Tuesday 17 March 2009

O Portugal de Ontem e de Hoje

Há dias ouvi o meu pai dizer uma frase que é recorrente nele e que me fez pensar sobre Portugal, o de Ontem e o de Hoje. «A tua opinião não conta para nada», disse ele. As circunstâncias deste comentário são irrelevantes. O importante é fiquei a pensar... Como é ele capaz de negar a sua força como ser humano? Como pode negar a sua voz? Será que nós não contámos realmente para nada? Somos seres assim tão passivos e submissos na nossa vivência? Como é possível alguém aceitar que não conta para nada neste mundo?

Só consigo entender esta expressão como um legado dos 50 anos de ditadura aos dias de hoje. Nessa altura cultivava-se o que eu chamo o"Portugal dos pequeninos": as pessoas tinham de ser felizes com a sua pobreza e ignorância; viver só era possível dentro de parâmetros muito estreitos; e era preciso obedecer, sempre e sem pestanejar, à autoridade, fosse ela de que natureza fosse. Qualquer atitude de empreendedorismo, de criação, de ousadia, de risco, de crítica salutar era impensável neste quadro ideológico-sócio-económico.

Felizmente sou filha da revolução e não me revejo neste Portugal. Quero um país arejado, inovador, capaz de arriscar e de se mostrar ao Mundo sem complexos. Por isso me interessam as vanguardas, em todas as suas dimensões. O nosso espaço de intervenção já não se limita à nossa rua. A nossa acção pode chegar a toda a parte. O que conta é encontrarmos empatias, estejam elas onde estiverem. O que conta é vermos uma consequência da nossa acção ou pensamento, por mais mínima que seja. O que conta é que nós contamos!

Muito devemos a Maio de 68. Os seus slogans, muitas vezes radicais e excessivos, foram fundamentais para resgatar o indivíduo de um viver medíocre e acomodado. Quarenta (e um) anos depois, temos o direito de ser nós próprios e de contribuir para o mundo com a nossa diferença. Esta mudança de paradigma (que Touraine diz ser individual e cultural) apela-nos à responsabilidade. Agora temos de responder na primeira pessoa pelas consequências das nossas acções e pensamentos. E é exactamente este sentido de responsabilidade que a geração do meu pai não se habituou. Sempre tiveram alguém a moldar-lhes o agir, pensar e viver. Às vezes pelo Salazar, outras pela figura paternal, outras clerical, outras civil (polícia), etc.

Hoje podemo-nos afirmar com mais facilidade, é verdade, mas também ficamos sujeitos aos seus efeitos "laterais". Por isso, há que ter coragem para viver, para nos afirmarmos de viva voz, para arriscar apesar dos riscos, para perder o medo de errar, e para nos lançarmos sempre para a frente. Porque o futuro é aí. E eu quero pertencer ao Portugal de amanhã.

E sim, nós contamos, meu pai.

TVV

1 comment:

  1. A ideologia da liberdade em Portugal, permanece uma utopia, o pensamento é abafado pelo mofo dos que tem ditado a tendencia, qualquer novidade é suprimida, a menos que sirva interesses alheios, ou, a tal cunha(z)ita muito habitual no nosso país de ''amigos''.

    Paulo Fontes

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