009

Autobiology 1

I'm getting excited about my forthcoming participation at the "Autobiology" winter school, which is a workshop for artists seeking a period of professional development and research that explores the connections between the body and the mind, biology and autobiography, and aims to generate autobiographical material "straight from the heart". It will be led by Curious (UK) as part of the New Territories 09 – International Festival of Live Art, Scotland (Glasgow, February 2009). Website: http://www.placelessness.com/ and http://www.newmoves.co.uk/.