Tive a sorte de ver este documentário no passado Sábado na RTP2
vieram-me as lágrimas aos olhos
(que benção são estas lágrimas para mim... SINTO-me finalmente)
Ouvir um piano desafinadíssimo; ver umas instalações muito precárias mas cheias de vibração humana; ouvir falar de "Romantismo" num contexto africano; ouvir o Alfredo tocar a "sonata ao luar" de Beethoven... fico sem palavras.
Mas pior são os preconceitos que os alunos, em especial as mulheres, têm de enfrentar. "Você vai estudar o quê??"
Uma delas (Domingas, 42 anos, divorciada, 5 filhos, desempregada) vivia deprimida na sua condição de mãe e esposa (a única permitida às mulheres). Encontrou nesta escola a alegria e o sentido que lhe faltava. Ao ponto de ter de se divorciar porque o marido lhe batia e ameaçava de morte por ser estudante dessa coisa estranha.
Joana diz que o seu companheiro a obrigou a escolher entre o casamento e a escola de música. Escolheu continuar os seus estudos. Quer ser a primeira mulher - baterista angolana, apesar do professor ter desaparecido a meio do ano.
A directora da escola recebe constantemente ameaças de morte pelo facto de ser mulher num cargo de chefia. É muito difícil ser-se "chefiado" por alguém que usa saias. Ela decide ir-se embora e a escola fecha.
Alfredo, que escapou ao destino de ser soldado, luta por um espaço seu na música. Ele toca Beethoven com uma dedicação e abnegação louvável. Um amor gratutito a algo que acredita e sente como único caminho possível para a sua vida.
O documentário vai mais longe e filma estes estudantes em suas casas. Ver um dos filhos a tomar banho numa bacia pequena com a ajuda de um caneco, tocou-me fundo outra vez...
É incomparável esta situação com a nossa. Sim, estão muito "atrasados" dos índices ocidentais, quer musicais, sociais, quer escolares; mas aqui tal comparação nem se põe. Esta escola é MUITO mais do que qualquer índice europeu.
É preciso resistir ao apelo fácil de considerá-los "coitadinhos". Eles são é uma FORÇA DA NATUREZA! E por isso, uma inspiração para mim.
Todas as escolas de música Portuguesas deveriam ver este documentário. Porque é fundamental não esquecer a essência da música, o seu papel na vida das pessoas. Sejam elas profissionais, estudantes, meros diletantes, amadores, melómanos ou simplesmente pessoas. É primordial nunca deixar de sentir a compreensão, a alegria e o sentido que sentímos naturalmente em criança, mas que muitas vezes se esmaga face a uma competição desenfreada onde o tudo vale.
Nesta escola vi e senti a importância da Música na vida das pessoas. Não o esqueçamos!
Teresa
Para saber mais, consultar http://www.escapefromluanda.com/about.php
Opressão, liberdade, desigualdade, justiça, mesquinhez, grandeza, música, silêncio, beleza... O mundo sempre foi assim. Não vivemos de modo nenhum num modo pós-moderno como escreveu ali ao lado.
ReplyDeleteSim, o mundo é assim. Mas pode e deve mudar. O que é preciso é trabalhar para isso, se algo nos indignar.
ReplyDeleteTudo aquilo que vi naquela escola eu viví-o tb na minha adolescência:os preconceitos de ser estudante de música, as instalações precárias da escola, professores muito limitados, o rendimento baixo dos alunos face ao resto da Europa, etc.. Portugal nos anos 80 era muito atrasado, conservador e pouco aberto ao mundo exterior. Mas hoje vejo o quanto as coisas mudaram, quer como profissional da música quer como mulher.
Ver um documentário assim não é para nos paralisar e tirar as forças (do género "a vida é assim mesmo, não há nada a fazer") mas para nos "acordar" para o que ainda falta fazer.
O mundo pós-moderno é esta mistura de coisas, do passado e do futuro, do modernismo e do arcaico, do científico e do narrativo, do intelecto e do emocional. Nós nunca vivemos num modo "puro", mas numa mistura de modos de estar. E isso adapta-se perfeitamente ao paradigma pósmoderno (avesso a estados puros). Mas, penso eu, provavelmente já estámos noutro patamar diferente... o mundo está em permanente devir.
Obrigada pelo teu comentário.
Teresa
É a eterna batalha pela luz do conhecimento, os que a procuram são quase sempre hostilizados, oprimidos, uns não aguentão, outros fazem a História.
ReplyDeleteFiquei muito sensibilizado com o teu post, parabéns por mostrares as realidades e contrastes que existem no mundo em pleno século vinte e um, é triste sabermos que existem realidades como estas em outras partes do mundo, isto deveria-nos fazer sentir que nós estamos muito bem apesar das dificuldades que temos que ultarpassar não chegam sequer a ser nada comparado com estas situações, aproveito o meu comentario para dizer que fui no sábado passado ver o espectaculo nas piscinas do fluvial e gostei muito, estava a ver que não entrava pois já não havia bilhetes, mas no fim foram generosos e abriram uma bancada que embora não fosse muito boa para ver o espectaculo já foi bom, bom final de semana, bjs..
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