Wednesday 22 July 2009

que procuro?

Mais do que a perfeição técnica
procuro uma intensidade e entrega
que encontro apenas em alguns artistas, pensadores e amantes

Tvv

Saturday 18 July 2009

BigBrother Rural

Passar a infância numa aldeia minhota durante os anos 80 significava habitar um Mundo povoado por mitos, ladainhas, sermões, milagres e histórias do fim do mundo
Dizia-se por exemplo
que era um perigo as raparigas irem passear para os campos de milho
tudo poderia acontecer
o "mal" e o "pecado" andavam sempre à espreita
Balelas, dizia eu
Hummm, será?!



Estava eu e a minha amiga de longa data num bucólico passeio pelas terras verdejantes do Verde Minho
tentando encontrar os locais pertencentes à nossa infância
procurando um refúgio para uma conversa mais íntima
para uma partilha de segredos e degredos da vida
quando
.....tcham, tcham, tcham......
alguém nos espreita e mede a presença


"Que estão aquelas moçoilas aqui a fazer? Quem serão? Humm..."
Após sabe-se lá que pensamentos decide aproximar-se das moças
a conversa surge e desvenda-se o mistério
"É apenas a filha do Daniel e do Doutor?!
Há tantos anos que não as via
Tava eu em casa quando vi duas damas a passar
Disse prá minha mulher, olha, vou pró campo regar o milho
Mas é melhor vires lá depressa"
(É que um hóme é sempre um hóme)

Ordem cumprida a preceito
minutos depois apareceu a mulher
(não fosse o diabo tecê-las)
e após as devidas apresentações e explicações
lá se foram os dois embora

Foi divertido, claro
Mas penso, será que não há privacidade em lado nenhum?
O BigBrother, a video-vigilância e sei lá mais o quê, já chegou aos campos de milho?
Não podemos fumar um charrito à vontade?
Não podemos perder-nos num fim do Mundo qualquer só pelo prazer de estarmos PERDIDAS e DESNORTEADAS por alguns minutos?
Ou ter uma conversa mais mais mais mais...
(imaginem o que quiserem
A perversidade está na vossa imaginação
não na minha)

Ginha no País das Maravilhas

Ps. Fotos da minha amiga Sofia

Wednesday 15 July 2009

Pós «Pitié!» de Ballets C. de la B.

A semana passada tirei a barriga de misérias
E fui ao DANCEM'09 ver a companhia de dança belga C. de la B.
Foi um soco na barriga
mas não uma congestão!!




"Mas o que é isto?" pensámos nós, meros mortais
vemos coisas que gostámos, outras odiámos, outras extasiam-nos, outras magoam-nos
é visceral, vai aos limites de tudo, da dança, dos corpos, do Belo, do movimento
sempre com boa música...
gostei do diálogo entre J. S. Bach e a contemporaneidade pelo talento de Fabrizio Cassol
a música e as palavras ditas ao "microfone-confessionário" entrelaçam tudo num todo
saí com os meus sentidos intoxicados, saturados, ultra-
estimulados
por isso Adorei!!


É que para andar dentro dos limites, ando eu todos os dias
para ver coisas bonitinhas, politicamente correctas ou uma sensualidade enlatada
não preciso de ir ao teatro
Eu quero é algo que me toque FUNDO
me tire da apatia da vida quotidiana
quero uma arte que rasgue, que ouse, que arrisque uma sincera loucura
Arte que me olhe de frente
e de olhos nos olhos me mostre algo forte
Esta companhia desafiou-me
E é assim que eu gosto de ser tratada

Tvv


Tuesday 14 July 2009

Ensinar-te o QUÊ e COMO?!

Acabo de ser acordada pelo telefone
Alguém me pede num estado desesperado
para lhe ensinar a conquistar a liberdade e o prazer que encontrou no meu último video
e que sente que o perdeu algures no tempo
Ensinar-lhe o QUÊ e COMO?
Que livros? Que técnicas?
Como posso adaptar as minhas construções a outra pessoa?
Pensando nestas e noutras questões
verifico, com satisfação claro, o quanto já andei
e o quão distante estou dos formalismos e convenções associadas à música

Onde tudo começou?
Nos sons de George Crumb
ouvi-os e disse para mim própria "é isto o que eu quero tocar! Senão prefiro tocar nada"
Qual a minha primeira performance?
Troquei de casaco (!?) entre duas peças
precisava de mudar de identidade e fí-lo assim
o impacto no público foi ENORME!!!
Quais as minhas "técnicas"?
Estudo OUTRAS áreas para além de música
sejam elas performativas ou não
e interligo TUDO à música
O que leio?
Leio sobre TUDO
eu consigo cruzar TUDO com a música
consigo pensar sobre música lendo rigorosamente NADA sobre ela
tentei simplesmente responder às minhas questões
fossem elas sobre o estado do mundo actual (pósmodernismo), sobre a transcendência do ser humano (ritual, visceral, expressionismo) ou inquirindo acerca da necessidade da música nos indivíduos e sociedade actual
Quais as minhas referências performativas?
Desculpem-me a minha "anormalidade"
mas cansei-me de estudar música de uma forma tecnicista e fechada em si própria
simplesmente porque tanto conhecimento técnico, tanta análise, tanta veneração aos GRANDES mitos da música europeia
quase me fez perder o prazer que sentia antes por uma simples audição
quase assassinei aquele prazer de criança pelas coisas simples
aquele prazer de não pensar muito
e simplesmente FAZER porque sim
pelo prazer em si mesmo
Além disso sentía-me separada do Mundo
habitava uma torre de marfim acessível só aos entendedores da "grande música"
em vez de privilegiada sentí-me num gueto elitista?!
Então, decidi partir
fui à procura de contactos, empatias, contaminações, saberes
à procura de uma forma de expressão que fosse capaz de me exprimir com naturalidade
em ligação com o mundo que me rodeia, atento às suas interrogações e inquietações
Daí que as minhas referências venham essencialmente da dança, do teatro e da performance
aqui encontrei uma liberdade, uma ousadia e um contexto para experimentar novas formas de fruição estética
encontrei o arrepio, a compreensão, a loucura, o prazer, a facilidade e a naturalidade de mim

Segui o caminho de alguém que não se acomodou ao pré-estabelecido
de alguém que procurou a sua expressão singular
independentemente do que é suposto "ser-se"
e tenho esta ânsia de partilhar as minhas conquistas com o Outro
de propor uma nova forma de se pensar e fazer música
Por isso vou a conferências, escrevo, publico as minhas ideias sempre que posso
dou a cara: falo, toco, canto...

Se inspiro alguém a querer mudar o seu rumo
ou a pensar de uma forma diferente a música ou a Vida
é simplesmente MARAVILHOSO!!

Teresa

Friday 10 July 2009

Amin Maalouf: para compreender o Mundo de hoje

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1391201&idCanal=14

Acerca da entrevista a Amin Maalouf ao Público, escritor libanês residente em França
Pessoa com uma visão clara dos dois mundos, o do Ocidente e o Àrabe
Alguém que tenta compreender historicamente as tensas relações entre eles
Compreender para depois fazer pontes, encontrar pontos de diálogo entre velhos "inimigos"

Toda a colonização foi, e continua a ser, desigual
Envolveu dominação e opressão por parte do mais forte pelo mais fraco (militarmente falando)
Mas esqueceram-se que tudo o que fazemos pode ter forte impacto nos outros e o 11 de Setembro foi o reverso dessa luta
Quem é líder do que quer que seja tem de ter presente uma coisa
liderar é ter uma responsabilidade perante os Outros
Os líderes deveriam ser exemplos, modelos a seguir e não déspotas ou egoístas
Infelizmente raros são os líderes que têm este sentido de missão...

Respeito Cultural
Ninguém quer ser desrespeitado, dominado e oprimido
ninguém quer que a sua cultura (língua, formas de estar e de pensar, tradições, religião, etc.) seja ignorada e tida como tribal e obsoleta
Daí que Amin apresente como "solução" para o mundo de hoje a edificação de uma única civilização - uma civilização capaz de englobar todas as micro e macro-culturas que pululam por esse mundo fora

É uma atitude contra qualquer bloco ou poder central
Contra qualquer hegemonia ou forma totalizante
O mundo de hoje faz-se de mesclas, de misturas, de vivências com todo o género de tribos e estilos de vida
O futuro TEM de seguir o rumo da integração do Outro
Simplesmente porque não há outra alternativa ao futuro

Crise: será tudo mau?
E isto lembra-me muitas outras coisas
Por exemplo, o facto de estarmos a viver uma CRISE
Para mim não é mais do que o colapso de um sistema económico que não tinha em conta os recursos limitados da Terra, nem o bem-estar das pessoas
A queda de um sistema que se alimentava do lucro fácil e não sustentado de uma minoria, face à opressão dos interesses da esmagadora maioria das pessoas
Algum dia isto teria de PARAR!
Chegou esse momento, parece-me (graças a Deus!)

As crises são momentos de mudança, de criatividade, de procura de novas soluções
São reacções naturais contra a estagnação e soluções instaladas
Chegou a hora de alimentarmos o nosso espírito criativo e empreendedor e meter mãos à obra
É hora de pararmos, olharmos à nossa volta e perguntarmo-nos «por onde devo seguir? que devo fazer?»
É hora de arriscarmos novos caminhos, até aqui banidos ou desvalorizados
E tal passa por respeitar mais o planeta e as pessoas, com todas as suas diferenças e diversidades
Passa pelo despertar das novas gerações para o ecológico, a cidadania, o respeito multicultural e para consciência do papel activo de cada um face a um sistema colectivo

Não me esqueço de ter sido veementemente repreendida por uma criança de 3 anos pelo facto de estar a juntar todo o lixo num mesmo recipiente
Onde está o Teu ecoponto? disse-me ela
Não soube o que responder...
Envergonhei-me da minha atitude negligente e aprendi uma lição
Com crianças assim pode ser que o Futuro, afinal de contas, não esteja perdido

Tvv

Tuesday 7 July 2009

Obrigada, Pina...

Uma semana após a morte de Pina Bausch, a minha musa, recordo palavras que escrevi num post antigo sobre a razão da minha admiração incondicional (algo raro em mim!) a esta coreógrafa.

«Consegui!!! Consegui comprar um bilhete para ver finalmente ao vivo a companhia da Pina Bausch, a Wuppertal Tanztheatre, em duas criações emblemáticas: «A Sagração da Primavera» e o «Café Muller». Após tantos anos de espera...



O trabalho da Pina Bausch é uma inspiração para mim.

Porque o que conta são as pessoas. Somos nós. As suas histórias são as nossas histórias. Vemos abraços, encontros, desencontros, alienação e a procura desesperada de um sentido no meio do caos. Pina fez-me tomar consciência de que toda a criação artística é uma metáfora da Vida, onde o passado se cruza com o presente. E talvez com o futuro...

Porque a sua matéria-prima são as emoções. São as nossas emoções. No ‘Café Muller’ há uma distância brutal entre todas as personagens; elas nunca se encontram… é-me muito perturbador. Duas delas estão absorvidas num abraço inerte. São ausentes, anestesiadas, talvez oníricas; há a mulher solitária. Nervosa, perdida em gestos indecisos. Ela procura e procura, mas não sabe o quê, onde nem porquê; e depois o 'waiter', a personagem mais real no meio de personagens isoladas no seu mundo. O rapaz que procura em vão compor o mundo através das cadeiras e dos abraços. Eu pergunto, no meio destas personagens onde estamos nós? Somos aqueles dois seres que se abraçam como que fugindo ao que os rodeia? Ou aquela mulher perturbada, perdida em si própria? Ou aquele ser que procura desesperadamente pôr ordem nas cadeiras do café? Não fomos todos já um pouco destas personagens? Sim, a distância entre elas é tremendamente perturbadora. E é nesta distância ou tensão que eu quero trabalhar.

Porque os seus bailarinos estão longe dos padrões de beleza e de performance física que nos são apresentados a todo o momento pela TV e media em geral. Os seus bailarinos são pessoas como nós. Os seus corpos também envelhecem, ganham rugas e marcas com o tempo. Pina B. sabe que um corpo sem marcas é um corpo sem histórias; é um corpo incapaz de uma expressão inteira. Por isso ela não trabalha com belezas plásticas e rígidas; ela trabalha com pessoas como nós. Com corpos que sentem como os nossos. E o sentir forte não é apanágio da juventude. É apanágio do ser humano;

Pina B. é uma pessoa que se atrapalha com as palavras. Não é através delas que melhor se exprime. É pelos gestos das suas mãos. É aí que tudo começa. Tudo o que nos é apresentado um dia como grande e sofisticado, começou por uma pequena pergunta ou por um movimento não pensado. Mais uma vez, a importância das coisas sem importância...

Por tudo isto e muito mais, ela me inspira.

Teresa»

PS. Música de Purcell. Liiiiiinda!!!!



Friday 3 July 2009

LUSO2009 (Londres)



Estive (virtualmente!) no LUSO2009 - 3º Encontro de Estudantes e Investigadores no Reino Unido (http://luso2009.pt.vu/). Apresentei o meu trabalho através deste video, realizado em Maio passado no PERFORMA'09. Gosto do resultado.

Teresa VV

Processos Criativos II

Hoje pela estrada e autoestrada fora visualizei-me mais uma vez no futuro
E percebi o que tenho de fazer no meu próximo trabalho em cena
Partindo do que vi e experimentei em Glasgow
Vou ser REAL e falar.... de mim,
Falar na primeira pessoa de onde vim os meus obstáculos e como me fiz mulher
Mas é CLARO!! É isto o que tenho de fazer!!
Isto é "live art" no seu sentido mais puro

Agora o problema é: o que vou dizer?! e como o vou dizer?!
Sei que terei de ser crua sem pudores não-sentimental
terei de revelar datas e factos que vão incomodar a minha família
Mas para mim serão apenas datas e factos
que me moldaram de alguma forma na Mulher que sou hoje

Isto vai exigir muita coragem da minha parte
Terei de jogar entre o real e o teatral
contarei a verdade mas parecerá ficção
o Real parecerá Irreal
Tem de ser assim
Porque é assim que quero
apresentar-me como Mulher

Porque o tema é exactamente o "Feminismo"

Teresa VV


PS. Ufa, menos um problema para resolver. Isto de conduzir 2h por dia é maravilhoso! São nestes momentos, quando estou sozinha e com a sensação de dever cumprido, que resolvo estes e outros problemas.