Friday 10 July 2009

Amin Maalouf: para compreender o Mundo de hoje

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1391201&idCanal=14

Acerca da entrevista a Amin Maalouf ao Público, escritor libanês residente em França
Pessoa com uma visão clara dos dois mundos, o do Ocidente e o Àrabe
Alguém que tenta compreender historicamente as tensas relações entre eles
Compreender para depois fazer pontes, encontrar pontos de diálogo entre velhos "inimigos"

Toda a colonização foi, e continua a ser, desigual
Envolveu dominação e opressão por parte do mais forte pelo mais fraco (militarmente falando)
Mas esqueceram-se que tudo o que fazemos pode ter forte impacto nos outros e o 11 de Setembro foi o reverso dessa luta
Quem é líder do que quer que seja tem de ter presente uma coisa
liderar é ter uma responsabilidade perante os Outros
Os líderes deveriam ser exemplos, modelos a seguir e não déspotas ou egoístas
Infelizmente raros são os líderes que têm este sentido de missão...

Respeito Cultural
Ninguém quer ser desrespeitado, dominado e oprimido
ninguém quer que a sua cultura (língua, formas de estar e de pensar, tradições, religião, etc.) seja ignorada e tida como tribal e obsoleta
Daí que Amin apresente como "solução" para o mundo de hoje a edificação de uma única civilização - uma civilização capaz de englobar todas as micro e macro-culturas que pululam por esse mundo fora

É uma atitude contra qualquer bloco ou poder central
Contra qualquer hegemonia ou forma totalizante
O mundo de hoje faz-se de mesclas, de misturas, de vivências com todo o género de tribos e estilos de vida
O futuro TEM de seguir o rumo da integração do Outro
Simplesmente porque não há outra alternativa ao futuro

Crise: será tudo mau?
E isto lembra-me muitas outras coisas
Por exemplo, o facto de estarmos a viver uma CRISE
Para mim não é mais do que o colapso de um sistema económico que não tinha em conta os recursos limitados da Terra, nem o bem-estar das pessoas
A queda de um sistema que se alimentava do lucro fácil e não sustentado de uma minoria, face à opressão dos interesses da esmagadora maioria das pessoas
Algum dia isto teria de PARAR!
Chegou esse momento, parece-me (graças a Deus!)

As crises são momentos de mudança, de criatividade, de procura de novas soluções
São reacções naturais contra a estagnação e soluções instaladas
Chegou a hora de alimentarmos o nosso espírito criativo e empreendedor e meter mãos à obra
É hora de pararmos, olharmos à nossa volta e perguntarmo-nos «por onde devo seguir? que devo fazer?»
É hora de arriscarmos novos caminhos, até aqui banidos ou desvalorizados
E tal passa por respeitar mais o planeta e as pessoas, com todas as suas diferenças e diversidades
Passa pelo despertar das novas gerações para o ecológico, a cidadania, o respeito multicultural e para consciência do papel activo de cada um face a um sistema colectivo

Não me esqueço de ter sido veementemente repreendida por uma criança de 3 anos pelo facto de estar a juntar todo o lixo num mesmo recipiente
Onde está o Teu ecoponto? disse-me ela
Não soube o que responder...
Envergonhei-me da minha atitude negligente e aprendi uma lição
Com crianças assim pode ser que o Futuro, afinal de contas, não esteja perdido

Tvv

4 comments:

  1. Acompanho este blog com muito interesse, mas nunca escrevi. Porque... não! Hoje escrevo. Porque li a entrevista e ao contrário do que me parece contigo, não gostei do senhor Amin Maalouf. Fez-me lembrar o Milan Kundera. Mas não há tempo e espaço para isso. Dá a entender que a colonização foi militar. Isso teria sido uma simples ocupação territorial. Na colonização o mais grave é a perda de cultura levada a cabo pelo colonizador. Isso é que é terrível.
    Uma globalização total. Utópico (lamento ter que ser sucinto). Errado pensar que temos que integrar o outro. Temos é que compreender o Outro. E o mundo será melhor na diversidade do que na unicidade. A crise económica é cíclica. Quando passar esta, neste sistema político-social (é uma repetição, mas para reforçar) há-de voltar outra. Daqui a 10, 20 anos? Não sei, mas penso que cada vez será menor o espaço entre elas.
    Sim, as crises têm um aspecto positivo, tal como as guerras, fazem surgir novas soluções, maior criatividade e mudanças.Qual o custo desse desenvolvimento?
    E para terminar, nada melhor do que citar-te:"É hora.... (até) ... sistema colectivo"
    Aí sim, temos bases para um mundo melhor. Mas ou não te percebi ou parece uma contradição com o que escreves no início.
    Desculpa-me a extensão deste comentário.

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  2. Olá SEK, obrigada por escreveres! Vamos à discussão!

    Conheci as ideias do sr. Amin apenas por esta entrevista, que me pareceu ser uma esperança no futuro (agora com Obama na casa branca) e não fiquei nada com a impressão de que a colonização é apenas militar. Claro que é cultural. Em todo o caso envolve subjugação e humilhação. E isso indigna-me.

    Dizes bem, o mundo é melhor na diversidade que na unicidade; mas é utópico pensar num mundo arrumadinho, em que cada cultura não sái dos limites do seu nicho, em que tudo está no seu cantinho (tipo os portugueses em Portugal, sem "poluições" lusófonas ou de outras etnias; os Espanhóis em Espanha sem "contaminações" de outras raças...). Mas o que é isto?! O mundo é feito de migrações e contaminações, em ambos os sentidos; as fronteiras já não existem na Europa há muitos anos. Claro que isso trouxe problemas. Temos de aprender a lidar com tudo o que advém desta mistura de culturas. Que devemos fazer? Expulsar os imigrantes, para vivermos apenas com os "puros"? Mas nós não fomos um país de emigrantes durante décadas? Que direito temos nós de pretender isto após toda uma história de colonialismo e de emigração?! Temos de aprender a viver com pessoas diferentes de nós e respeitando-as nas suas formas de estar e ser. Integração sim, guetos não! Isto parece utópico, mas entretanto vivi em Londres um ano e, uma das coisas boas que aprendi, foi o ter de conviver com gente do Paquistão, da China, Nigéria, Iraque, entre outros. Pessoas todas diferentes na cor, na comida, na forma de viver, na forma de rezar; mas, tal não impediu o estabelecimento de uma comunicação e amizade forte independentemente de tudo. O engraçado é que, no meio de tanta diversidade, tive mais vontade de ser Portuguesa, de ser embaixadora de alguma forma do meu país. Eu fui uma Portuguesa em Londres, não alguém envergonhada da sua herança que quis ser inglesa (credo!). Está aqui patente o que penso sobre a globalização. Esta tem coisas boas, que é o facto de permitir sentir-me BEM em qq lado do Mundo; mas há aspectos que não me interessam minimamente, em que até sou muito "anti-global". Resumindo, mais do que rótulos, do ser a favor ou contra algo, estou interessada em fazer escolhas conscientes em face das condições que se me apresentam, em face do contexto. Ora alinho, ora rejeito, consoante os meus interesses. MAis do que dizer que a globalização é completamente boa ou má, procuro ter uma distância crítica, para poder pensar e agir com responsabilidade. Eu posso errar, tomar as decisões erradas, mas a culpa será sempre minha, não dos outros. Procuro viver de forma a que possa FAZER ESCOLHAS. Ñão quero que os outros as façam por mim. Em resumo, a globalização não me assusta, porque eu tenho a liberdade de fazer escolhas. Não preciso dos tops, das massas, das modas, das maiorias televisivas para decidir. Eu é que escolho, por isso não temo.

    Sim, a crise é cíclica, mas tal facto não resolve nada. É preciso compreender de onde ela vem para podermos reagir. Aceitar a crise como algo normal é correcto, mas não podemos usar esse argumento para nos demitirmos de fazer algo para a contrariar. Essa luta não é só uma batalha para os políticos e agentes económicos. É da NOSSA RESPONSABILIDADE tb! Enfim, estou farta daquele espírito luso que critica os Outros, mas nada faz. Tenho ouvido alguns pensadores sobre filosofia política (em Serralves houve há tempos atrás um ciclo de conferÊncias a pensar o mundo contemporâneo) e todos eles partilhavam a convicção de que o futuro (próximo, palpável, e não imaginário) teria de passar por um maior respeito das etnias, da Natureza, e do ser social. As pessoas têm sido muito esquecidas nesta ganância de lucro fácil. E esta situação conduziu a um colapso...não dá mais!

    Agora fui eu que me estendi. Obrigada pelo estímulo para pensar me justificar!

    Tvv

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  3. Vou tentar ser breve. Mas uma boa discussão é um desafio a que resisto com dificuldade.
    Essa do estímulo para te justificares... Já vi que não precisas e que o fazes constantemente (eu escrevi que acompanho o teu blog!). Mas isto é o que dá tentar sintetizar de mais. Surgem ambiguidades e brechas que aproveitaste muito bem.
    Arrumado o sr.Amin Maalouf (apesar de merecer mais atenção em determinados pontos que defende!)passemos à discussão.Não defendo cada cultura no seu cantinho! Além de ser quase impossível, se preconizo o conhecimento do outro isso não se faz sem contágio. Sim, preservarmos a nossa cultura com a contaminação que possa ter das outras. É positivo, parece que estamos de acordo. A globalização já não permite essa pureza que nunca defendi! Penso que quando dizes que és "anti-globalização" te referes à massificação, à normalização, ao estereotipo. A parte mais negativa. Mas quando estudas em Londres e encontras essa diversidade de raças (povos) estás a beneficiar dessa "arma". É evidente que os rótulos só servem a tal "normalização". É arrumar tipos para uma futura identificação. É o modo mais fácil de classificar e não ter mais preocupações. Assunto catalogado e arquivado e esquecido - se possível.A livre escolha e a responsabilização são "as duas faces da mesma moeda". Não podia estar mais de acordo. Até por outros assuntos colaterais que não cabem agora aqui, como a religião, para dar apenas um exemplo.
    A Crise! O facto de a julgar cíclica e dizer mais qualquer coisa sobre ela não leva à conclusão que defendo o imobilismo. Já ninguém consciente tem coragem de aparecer a criticar tudo e todos e não fazer nada. Compete a cada um de nós irmos mudando o que nos rodeia. No final a "bola de neve" deverá ter o seu impacto. Pelo menos acredito nisso. Já passei a fase de querer mudar o mundo. Se conseguir alterar, positivamente, alguma coisa do meu meio ambiente (onde incluo tudo, obviamente)já darei por bem empregue a minha passagem por aqui. - Soa a pomposo, mas não encontrei outra forma de o dizer. Esta caixa de diálogo atrofia-me. Se algum dia te apetecer discutir/conversar/dizer asneiras fá-lo para joriseq@netcabo.pt. Teria todo o prazer em responder ou limitar-me a ler.
    No fim parece estarmos de acordo. Com uma visão do mundo mais semelhante do que parecia inicialmente. E sim, acabo com uma frase tua: "As pessoas têm sido esquecidas pela ganância de lucro fácil". E isto é abominável! Intolerável!
    Gostei da discussão, apesar de todas as limitações inerentes ao meio. Percebo, agora, melhor o obrigado. Devolvo-o!

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  4. Sim, acho que não estámos assim tão distanciados. Gostei do desafio que lançaste; eu depois extrapolei noutras direcções, sem querer com isso dizer que TU és o típico português que critica e nada faz". Obviamente não me referia a ti em concreto. E peguei na crise como sinal de imobilismo porque achei que era preciso evitar essa tão afamada ligação. Não porque te achei "imobilista". Aliás, se respondeste ao post é sinal de seres alguém atento.
    Acho que me entendeste bem, por isso, a discussão segue para outros posts. Até breve!
    Tvv
    PS. Sim, eu sei que este formato tem as suas limitações mas acho mais giro manter a discussão aqui mesmo, de forma pública. Isto é meio a sério e meio a brincar :)

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