Saturday 3 November 2007

Crónica inglesa 7: A minha estreia no grupo «New Noise»

Esta semana vivi uma série de experiências novas (monóloguo teatral e música improvisada, em especial) e tudo parece 'dejá vu'; parece que sempre fiz isto na minha Vida. Acho que tal naturalidade vem do facto de ter acumulado experiências ao longo da vida que absorvi dentro de mim. Agora todo esse passado transparece nas minhas acções. É como se estivesse à espera de algo que as despertasse de dentro de mim, algo que me despertasse... todos os dias têm sido dias de descoberta de mim. Acho que é um princípio que quero manter pela Vida fora.

O mais marcante da semana foi a minha estreia como 'vocal improviser' nos New Noise. Foi, no mínimo, uma estreia muito interessante. Deixei a minha marca de forma muito forte no seio do grupo (como dizia César: vim, vi e venci). Foi algo inevitável e natural. Não consegui ser apenas cantora, no sentido melódico do termo. Tive de imitar vocalmente tudo o que imaginei, tudo aquilo que os sons me sugeriam a nível de imagem ou de apenas emoção. Eis algumas das personagens que fui:
  • fui uma criança, que só queria brincar e correr com o seu amiginho;
  • fui um homem bêbado, perdido, cuja dor da Vida é anestesiada pelo álcool (inspiração de Tom Waits, claro);
  • fui uma brasileira 'gostosona' a passear no calçadão de Copacabana;
  • fui uma africana, mulher lutadora, com vida difícil...mas sempre feliz e com um sorriso aberto e sincero na cara;
  • fui uma cantora de Jazz, sempre com uma voz quente, sexy e 'spicy', apesar das amarguras da Vida;
  • fui uma guitarra baixo a tocar algo funky, sempre imbuída de ritmos dançáveis e urbanos;
  • fui uma ninfa/druida/fada (?), cujo canto angélico paira sobre as pedras de Stonehenge (que ainda não visitei, ups!) num apelo místico a outro mundo;
  • fui apenas um sopro, um suspiro de ânsia e de paixão desejada, mas não consumada (inspiração da 'Mazurka Fogo', da sempre surpreendente Pina Bausch);
  • e fui o vento... fui a própria Natureza.


Enfim, foi incrível os sítios por onde a minha imaginação voou naquele momento. Fui uma surpresa para os meus colegas, mas fui-o sobretudo para mim. Eu aprendo tanto sobre mim e sobre Música 'fazendo-a'... Fui feliz nestes momentos. Esqueço tudo e todos; só conta a energia, a imaginação...

Ando excitada com a música improvisada, com o trabalho do John Zorn, com o 'nosso' Carlos Zíngaro (talvez faça um trabalho sobre ele..), porque estou a sentir na pele a energia e a liberdade que a improvisação dá. Parece que toca as nossas energias vitais. E depois, ela é tão inclusiva, abarca tudo e todos. É o espírito que procurava à tanto tempo... encontro-o agora, yes!!

Também ando a saber mais sobre a interacção da música com o movimento lendo entrevistas à 'performer artist' Meredith Monk, vendo coreografias da Pina Bausch, da Anne Teresa Keersmaker, da Trisha Brown, e outros. Estou em fase de recolha de estímulos. Depois tudo isto irá transparecer nos meus trabalhos, em especial nos ligados à parte improvisada e performativa. Já tenho algumas ideias...

E.....ando excitada com o meu regresso a Portugal. É tanta a minha ânsia!! Estou inquieta e ando farta da comida aqui. Quero comida portugueeeeeeeeesa!!!!!!! Acho que vou explodir quando chegar a Portugal (regresso dia 16).

Fico por aqui. Espero encontrar-vos bem e talvez nos reencontremos em breve!!

Teresa

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