Thursday 7 August 2008

Crónica inglesa 12: Festival Dínamo

Que dizer? Sinto falta de uma ligação a algo mais...por isso escrevo.

O melhor dos dias são as noites... já não sabia o que era estar sentada num jardim nas primeiras horas da madrugada, com o corpo cansado e com uma satisfação interior de dever cumprido. Fico horas assim, sentada neste banco de jardim. A sentir a temperatura amena na pele, a ouvir o silêncio, e a "ouvir-me". Pergunto-me: como estás Teresa?

Estou parada, calma e nostálgica. Porque se aproxima a hora de me despedir deste banco, deste riacho, destas árvores e desta relva verde, sempre verde. Porque aprendi muito e fiz o que gosto ao longo deste ano. Sim, tive lágrimas, mas o saldo é francamente positivo.

Penso em Portugal, onde pessoas pagam do seu bolso para organizarem festivais fora do espírito massificador/consumista e lutam por um respeito elementar à diferença. Estes têm de ser os nossos heróis! Por isso transcrevo a minha resposta ao organizador do festival Dínamo (festival de músicas exploratórias) que decorreu na terra sacrossanta de Barcelos!! Eu não consigo imaginar algo de alternativo/experimental a contecer na minha terra-berço, sempre tão avessa a ambições de qualquer ordem. Às vezes aparecem oásis como este...

«Olá Luis Jacinto, obrigada pelas informações. Acabo de ver o site "esquilo" e é bom ver que há muita coisa para eu ouvir, conhecer e aprender. Fiquei curiosa. E surpreendida. Sim, Portugal é um país periférico, mas não me parece à deriva do resto do Mundo. Há sempre oásis a aparecer e lutas a acontecer. Há muita "cena" alternativa e isso enriquece-o.

Este ano estive praticamente isolada do mundo, num local incrivelmente internacional mas, infelizmente, muito igual. Pergunto-me, como é possível que as pessoas, que vêm de todos os hemisférios e latitudes, sejam tão idênticas, tão pouco curiosas pelo mundo, tão pouco ousadas na Vida? Como é possível se contentarem com tão pouco e ainda por cima sem serem capazes de pensar se isso é o que realmente querem? Por isso, felicito-vos pela organização de algo alternativo, arrojado; algo que questiona o que entendemos ser "música". A arte não pode ser direitinha, conformada, demasiado confortável. Às vezes ela tem de ser, como diria Antonin Artaud, "cruel". Eu uso a música para as questionar sobre tudo isto, como provocação. Mas sempre de forma "amável", sem gritos histéricos. Sempre com muita calma. Por isso faço "performances".

Estar nesta universidade foi-me muito enriquecedor. Aprendi o que é improvisação, que eu transformo em performance, e encontrei os livros que justificam tudo o que faço. Portugal deu-me coisas boas, claro, mas faltaram estas duas coisas: livros e improvisação. Por isso, há que continuar, espero que com apoios da próxima vez, porque um mundo sem alternativas é um mundo cruel! Parabéns pelo vosso esforço e vou ficar atenta às vossas actividades.»

Teresa

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