Tuesday 14 July 2009

Ensinar-te o QUÊ e COMO?!

Acabo de ser acordada pelo telefone
Alguém me pede num estado desesperado
para lhe ensinar a conquistar a liberdade e o prazer que encontrou no meu último video
e que sente que o perdeu algures no tempo
Ensinar-lhe o QUÊ e COMO?
Que livros? Que técnicas?
Como posso adaptar as minhas construções a outra pessoa?
Pensando nestas e noutras questões
verifico, com satisfação claro, o quanto já andei
e o quão distante estou dos formalismos e convenções associadas à música

Onde tudo começou?
Nos sons de George Crumb
ouvi-os e disse para mim própria "é isto o que eu quero tocar! Senão prefiro tocar nada"
Qual a minha primeira performance?
Troquei de casaco (!?) entre duas peças
precisava de mudar de identidade e fí-lo assim
o impacto no público foi ENORME!!!
Quais as minhas "técnicas"?
Estudo OUTRAS áreas para além de música
sejam elas performativas ou não
e interligo TUDO à música
O que leio?
Leio sobre TUDO
eu consigo cruzar TUDO com a música
consigo pensar sobre música lendo rigorosamente NADA sobre ela
tentei simplesmente responder às minhas questões
fossem elas sobre o estado do mundo actual (pósmodernismo), sobre a transcendência do ser humano (ritual, visceral, expressionismo) ou inquirindo acerca da necessidade da música nos indivíduos e sociedade actual
Quais as minhas referências performativas?
Desculpem-me a minha "anormalidade"
mas cansei-me de estudar música de uma forma tecnicista e fechada em si própria
simplesmente porque tanto conhecimento técnico, tanta análise, tanta veneração aos GRANDES mitos da música europeia
quase me fez perder o prazer que sentia antes por uma simples audição
quase assassinei aquele prazer de criança pelas coisas simples
aquele prazer de não pensar muito
e simplesmente FAZER porque sim
pelo prazer em si mesmo
Além disso sentía-me separada do Mundo
habitava uma torre de marfim acessível só aos entendedores da "grande música"
em vez de privilegiada sentí-me num gueto elitista?!
Então, decidi partir
fui à procura de contactos, empatias, contaminações, saberes
à procura de uma forma de expressão que fosse capaz de me exprimir com naturalidade
em ligação com o mundo que me rodeia, atento às suas interrogações e inquietações
Daí que as minhas referências venham essencialmente da dança, do teatro e da performance
aqui encontrei uma liberdade, uma ousadia e um contexto para experimentar novas formas de fruição estética
encontrei o arrepio, a compreensão, a loucura, o prazer, a facilidade e a naturalidade de mim

Segui o caminho de alguém que não se acomodou ao pré-estabelecido
de alguém que procurou a sua expressão singular
independentemente do que é suposto "ser-se"
e tenho esta ânsia de partilhar as minhas conquistas com o Outro
de propor uma nova forma de se pensar e fazer música
Por isso vou a conferências, escrevo, publico as minhas ideias sempre que posso
dou a cara: falo, toco, canto...

Se inspiro alguém a querer mudar o seu rumo
ou a pensar de uma forma diferente a música ou a Vida
é simplesmente MARAVILHOSO!!

Teresa

3 comments:

  1. Não te assustes, hoje não me vou alongar. É mais um esclarecimento, uma dúvida, que uma discussão sobre princípios.
    Mas antes deixa-me agradecer (passou da outra vez no aceso da conversa) a tua Pina Bausch. Foi (é?) emocionante.
    Começas por declarar que não sabes como ensinar outro. De acordo, nas artes julgo que cada um tem que descobrir o seu caminho ou perde-se na vulgaridade (podia dizer o mesmo da vida, mas é complicar muito).
    Fazes uma excelente narrativa do teu percurso e do teu "grito de Ipiranga"! É preciso coragem para largar o gueto elitista e partir.
    E como resolves essa ânsia de partilhar, de inspirar alguém a querer mudar o seu rumo "ou a pensar de uma forma diferente a música ou vida é simplesmente maravilhoso!!".
    Se bem entendi não podes usar nenhum método de ensino. Será através da partilha ou não será! Se sentes que é maravilhoso (e deve ser!!!) inspirar alguém a querer mudar, como aceitas a responsabilidade de a abandonar. Porque não podes ensinar, apenas partilhar. E esse partilhar entre iguais tem tendência a criar grupos elitistas. Sim, não é isso que pretendes, de maneira nenhuma! Só não entendo como evitas esse risco. O teu caso é maravilhoso, mas pretendes inspirar só pelo exemplo? Afastarás os que te querem seguir? Deixarás que os analfabetos vivam felizes sem saberem ler?

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  3. Obrigada mais uma vez pelo teu olhar atento.
    É claro que não abandonei essa pessoa. Já lhe escrevi a aconselhar uma data de livros. Eles são essenciais para percebermos o contexto da nossa formação e consequente formatação na forma de pensarmos e fazermos, neste caso, música. Os livros dão conforto às nossas inquietações porque nos explicam a razão de ser delas. Logo, dão muita força às nossas convicçôes e escolhas, mesmo que sejam fora do "mainstream". É neles que me apoio. Sei que a maioria dos músicos não leia, digamos ensaios críticos sobre a actualidade ou sobre artes com um perfil mais posmoderno (artes digitais, dança contemporânea, performance, live art), por isso ficam sempre agarrados à tradição, "métier" ou escola. Sem livros é difícil uma libertação plena(pelo menos funcionou comigo!)

    Depois dei-lhe uma série de ideias para ela explorar artísticamente. Tentei abrir-lhe o painel de possibilidades, rasgar os seus horizontes. Porque, claro, não posso ditar uma resposta absoluta. Não posso usar o que eu fiz como receituário para os outros. Ela terá de olhar para dentro de si mesma, perceber as sua inquietação, ganhar a ousadia para experimentar algo novo e fazer o seu percurso. Isto vai levar muito tempo, claro, mas Roma não se fez em dois dias!

    Escrevi este post quando me debatia com a questão do "que lhe vou dizer?". Sentí que, embora lhe quisesse ajudar, não podia descrever-lhe os meus passos como modelo para ela. Porque ela é diferente de mim!
    Achas bem a minha resposta? Obviamente, receituários e verdades absolutas não são comigo.
    Até uma próxima!

    Tvv

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