Monday 25 May 2009

Edgar Morin & Laurie Anderson

«O filósofo e sociólogo Edgar Morin, que hoje participa em Viseu num colóquio sobre Educação promovido pelo Instituto Piaget, defende uma "reforma radical" do modelo de ensino nas universidades e escolas, salientando a necessidade de acabar com a 'hiperespecialização'.

"Temos a necessidade de reformar radicalmente o actual modelo de ensino nas universidades e escolas secundárias. Porquê? Porque actualmente o conhecimento está desintegrado em fragmentos disjuntos no interior das disciplinas, que não estão interligadas entre si e entre as quais não existe diálogo", sublinha, em entrevista à Lusa. O filósofo francês considera que o modelo actual leva a "negligenciar a formação integral e não prepara os alunos para mais tarde enfrentarem o imprevisto e a mudança".

Edgar Morin, de 88 anos, critica, por exemplo, que nas escolas e universidades "não exista um ensino sobre o próprio saber", ou seja, sobre "os enganos, ilusões e erros que partem do próprio conhecimento", defendendo a necessidade de criar "cursos de conhecimento sobre o próprio conhecimento". Lamenta, igualmente, que a "condição humana esteja totalmente ausente" do ensino: "Perguntas como 'o que significa ser humano?' não são ensinadas", critica.

Por outro lado, acredita que a "excessiva especialização" no ensino e nas profissões produz "um conhecimento incapaz de gerar uma visão global da realidade", uma ‘inteligência cega’". "Conhecer apenas fragmentos desagregados da realidade faz de nós cegos e impede-nos de enfrentar e compreender problemas fundamentais do nosso mundo enquanto humanos e cidadãos, e isto é uma ameaça para a nossa sobrevivência", defende.

"Está demonstrado que a capacidade de tratar bem os problemas gerais favorece a resolução de problemas específicos", garante Morin, lembrando que a maioria dos grandes cientistas do século XX, como Einstein ou Eisenberg, "além de especialistas, tinham uma grande cultura filosófica e literária".

"Um bom cientista é alguém que procura ideias de outros campos do conhecimento para fecundar a sua disciplina", afirma, sublinhando que "todos os grandes descobrimentos se fazem nas fronteiras das disciplinas". Garante também que "apesar de em muitas universidades norte-americanas existir maior flexibilidade no que toca ao modelo ensino", nos Estados Unidos existe o "mesmo problema que na Europa". »

Texto retirado de : http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=31878&op=all


Não conhecia as ideias de Edgar Morin mas após leitura deste texto fiquei bastante curiosa de conhecer o seu pensamento, que parece ser tão radical quanto urgente nos tempos actuais. Igualmente sou avessa ao "conhecimento hiper-especializado", por múltiplas razões que nem vale a pena citar, mas sempre pensei ser uma questão de âmbito pessoal, não geral. Esta crença cega nos especialistas ("aqueles que vão resolver todos os nossos problemas") sempre me fez arrepiar...

Claro que todos nós precisamos de nos focarmos em algo, de nos especializarmos nalguma coisa, mas o perigo acontece quando nos tornamo-nos parte de um "clube" fechado que segue a lógica do "nós é que sabemos resolver os problemas das pessoas, logo, nós é que somos realmente importantes no mundo. Os outros não interessam". É preciso, dentro da nossa especialidade, pôr as antenas viradas para fora no sentido de establecer ligações ao que nos rodeia. Talvez daqui venha o meu fascínio pela filosofia, que sempre vi como a disciplina capaz de ligar os múltiplos fragmentos numa unidade mais ou menos coesa. É a filosofia que me dá noção do todo. Ela aborda o conhecimento científico, social, artístico, técnico, virtual, psicológico, etc., num único discurso. Cria a síntese.

Bem a propósito, o último trabalho de Laurie Anderson (Homeland, que vi o ano passado no Barbican) ironiza entre outras coisas esta cultura de idolatria dos "experts". A letra desta "canção falada" é magnífica! Ouçam com atenção, porque "only an expert can deal with the problem"...




Ela é realmente a "21st troubadour", como disse há uns meses atrás a jornalista americana Joy Goodwin (New York Sun).

Tvv

1 comment:

  1. Mais um exemplo de como ligo coisas díspares num mesmo elo. Estas conexões entre áreas diferentes são o meu fascínio da Vida. Porque dão-me uma noção do geral, através do particular.

    ReplyDelete

Maravilhas