Thursday, 17 February 2011

"Primavera Sombria" de UNICA ZURN



Excertos do texto Primavera Sombria, da pintora alemã Unica Zurn.


"O pai é o primeiro homem que ela conhece... Ela ama-o desde o primeiro momento. A primeira impressão que recebe dele é profunda e inesquecível...Ela sente-se infinitamente atraída por ele... Reconhece o poder da atracção que emana de quem aparece pouco e de forma misteriosa.

Quando está deitada na cama e tem que adormecer, contempla o caixilho da janela. A forma deste leva-a a pensar no homem e na mulher: alinha vertical é o homem, a linha horizontal é a mulher. O ponto em que ambas as linhas se encontram é um mistério. (Ela nada sabe do amor.)

Começa um período demorado sob o signo do corpo masculino. Um fascínio total. (...) Nasce nela uma rejeição profunda e insuperável da mãe e da mulher.

Ninguém se preocupa com ela.
O sofrimento e as dores provocam-lhe prazer.
O jogo torna-se perigoso e é isso que ela deseja.
Tem pena de ser rapariga. Gostava de ser homem.
Afligem-na os medos do invisível.
Todas as brincadeiras são habitadas pelo sentido do horror e pela sensação de perigo
Sem infelicidade a vida é insuportável.
Agrada-lhe a sensação de dor quando experimenta a volúpia. Mas a sensação de volúpia que ela experimenta com excessiva frequência, deixa atrás de si um vazio opressivo.
O Medo é muito importante par ela. A angústia e o pavor atraem-na.
o eprigo está em todo o lado. Mas estes perigos prometem-lhe uma sensação perversa - como que uma salvação da monotonia diária, do tédio bocejante.
Tem de se refugiar na sua fantasia, fazendo das tripas coração, para poder suportar a vida.
Ela levanta-se e começa a observar o mundo dos adultos. Obsevar! Para ela, é um prazer inesgotável.
Presa de uma inclinação violenta e única, ela escolhe este homem como destinatáriode um ºrofundo e clandestino amor.
Agora sabe finalmente o porquê da sua vida: ela vive para o ter encontrado!
Sim, agora tem a certeza: ela veio ao mundo poque tinha de o encontrar. E, com este encontro, nasce uma dor incomensurável.
A dorte de amar para sempre com a mesma intensidade só a tem quem ama sem esperança.
Agora perdeu o medo.
Agora ele sabe que ela o ama.
Agora partilham um segredo.
"Agora posso morrer descansada"

Sabe que só no escuro tem coragem para pôr termo à vida. (...) O que dirão os outros miúdos quando ela estiver morta? E o professor? Terão saudades dela? Certamente que a irão esquecer depressa. Mas ela quer, finalmente, ter paz. Aliás, será que ele vai saber quando ela estiver morta? ...ele saberá que ela morreu de amor por ele. Os suspiros e soluços dela são de partir o coração. Sente-se mais só que nunca.

Será que existem pessoas felizes? Quantas haverá neste gigantesco mundo que estão neste momento às suas janelas planeando atirar-se delas abaixo? Grita de tanto chorar.
Pouco a pouco vai escurecendo. Pouco a pouco ela vai voltando à calma inicial. As lágrimas deixam de correr.
...envergonhadas, as pessoas olharão umas para as outras: não sabem que esta criança se matou por amor? A partir desse dia, os pais tratarão os filhos com muito mais doçura e amor, para que não sejam vítimas de idêntico destino.
Agora o quarto está quase escuro. ...Nesta altura, já lhe é indiferente morrer "em terra alheia" ou no seu jardim. Empoleira-se no parapeito, agarra-se ao cordão da portada e contempla mais uma vez ao espelho a sua imagem eivada de sombras. Acha-se atraente e um laivo de pesar insinua-se na sua determinação. "Acabou" diz baixinho e já se sente morta, antes que os pés descolem do parapeito. Cai de cabeça e parte o pescoço. O seu pequeno corpo estende-se, dsfigurado, sobre a relva. O primeiro a dar com ela é o cão. Enfia-lhe a cabeça entre as pernas e começa a lambê-la. Como ela ela não faz qualquer movimento, começa a ganir baixinho e deita-se sobre a relva, a seu lado"
FIM

TVV

PS. Tradução de Maria Antónia Amarante. Creio que este conto ainda não está editado em Portugal. Texto de 1970, ano da morte da autora, por suicídio. Atirou-se da janela do seu quarto em Paris.





Saturday, 12 February 2011

"Talk Show" de Rui Horta - Impressões a Quente




Este espectáculo é muito mais do este video.

Há muitas "camadas", imagens, palavras, suores, sinais característicos dos corpos envelhecidos, mãos entrelaçadas, sexo, abraços, que estão ausentes aqui.

Há um rodopio constante de corpos e palavras que se vêm, se ouvem, se imaginam e que nos intoxicam pensamentos e sentidos.

Vemo-nos ali, sem máscaras... a nossa matéria física, espiritual e evolutiva ao longo do tempo.
Um corpo que é também o nosso, enredado em paixões, histórias, sentimentos exacerbados e em ternura.

Aqui, questiona-se se o amor ao longo dos anos. Será isso possível? Se sim, como se transmutará numa e noutra e ainda noutra "coisa" que também é amor? Como é amar alguém aos 20 e aos 60 anos?

A minha questão aqui é, nos tempos de crise, de instabilidade e de egoísmo que vivemos, será possível o amor perdurar anos? Poderá ele sobreviver às crises, dúvidas, mágoas, cicatrizes, desilusões, silêncios, afastamentos... será o amor ainda uma possibilidade "possível" nos dias de hoje?

"Talk Show" é um exercício sobre estas questões; e sim, dá-nos algumas pistas de como isso poderá ser possível, apesar de todos os tumultos que nos rasgam a alma...

Este espectáculo conseguiu falar-me de Amor. Que benção!

Tvv

PS: Curioso ver este espectáculo numa altura em que tenho de estudar "gestão de conflitos" e reflectir sobre estratégias para a sua resolução, como a negociação entre pares. Tudo o que leio relativamente a este tema (sempre interligado à educação) posso aplicar na minha esfera privada. São este tipo de conexões que me enriquecem a vida. Eu interligo TUDO na minha vida.




Wednesday, 9 February 2011

Homens-Serpente, segundo Rosario Villalobos

"Há um certo tipo de homens que se distingue dos outos.

É aquilo a que chamo de homens-serpente. Avistam as supostas vítimas,começando muito lentamente a rastejar em direcção a elas... São suaves, delicados, educados, muitas vezes mostram-se verdadeiros gentlemen.

Bem-humorados e com um espírito jovial e solto, vão gastando bocadinhos de tempo, aqui e ali, rodeando a vítima muito suavemente!...

Tão suavemente, que se aquela não tiver vivido o suficiente, deixar-se-á envolver no seu visco, sem qualquer suspeita ou hesitação.

Um dia oferecem uma flor - simples, pois claro, eles conhecem bem o coração das mulheres...

No outro, uma canção - romântica, que não querem que elas se dispersem e voem...

Um coração aqui, um beijo acolá.

E os anéis vão apertando a presa, sem que ela dê por isso.

[Muitas vezes, conseguem até levá-las ao casamento]

Inebriadas, dizem aos quatro ventos como eles são bons, como eles as tratam bem, como são carinhosos e meigos.

Mas não sabem que por baixo do verniz, do polimento, da pele, está uma serpente.

Dizem que não se deve olhar uma serpente nos olhos. Será que a razão se esconde no facto de que, se a olhássemos, veríamos o seu desejo íntimo de destruição?...

E, no entanto, há sempre um dia fatídico em que esses homens se mostram tal qual são: agressivos, mal-educados, violentos, egoístas.

São incapazes de pensar no outro, de sofrer por ele, de perdoar ou fazer-se perdoar.

Duros. Cínicos.

Crêem-se fortes, mas na realidade são dignos de dó. A sua força reside na fraqueza dos outros. No seu medo. Na sua humilhação. Quando isso não existe, sentem-se acossados, deprimidos. Retiram-se, isolam-se. Sentem-se eles próprios vítimas das circunstâncias, da vida.

Estes homens-serpente são o tipo mais perigoso, de todos os tipos de homem que existem... porque não andam, deslizam.

Um conselho: Olhem sempre uma serpente nos olhos. Verão se lá dentro existe um homem.

R*

5 de Setembro 2010"


Obrigada Rosário, pela tua clarividência.

Há, efectivamente, pessoas assim...


Teresa VV

Saturday, 5 February 2011

Também eu danço "As Lágrimas de Saladino"

Acabadinha de chegar a casa
após ver "As lágrimas de Saladino" de Rui Horta
danço e danço...
não páro de me mexer
e de me ver dançar
e, sim, GOSTO muito do que vejo!!
observo a linha do meu corpo, dos meus cabelos, das minhas mãos, dos meus pés, dos meus olhos
e "ouço" a minha alma, sem medo

danço com uma mistura de desejo e de raiva
é o desejo de beleza e de sensualidade que procuro
mas é também a raiva que me move
é assim que danço

"As lágrimas de Saladino" despertou em mim uma raiva latente
a raiva que sinto pela crueldade das pessoas, umas para com as outras
a raiva pelo seu egoísmo atroz, que me fere mortalmente
a raiva pela falta de coragem de assumirem os seus compromissos com os outros
a raiva pelo vazio ético das pessoas

todos se acham boas pessoas
as suas intencões são magnânimes e eloquentes
mas na realidade apenas assisto a uma permissividade e cobardia
fruto da falta de um projecto para si mesmo (quanto mais partilhado com outros?)
é o vazio existencial no seu lado mais crú e cruel

raiva, raiva...
por isso, danço e danço...

e como gosto de me ver assim...BELA!




Tvv

PS. Apesar deste trabalho não me ter transcendido, nem me me ter "falado de amor" (aqui refiro-me a Pina Bausch), o Rui Horta continua em "estado de graça". Em momentos de crise preciso de referências fortes e ele é, sem dúvida, uma referência forte para mim. Quer artística, quer pessoal.


Friday, 28 January 2011

Call for papers: Experimentation in the Context of Musical Practice

Algo que interessar-me-ia muito participar, mas não tenho tempo....
Talvez interesse outros colegas, por isso aqui fica o registo.


Experimentation in the Context of Performance Practice

Orpheus Research Centre in Music [ORCiM] 27-28 April 2011, Ghent Belgium


Experimentation in the Context of Performance Practice

In Western music, 'experimentation' is usually associated with composition and improvisation, despite the fact that many diverse experimental practices happen in the field of performance. However, performers of all styles and periods of music have used modes of experimentation in their preparation for performance and in the act itself. Strangely, this important factor in the creativity of performance practice remains essentially private and undiscussed, being barely acknowledged beyond the rehearsal room.


This two-day international seminar aims at exploring the complex role of experimentation in the context of performance practices and the artistic possibilities that such practices yield for performers, composers and listeners. Three main perspectives will be adopted: a historical approach revealing experimental performance practices from the past, a practical approach that takes the ‘skilled body’ as its point of departure, and finally, an open-ended approach that challenges state-of-the-art practices in the field of music performance.


Within such a general context, particular interests or questions include:


Which aspects of performance allow for experimentation?

How does experimentation 'between' performances (from performance to performance) work?

How does experimentation through collaboration (e.g. chamber music) work?

Is the use and influence of non-musical elements an important factor in experimental performance practices?

What are the relationships between experimentation and improvisation? How does experimentation occur in the daily practicing process?

What are the tensions between 'fidelity to the score' and individuation of performance?


The seminar will be relevant for musicians and graduate students working in areas of research linked to musical practice. Themes related to all aspects of the seminar topic are welcome. The principal requirement for submissions is that they illuminate some aspect of the broad area of 'artistic experimentation', contributing to greater insight into how art unfolds, and opening new possibilities for artistic practice and reception.


Note: Keynote lecture: Paul Roberts - Professor of Keyboard, Guildhall School of Music & Drama, U.K.



Organising Committee
ORCiM Research Fellows Paulo de Assis, Darla Crispin, and Hans Roels.
For all practical information, please contact the Orpheus Institute's Activities & Communication Manager:
joyce.desmet@orpheusinstituut.be



http://www.orpheusinstituut.be/en/research-centre-orcim/orcim-calendar-2011



Tvv

Thursday, 20 January 2011

About my next move...

NÃO, NÃO SOU BAILARINA, NEM ACTRIZ, NEM CANTORA
MAS É DE ALGO ASSIM, FORTE E ASSUSTADOR, QUE PRECISO NESTE MOMENTO

PARA DESPERTAR O LADO MAIS EXPRESSIVO DO MEU CORPO
PARA EXPERIMENTAR NOVOS MATERIAIS E TÉCNICAS QUE ALIMENTEM O MEU SER CRIATIVO
PARA CONHECER PESSOAS QUE FALEM A MINHA LINGUAGEM, QUE TENHAM OS MESMOS MEDOS E ÍMPETOS
PARA ESTAR PERTO DE UMA GRANDE REFERÊNCIA MINHA:
A LINDA E MARAVILHOSA MULHER E BAILARINA OLGA RORIZ!

RAIOS, PRECISO DE ACORDAR DESTA VIDA!!
APENAS ISTO NÃO ME CHEGA!!
VOU PRECISAR DE MUITA CORAGEM PARA FAZER ESTE WORKSHOP
DE UMA CORAGEM VISCERAL QUE EU SEI QUE TENHO
(apenas está es-con-di-da....)



Tvv

My next move: Workshop na Companhia de Olga Roriz

Workshop "Teatro Físico" 
por Fabrizio Pazzaglia

14,15,16,18 e 19, das 18h00 às 21h00 

Para bailarinos, actores e cantores

Descrição


O Workshop encontra-se estruturado em duas partes:



1 | Trabalho físico

Consciencialização do corpo através de técnicas como Feldenkrais, antiginastica, exercícios fitoterápicos.
Trabalho de dança no chão, dança contacto, a dois e em grupo. Improvisação.

2 | Trabalho de texto

Trabalho de respiração, de som, sozinho e em grupo. Improvisação.
Leitura de um texto, trabalho sobre o fragmento e reconstituição do texto.

Mais informaçõesCompanhia Olga Roriz
Rua da Prata, 108 1100-413 Lisboa/Portugal
Tel.: 21 848 23 18 | T.M.: 91 819 23 10
companhiaolgaroriz@sapo.pt

Tvv