Monday 14 September 2009

A velhinha de Chaves

Uns olhos húmidos me abordam
senhora com os seus 80 anos
vestida de fato domingueiro azul
cabelos muito branquinhos e limpos
dentes escassos
ruguinhas no rosto e mãos
muito bonita, uma simplicidade sóbria
mas com olhos tristes

Ouço-a
bem, na realidade não a ouço
observo-a
a sua aflição comove-me mais do que tudo
aperto-lhe as mãos e lanço um sorriso
sem nunca largar os seus olhos dos meus
ela pergunta-me
«A menina conhece Chaves?»
«Não, mas meus pais vão a Trás-dos-Montes muitas vezes comprar azeite»
o rosto logo ilumina-se
alguém conhece a sua terra
«Pois, toda a gente vai a Espanha comprar azeite. Poucos são os que compram lá»
«Os meus pais sempre compraram azeite em Chaves e Mirandela. E tenho uma grande amiga de Chaves»
o rosto ilumina-se mais ainda
«Oh, ás tantas ainda a conheço. Como se chama?»
«Melissa, é professora de piano. Mas trabalha em Vila Real»
E a conversa foi por aí fora
com o rosto mais aliviado da tensão
encontrou alguém que entendia o seu viver e a sua terra


Não aguentei ver uma senhora naquela situação
alguém que podia ser minha avó
ou uma octagenária da minha aldeia
É-me revoltante
como podemos nós - sociedade e Estado - deixar as pessoas caírem nesta situação?
pessoas que já trataram dos seus pais, do marido e dos filhos, talvez emigrados agora
quem trata delas agora? (suspiro)

Perguntei-lhe o que precisava
pouco mais de nada
dei-lhe um pouco mais
desta vez é ela quem me aperta as mãos
«Por favor, venha a Chaves»
«Não creio que o possa fazer. Apenas quero que regresse a casa tranquila»
Olha-me bem dentro de mim
aperta de forma vigorosa as minhas mãos
(como se ela fosse jovem e eu uma velha)
«Se não fosse a menina que seria de mim agora?»

Regressei ao meu café com o coração transformado
estava....FELIZ!?
Mais tarde conto de forma breve o episódio a amigos
estes põem-me céptica e triste
enfim, contos do vigário praqui e pracolá
Fiquei a pensar
Seria a história desta senhora verdade?
Raios, porque lhe disse não iria a Chaves?!
Assim tiraria as dúvidas...
Depois penso
Eu é que olhei nos seus olhos
senti a força e calor das suas mãos
vi o seu rosto transformar-se quando falou da sua terra
Foi um sentir que me impediu de lhe dizer oc costume: Não!

E porque me vêm as lágrimas aos olhos agora?
Eu tenho de Acreditar nas pessoas!!
Mesmo que tal não passe de uma farsa, o que perdi?
nada, pouco mais de nada
E se fosse verdade?
Eu não poderia correr esse risco
não me perdoaria
Eu sei o quanto nos tornamos indiferentes ao sofrimento dos Outros
eu também me tornei assim
por norma nunca dou moedinhas nem esmolas
mas hoje não consegui ser assim
eu tenho de Acreditar nas pessoas
e acreditar que há pessoas boas e verdadeiras nos seus propósitos
e que há energias que se transmitem de pessoa para pessoa
Senão...
fico seca e amarga
Eu jamais quero ser assim!!

Teresa vv

3 comments:

  1. É normal a hesitação, mas com o tempo há quem desenvolva um sentido para apurar e distinguir os parasitas daqueles que estendem a mão a pedir ajuda verdadeiramente. ''Há mais alegria em dar do que em receber.''

    Fica bem

    Passa no meu blog e comenta!!!

    :0)

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  2. Uma das coisas que mais admiro em ti é essa tua capacidade de acreditares nas pessoas...Também sou um pouco assim, e raramente sofro uma desilusão. Nós temos boa intuição, amiga, não interessa o que dizem os outros. Nunca percas essa tua capacidade de ACREDITAR que tanto admiro;)

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  3. minha amiga ainda bem que acreditas e isso é o mais importante.foste sensível viste a fragilidade que tantas vezes se mascara com duras armaduras e dixaste sentyir o coração. ainda bem que assim é.é tão difícil ser-se genuíno actualmente....
    beijos com saudades
    melissa

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