Saturday 20 October 2007

Crónica inglesa 4: Pensamentos sobre nós, Portugueses



Afinal aquilo que pensava ser a excepção está a tornar-se a regra!! Em vez de vos descrever o que fiz vou apenas transcrever algo que pensei e escrevinhei no ensaio do grupo de improvisação 'New Noise' que assisti há poucas horas:

«Esta música poderia durar horas e horas... não me cansa. Só me apetece saltar desta cadeira e dançar ali mesmo, no meio. Porque me sinto tão capaz de fazer isto? Porque sou repentinamente tão extrovertida? Porque me sinto tão capaz de me exprimir livremente aqui?

A resposta é simples: aqui não tenho medo de errar! Em Portugal senti sempre um medo de errar; um medo de não ser boa o suficiente; um medo disto, um medo daquilo...isto é um peso terrível para quem é jovem e precisa de aprender. Só conseguimos crescer experimentando e, provavelmente, errando. Depois vem a vontade de superar o erro. E isto é que é aprender. Porque não experimentar algo novo? Só porque sim, 'just for fun'? Acho que nós, Portugueses, precisámos de ter a coragem de errar. Iríamos mais longe ainda...

Já que falei em Portugal aqui vai: acho que Portugal tem, sem qualquer dúvida, gente muito competente e consistente no seu 'métier'; há mesmo muito potencial humano. Mas falta algo, algo que impede as pessoas de ir mais longe. Penso que o nosso maior problema é a inveja 'do vizinho', é pensar no que está ao nosso lado como referência em vez de olhar mais longe e mais alto. Faz algum sentido isto? Para mim, faz.


O que sei é que aqui tenho muito ar para respirar; tenho muito espaço para me movimentar; tenho o tudo o necessário para me descobrir. Aqui brotam-me ideias e ideias para trabalhar; faço coisas incríveis que nunca tive a coragem de fazer e descubro que afinal sempre as tive dentro de mim. Tudo brota com uma facilidade e uma intensidade que me espanta! Aqui tudo me é fácil...que se passa? O que esteve mal até agora?

Em cada dia que passa os meus horizontes alargam-se mais e mais, e o meu entendimento do que é Música é MUITO mais do que aquilo que aprendi no passado. Quanto à parte performativa (meu Deus!) há algo que está a explodir em mim. Sinto-me finalment una, livre, naturalmente expressiva em tudo o que faço ou toco. Acho que estou a viver um sonho!

Voltando á música, o que ouço agora poderia ser um belo exemplo do pós-modernismo na música. Tudo aos pedaços; ouço um bocado de todos os estilos e ambientes sonoros possíveis. Ouço o TUDO, a síntese, a mistura. E não é caótico. Soa-me mesmo bem. Hoje já não há o mito da originalidade. Já tudo foi inventado. Resta-nos, como disse Baudrilllard, brincar com os pedaços. É o que faz o 'New Noise'»

Um bocadinho da minha inspiração para vocês!

Teresa

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