Tuesday 28 April 2009

Lá para o fim, apresento-vos Stelarc

Hoje quero escrever algo
Ainda não sei bem o quê
Algo vindo do nada
Sem razão aparente
E não me apetece ser correcta com a pontuação do texto
Estou numa irreverência juvenil

A foto nada tem haver com o meu pensamento
Apetece-me simplesmente partilhar imagens
Imagens que ando a recolher sobre Live Art
Imagens que gosto
Esta é de uma coreografia da Pina Bausch
Pungente e lírica
Cores fortes e apaixonadas
Foto acústica

Agora algo que não tem nada a ver
O meu percurso auditivo

  • Em criança quando me pediam para cantar cantarolava "Sobe, sobe balão sobe" da Manuela Bravo acabadinha de ganhar o festival da canção

  • Logo a seguir comecei a cantar em inglês com os ABBA. Conheci todo o seu repertório e chorei quando eles terminaram

  • Depois a pirosada dos anos 80. Ouvia a música pop do momento. Consumia e deitava fora. Nada ficou dentro de mim. Excepto o "Não há estrelas no céu" do Rui Veloso que me acompanhou Verões sem fim na praia deserta da Apúlia

  • Com os 17 ou 18 anos descubro os decibéis do rock dos anos loucos (60/70s) através dos Led Zeppelin. Nada de Stones, ou Beatles ou Pink Floyd. Apenas Led Zeppelin, não sei porquê...

  • Anos mais tarde, já na faculdade e com 19 anos, reconciliei-me com o Piano (o meu segredo de adolescente!) e ouço obsessivamente a Antena 2. Ganhei uma base sólida do repertório clássico que me tem acompanhado até hoje. Enquanto estudava reacções metabólicas, mecanismos de regulação enzimática e técnicas de manipulação genética, ouvia sinfonias, trios de câmara, música barroca, ópera, canção francesa e todo o repertório para piano (claro)

  • Já na ESMAE ouço mais do Canon da música erudita Europeia; interesso-me pela tradição mais recente da música e descubro Ligeti, Crumb, Stokhausen e... o Jazz!! Um jazz bem docinho - o contraponto necessário a tanta vanguarda de sons

  • E, como não tenho mais paciência, salto para os anos mais recentes onde perdi todas as inibições auditivas que ainda restavam e ouço sonoridades electrónicas, o exotismo das músicas do Mundo, o free jazz, as fusões da música erudita com a popular (tipo Fredric Rzewski), o universo peculiar do Tom Waits (que me acompanhou em toda a jornada inglesa), a voz hipnótica de Laurie Anderson, o experimentalismo dos sons da vanguarda, o regresso ao universo pop, o flamenco, o fado...ouço TUDO, TUDO!
Isto para dizer o quê?
Que vou renovando os sons que me rodeiam
Cada um deles me traz memórias de sabores, experiências, certezas e ingenuidades
Eu gosto de cada um desses momentos mas preciso de me renovar CONSTANTEMENTE
Preciso de procurar o som que me define nesse momento
Aquele que me explica e me compreende
A minha relação mais séria da vida estão nestes sons
Sempre em des-sintonia uns com os outros

Ser-me-ia impossível viver agarrada de forma dogmática ou cega a um som apenas
A renovação, a procura constante de algo novo, é o que me sustenta o ânimo e alegria de viver
Por isso, é-me incompreensível ver o quanto as pessoas se agarram ao passado, sem nunca o largarem
Parece que têm medo de trair os seus sonhos da sua juventude
E lá vão ouvindo sempre, sempre, sempre, e mais uma vez, as mesmas melodias e sonoridades
Obviamente não há nada de mal nisto
Apenas é um sinal do quanto as pessoas se sentem inseguras do presente e têm medo de arriscar
E isso é o que EU não quero

(Como vêm
Eu uso SEMPRE a música para me compreender e aos Outros)

Comecei com uma foto acústica
Termino com uma foto fortemente ruidosa
Apresento-vos Stelarc, o "live artist" australiano que conheci na Brunel, cujo trabalho se centra na convicção de que o corpo humano é "obsoleto"



Para ele, o corpo já deu o que tinha a dar
As suas capacidades já foram exploradas ao limite em todas as áreas: físicas, cognitivas, psicológicas e sociais
Além disso, o corpo não é perfeito nem eficiente
Cansa-se rapidamente, apanha doenças, tem limites de sobrevivência muito apertados
Resta ampliá-lo ou dotá-lo de novas capacidades através de prostéticos quer tecnológicos, virtuais ou biológicos

Aqui, ele apresenta o seu terceiro braço
Na Brunel, apresentou o seu ouvido-extra que "construiu" biologicamente no seu braço esquerdo
Ele redesenha o seu corpo e cria um ser híbrido
Explora a interface humano-tecnológica de forma REAL
Porque o corpo é "obsoleto"

Sei que parece estranho tudo isto
Também o foi para mim, mas já não o é
Ele fez-me pensar nos limites do corpo humano
E eu gosto de ser desafiada
Obviamente não estou com vontade de testar "prostetesias" (inventei esta palavra agora) deste tipo em mim
Continuo a ser alguém fundamentalmente acústico

Teresa vv

PS1. Raios, eu que queria escrever algo curtinho...

PS2: Para saber mais sobre Stelarc: http://www.stelarc.va.com.au/
E um video que encontrei do Stelarc com o seu terceiro braço, num video dos Queen.


2 comments:

  1. É sempre um pazer ler-te, independentemente de ser curtinho ou não, sabes faze-lo sem me maçares! Gostei!

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  2. Sublinho totalmente o que disse a Sofia, e acrescento achei fantástica a forma como resumiste o teu percurso na musica, e fui visitar o link do Stelarc realmente incrivel a conjugação humano-tecnologica...

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