Saturday 20 October 2007

Crónica inglesa 5: Resposta à crónica anterior



Vejo que o meu discurso ás vezes perturba as pessoas. Não se esqueçam que foi o facto de não me sentir satisfeita com a minha Vida que me fez procurar outro rumo. Procurei, pedi ajuda, trabalhei, tive respostas boas e outras menos boas, persisti e por fim...acabei aqui. Eu mereço tudo o que tenho aqui. Eu trabalhei para isto. Claro que tive ajuda de pessoas que foram generosas comigo. Sem elas tudo seria bem mais difícil. Agradeço-lhes.

O meu entusiasmo vem essencialmente dos projectos/workshops que faço fora do Mestrado. Sinto-me apreciada e valorizada pelos professores e pelos colegas com quem tenho colaborado num 'Documentário'. Deram-me oportunidades e eu revelei-me tal e qual sou. Sem a arrogância de quem sabe muito (eu tenho dúvidas; eu não sei tudo), mas também sem medo de mostrar o que sei. Fui verdadeira comigo própria e gostaram de mim. Agora tenho uma 'identidade' e as pessoas sabem o meu nome. Por isso, digo-o mais uma vez, eu mereço-o tudo o que tenho aqui.

O que me espantou no ensaio dos New Noise, e que originou a minha reflexão, foi a recepção que tive. Não me conhecendo de lado nenhum o líder do grupo perguntou-me simplesmente isto: «Que instrumento tocas? Piano? Tens aí um piano, toca connosco». Em Portugal é mais usual perguntarem-me: «Quem és tu? Com quem estudaste? Qual a tua média de curso?» Há algo bem diferente nestas duas abordagens. Eu procuro a resposta. PORQUÊ? Acho que ainda não tenho a resposta para isto (falei no medo de errar, com uma possível razão) mas asseguro-vos que vou procurá-la.

Outra diferença é que neste grupo os mais experientes tocam conjuntamente com os mais inexperientes. Ninguém pergunta às pessoas se são 'undergraduate' ou 'postgraduate'. Perguntam se querem improvisar/fazer música e só depois pelo seu nome. Gosto deste clima informal, onde várias personalidades, experiências e culturas se misturam, onde todos fazem música por puro prazer, sem distinções de nenhuma espécie. Há uma abordagem inclusiva da música que sempre senti falta em Portugal, onde a música é algo elitista ou clubista. Sempre as distinções, sempre a procura dos mitos, das vedetas da nossa rua...


E sim, eu sei que estou fora da vida real. Eu não vejo TV, eu não tenho jornais portugueses aqui, raramente alguém me conta o que se passa por Portugal. O meu mundo é feito de livros, de criações, de experimentação, de análise, de ideias, de conversas interculturais, etc. É irreal, eu sei. Mas a razão de tudo isto é poder voltar um dia para o meu querido país e ser capaz de contribuir de uma forma mais consciente para uma mudança. Uma mudança na forma de se pensar, de se fazer e de se ensinar Música, que quero mais inclusiva e humana. É em Portugal que eu quero agir. Não estou aqui só para mim.

E estou a aprender empiricamente, ou seja, fazendo. Por enquanto estou livre de 'essays' por isso posso a explorar mais o lado performativo. Mas virá o tempo em que terei de passar a vida junto ao computador. Mas também aí estarei a produzir algo criativo. Cada momento tem o seu 'prazer' e a sua dificuldade. É assim que vivo. Sendo inteira em cada momento (Fernando Pessoa diz algo assim).

Eu decidi viver o presente. Eu estou a arriscar e não tenho garantias de nada quanto ao futuro. Só posso garantir uma coisa: que não serei a mesma pessoa que era antes de vir para aqui e se tiver de fazer as mesmas tarefas que sempre fiz, não as farei da mesma forma. Esta é a minha única certeza. Quanto ao resto... não estou preocupada. E sabem porquê? Simplesmente porque ainda não chegou o momento! Agora, não é esse momento. Agora é tempo de absorver o máximo; de aprender a todos os níveis. Por isso, Carpe Diem!

Teresa

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