Uma biblioteca global acessível a todos, em todas as línguas, onde encontro mapas do século 18 do "Kingdom of Algarve" (é assim que é referido no site) ou um livro sobre as "possessões" lusas na Oceania, de Affonso de Castro (1867).
Curioso também um livro chinês sobre as cerimónias relacionadas com o Amor e Romance, escrito em lígua Naxi (nunca ouvi tal!), apenas usado em rituais shamanísticos. Bem, só tem duas páginas muito ilustradas com animais e pássaros. Lamento mas isto não é o Kama Sutra chinês.
Para já tem essencialmente documentos históricos, normalmente pouco acessíveis ao público. Fica aqui o registo desta biblioteca online recentemente "aberta" ao público (tem 9 dias de vida).
Hoje quero escrever algo Ainda não sei bem o quê Algo vindo do nada Sem razão aparente E não me apetece ser correcta com a pontuação do texto Estou numa irreverência juvenil
A foto nada tem haver com o meu pensamento Apetece-me simplesmente partilhar imagens Imagens que ando a recolher sobre Live Art Imagens que gosto Esta é de uma coreografia da Pina Bausch Pungente e lírica Cores fortes e apaixonadas Foto acústica
Agora algo que não tem nada a ver O meu percurso auditivo
Em criança quando me pediam para cantar cantarolava "Sobe, sobe balão sobe" da Manuela Bravo acabadinha de ganhar o festival da canção
Logo a seguir comecei a cantar em inglês com os ABBA. Conheci todo o seu repertório e chorei quando eles terminaram
Depois a pirosada dos anos 80. Ouvia a música pop do momento. Consumia e deitava fora. Nada ficou dentro de mim. Excepto o "Não há estrelas no céu" do Rui Veloso que me acompanhou Verões sem fim na praia deserta da Apúlia
Com os 17 ou 18 anos descubro os decibéis do rock dos anos loucos (60/70s) através dos Led Zeppelin. Nada de Stones, ou Beatles ou Pink Floyd. Apenas Led Zeppelin, não sei porquê...
Anos mais tarde, já na faculdade e com 19 anos, reconciliei-me com o Piano (o meu segredo de adolescente!) e ouço obsessivamente a Antena 2. Ganhei uma base sólida do repertório clássico que me tem acompanhado até hoje. Enquanto estudava reacções metabólicas, mecanismos de regulação enzimática e técnicas de manipulação genética, ouvia sinfonias, trios de câmara, música barroca, ópera, canção francesa e todo o repertório para piano (claro)
Já na ESMAE ouço mais do Canon da música erudita Europeia; interesso-me pela tradição mais recente da música e descubro Ligeti, Crumb, Stokhausen e... o Jazz!! Um jazz bem docinho - o contraponto necessário a tanta vanguarda de sons
E, como não tenho mais paciência, salto para os anos mais recentes onde perdi todas as inibições auditivas que ainda restavam e ouço sonoridades electrónicas, o exotismo das músicas do Mundo, o free jazz, as fusões da música erudita com a popular (tipo Fredric Rzewski), o universo peculiar do Tom Waits (que me acompanhou em toda a jornada inglesa), a voz hipnótica de Laurie Anderson, o experimentalismo dos sons da vanguarda, o regresso ao universo pop, o flamenco, o fado...ouço TUDO, TUDO!
Isto para dizer o quê? Que vou renovando os sons que me rodeiam Cada um deles me traz memórias de sabores, experiências, certezas e ingenuidades Eu gosto de cada um desses momentos mas preciso de me renovar CONSTANTEMENTE Preciso de procurar o som que me define nesse momento Aquele que me explica e me compreende A minha relação mais séria da vida estão nestes sons Sempre em des-sintonia uns com os outros
Ser-me-ia impossível viver agarrada de forma dogmática ou cega a um som apenas A renovação, a procura constante de algo novo, é o que me sustenta o ânimo e alegria de viver Por isso, é-me incompreensível ver o quanto as pessoas se agarram ao passado, sem nunca o largarem Parece que têm medo de trair os seus sonhos da sua juventude E lá vão ouvindo sempre, sempre, sempre, e mais uma vez, as mesmas melodias e sonoridades Obviamente não há nada de mal nisto Apenas é um sinal do quanto as pessoas se sentem inseguras do presente e têm medo de arriscar E isso é o que EU não quero
(Como vêm Eu uso SEMPRE a música para me compreender e aos Outros)
Comecei com uma foto acústica Termino com uma foto fortemente ruidosa Apresento-vos Stelarc, o "live artist" australiano que conheci na Brunel, cujo trabalho se centra na convicção de que o corpo humano é "obsoleto"
Para ele, o corpo já deu o que tinha a dar As suas capacidades já foram exploradas ao limite em todas as áreas: físicas, cognitivas, psicológicas e sociais Além disso, o corpo não é perfeito nem eficiente Cansa-se rapidamente, apanha doenças, tem limites de sobrevivência muito apertados Resta ampliá-lo ou dotá-lo de novas capacidades através de prostéticos quer tecnológicos, virtuais ou biológicos
Aqui, ele apresenta o seu terceiro braço Na Brunel, apresentou o seu ouvido-extra que "construiu" biologicamente no seu braço esquerdo Ele redesenha o seu corpo e cria um ser híbrido Explora a interface humano-tecnológica de forma REAL Porque o corpo é "obsoleto"
Sei que parece estranho tudo isto Também o foi para mim, mas já não o é Ele fez-me pensar nos limites do corpo humano E eu gosto de ser desafiada Obviamente não estou com vontade de testar "prostetesias" (inventei esta palavra agora) deste tipo em mim Continuo a ser alguém fundamentalmente acústico
Teresa vv
PS1. Raios, eu que queria escrever algo curtinho...
PS2: Para saber mais sobre Stelarc: http://www.stelarc.va.com.au/ E um video que encontrei do Stelarc com o seu terceiro braço, num video dos Queen.
Cá está uma loja online para os interessados em publicações e artefactos relacionados com Live Art: teatro experimental, body art, performance digital, história e teoria da Performance. Podem encontrar livros, DVDs, bem como edições limitadas, e os preços variam entre as 10£ e as 500£. Este último valor refere-se a uma edição limitada de um livro de Franko B feito para o 10º aniversário da Live Art Development Agency.
Este italiano, radicado em Londres há três décadas, é dos artistas mais em voga no mundo da Live Art. TODA a gente quer fazer workshops com ele! Ele é que é!
Investiguei um bocadinho sobre o seu trabalho e o que me saltou mais à vista foram os títulos dos seus projectos. Pararam a minha respiração..
Oh Lover Boy (2001)
I Miss You!
I'm Thinking of You (2009)
Blinded by Love
Meu Deus, que homem mais intenso! Só poderia ser latino (e muito gay)!
Pois, eu também não conhecia. Mas pelos vistos esta companhia profissional de teatro já existe há alguns anos e resulta de um esforço conjunto de cinco autarquias do Alto Minho para criarem uma companhia próxima das suas terras e tradições. Um teatro para as pessoas que nunca foram ao Teatro. Esta companhia apresentou este fim de semana um programa ousado e fisicamente muito exigente, tanto para actores/produtores como para o público. Incluiu cinco apresentações, cada uma com duração aproximada de duas horas (acreditem, o tempo passou a voar...), em locais recônditos do Alto Minho que se tornaram em espaços de excelência dramática: uma mercearia e ermida na freguesia de Lara/Monção, uma casa rural na freguesia de Parada do Monte/Melgaço e outra casa antiga na freguesia do Bico/Paredes de Coura. (Houve mais, mas eu não assisti a tudo, infelizmente.) Terras todas elas aqui tão perto e simultâneamente tão distantes de nós.
Fui um pouco por acaso. Sem saber exactamente ao que ia, pois não gosto de saber tudo em antecipação, deixei-me levar pelos amigos e fui para terras nortenhas. Dou por mim a reviver memórias cheiros, sabores, pessoas, paisagens, lendas e histórias de tempos antigos que, afinal de contas, também fazem parte de mim. Apesar de não ter pensado muito sobre isto, confesso que temia ver algo brejeiro e/ou paternalista sobre os hábitos, cultura, saberes e estilos de vida minhotos, muitas vezes tão rudes e cruéis para pessoas fora deste contexto geográfico. Verifiquei surpreendida (e agradecida!) que me enganei. Através dos pequenos momentos performativos vi que os encenadores/actores souberam deixar para trás o seu olhar enviesado de quem é "gente da cidade, cosmopolita e civilizada" para olharam de frente nos olhos daquelas pessoas, tão cheios de sonhos e de expectativas como os de qualquer um de nós. As suas histórias e memórias tornaram-se numa valiosa matéria-prima para a criação de momentos de magia, de comicidade, de poesia física e metafísica, com que brindaram todos os sentidos dos espectadores (por vezes actores também).
Ouvi histórias simultaneamente arrebatadoras e cruéis como a de Clotilde que envelhece sozinha junto à maquina de costura, rodeada de lágrimas e suspiros resignados, esperando em vão pelo regresso do seu marido emigrante; ou a história pungente de um touro perdido, apavorado e humilhado pelo destino;
Recordei o cheiro das casas antigas, aquecidas pelo bafo dos animais no rés-do-chão, com mobiliário simples mas sempre ornadas com rendas e panos de linho, para dar um toque de beleza cuidada;
Degustei o sabor honesto de um sopa feita com a couve mais 'grosseira' que há, a couve galega;
Relembro o regresso dos "francius" durante o Verão, sempre com os seus histerismos e falas mestiçadas;
Ouvi Roberto Leal, o grande animador dos bailes em honra da Nossa Senhora disto e daquilo;
Enterneço com a solidão resignada e beleza calma da Sr.ª Esmeralda, cujos os sonhos de criança ainda hoje persistem aos 80 anos;
Ouço os pregões, as premonições sombrias do Sr. Padre;
Ginastico o corpo através da mestria de quem sabe, ou seja, do sr. Hipólito (?), cujo sustento da famila depende do seu vigor;
Ouço o som rouco da caneta no papel rude e as palavras sussurradas de alguém sôfrego de notícias de um ente querido;
Inundo os meus ouvidos com os sons do grupo coral e das concertinas, onde o sagrado e profano se misturam num convívio tão íntimo quanto exemplar;
Revejo o a velha mercearia da aldeia onde, tal como de confessionário se tratasse, as pessoas contam as suas histórias de (des)amor e onde se vejo produtos que não existem nos supermercados;
Mais o velho aldeão que tenta apaziguar os corações dos doentes de amor...
E muito mais...
Tudo isto eu também vivi. E sinto-me enternecida por me trazerem, de forma tão sensível e sensitiva, um tempo que já passou: a minha infância. Um tempo igualmente recheado de lendas, mitos, sonhos e de quatro estações bem distintas. Claro que tudo isto ainda está presente na pessoa que sou hoje. Viver é recriar, transformar e contaminar o passado com as novidades do presente. Apesar de muito ter mudado no espaço de uma geração, eu persisto, tal como estes encenadores e actores, em construir uma ponte de afecto, de compreensão, de carinho entre as formas de viver do passado e do presente. Porque o futuro faz-se assim.
«O que cada um de nós procura, no meio dos acontecimentos onde mergulha, é construir a sua vida individual, com a sua diferença relativamente a todos os outros e a sua capacidade de dar sentido geral a cada acontecimento particular.»
Alain Touraine (2005). Um Novo Paradigma - Para Compreender o Mundo de Hoje, Lisboa: Instituto Piaget, p. 124.
Acerca do título deste blog
Com "Ginha", meu diminutivo de infância, quero evocar o tempo em que a realidade se confundia com o sonho, em que acreditávamos na magia, em que nos deslumbrávamos com pequenos nadas, em que questionávamos o óbvio. Quanto ao restante, é naturalmente inspirado no pequeno livro de Lewis Carrol, Alice no País da Maravilhas, cujo conteúdo me surpreendeu pela excentricidade, imaginação e rápida mutação dos acontecimentos. Tal consiste a "maravilha" desse mundo. Não será uma boa metáfora do mundo actual?
Preciso de perceber o mundo pósmoderno em que vivo; por isso ouço, leio, observo, penso, experimento e depois crio...momentos ou/e perenidades.
O meu projecto de investigação centra-se na criação de "performances com música". Quero explorar o visceral, o corpo (o meu e o do piano), a voz, as tecnologias, a teatralidade, o espaço, o gesto, a expressão e tudo o mais que me faça sentido na performance de música. Para saber mais sobre o meu trabalho visite a página http://www.myspace.com/teresavilaverde.