Friday 27 March 2009

Parabéns, Eduarda!

Esta semana não me foi nada fácil. Tive tomar algumas decisões que irão ter um forte impacto na minha vida. Parece que tenho de começar tudo de novo e faltam-me as forças... estava a precisar de um abanão para reagir. Depois de ler esta notícia, fiquei mais animada.


Resumidamente, diz a notícia do Expresso que a Eduarda Melo, cantora e minha colega do curso de música, vai estar hoje em Paris no Théatre Châtelet a interpretar uma das personagens da ópera "As fadas" de Richard Wagner. O convite veio na sequência de várias audições que fez em França para directores e Teatros. Pelos vistos sentiu que em Portugal as coisas estavam um pouco difíceis e foi admitida no Centro Nacional de Artistas Líricos em Marselha. O que mais gostei foram estas palavras, que passo a citar do artigo do Expresso de hoje:

«Considerando que Portugal "neste momento está um bocadinho difícil para uma maior realização profissional e conseguir outra projecção", Eduarda Melo sugere aos cantores portugueses que tentem fazer audições "cá fora, que há muito mais oportunidades, independentemente de continuar a cantar em Portugal."»

Estava a precisar de ouvir isto. Obrigada, Eduarda, e parabéns!

TVV

Wednesday 25 March 2009

Sobre o Twitter e outras ciber-necessidades

Eis um link para perceber isto do Twitter, algo que para mim é uma novidade.

http://tvig.ig.com.br/88865/twitter-e-privacidade.htm

Com algum espanto verifico que já existe um canal Twitter Portugal! (Nestas coisas cibernéticas ninguém perde tempo...) Se entendi bem, as pessoas respondem a uma simples pergunta: o que estás a fazer neste momento? As respostas vão para o canal Twitter da net e todos passamos a saber da vida particular de todos. Isto já acontecia no Facebook/Hi5, mas agora é ao nível do planeta e não dos nossos "amigos". Visito agora a página nacional do Twitter. As frases são desconexas e tudo junto mais parecem aqueles poemas Dadas/Surrealistas onde cada pessoa escreve um verso a partir de uma palavra deixada por outra pessoa e assim sucessivamente. Depois lê-se tudo como se se tratasse de um poema. Sabem a que me refiro, espero? Caso contrário, visitem o café Pinguim (Porto) uma terça à noite (penso eu) e tornem-se poetas por um dia.


Voltando ao Twitter. É mais uma ferramenta que propicia um esbatimento entre as fronteiras do privado e público, muito em voga actualmente. Pergunto-me sobre as vantagens, motivações e consequências desta nova forma de expressão ciber-pessoal. Talvez valha a pena ver o vídeo supra citado para ouvir a opinião da artista brasileira Martha Gabriel sobre isto. Ela não só dá exemplos da sua aplicabilidade como alerta para alguns dos seus perigos. Por exemplo, ela adverte para alguns riscos que corremos sempre que abrimos a nossa caixa de correio e esquecemos de fazer "log out". Outros podem ter acesso à nossa informação privada sem nos apercebermos. Isto é, como diz a minha amiga Pat , um "big brother cibernético".

Isto faz-me pensar sobre as nossas necessidade cibernéticas. Porque precisamos do Hi5, Facebook, Messenger, MySpace, Flick e outros? Claro que podemos viver perfeitamente sem estes canais, mas depois de os experimentarmos já não sabemos viver sem eles. É mais uma necessidade que se criamos, desta vez contribuíndo que o nosso real se (con)funda com o virtual de forma cada vez mais homogénea e menos peceptível. Rapidamente passamos da ausência à omnipresença, fixamos efemeridades, deixamos um rasto num mundo do etéreo e partilhamos algo nosso com alguém imaginário (e, logicamente, idealizado!). Parecem-me ser meios de ultrapassar muitas limitações inerentes ao ser humano, sejam elas geográficas, temporais, profissionais ou mesmo sociais.

Eu gosto do aspecto da partilha. Claro que há sempre a hipótese de ninguém nos ler, visitar ou intervir, mas isso pouco me importa. Começo a ter o prazer de simplesmente me exprimir ciberneticamente para meu prazer. Afinal escrevo diários desde a adolescência. Ainda guardo muito para esses livros; aqui os registos são outros. Revelo, mas guardo muito mais. Porque o mistério é fundamental na nossa vida. Mas preciso da net para deixar de me sentir num buraquinho. Assim posso viver num qualquer "fim do mundo" pois faço"parte do mundo". Só não quero é que estas ciber-necessidades me dominem ou se tornem em obrigações. Por isso gosto mesmo de me afastar durante uns dias por semana do computador. Para recuperar o velho tempo vagaroso e elástico que é essencial para me ouvir.

TVV

Thursday 19 March 2009

À procura de "espaços vazios"

Confesso que a minha prioridade não tem sido a performance, no seu lado mais prático ou criativo. Simplesmente porque cheguei a Portugal em Outubro passado e dei por mim desempregada. Após um ano em que vivi às custas das minhas poupanças, tinha de arranjar trabalho! Isto de estudar e não trabalhar é um privilégio dos portugueses. Em Londres, ninguém se pode dar ao luxo de o fazer com propinas a chegar aos 12-15 mil euros! Felizmente, por ser de um país membro da UE, paguei apenas um terço deste valor. Portanto, isto de trabalhar em part-time é algo muito sério e digno. Aqui em Portugal pensamos que só os pobrezinhos é que o fazem. Seremos assim tão ricos?

Por ter trabalhado durante uns bons anos pude ser uma pessoa privilegiada e apenas estudei. Agarrei esta oportunidade e devorei livros e livros. Encontrei uma biblioteca que me extasiou: finalmente podia ler sobre quase tudo! Li livros, ensaios e revistas científicas sobre tudo e mais alguma coisa. É que os meus interesses são muito mais do que música. Pegando nas palavras de Abel Salazar e contextualizando-o para a música, acho que "um músico que só sabe de música, nem de música sabe". Palavras bem sábias! É preciso sair do nosso buraquinho e procurar empatias ou linhas de pensamento mais abrangentes. Ler sobre outras matérias abrem-nos a percepção para novos horizontes. E mais facilmente deixámos de ser meros imitadores dos Outros e passámos a ser autores de algo nosso. É por isso que é importante ler!

Voltando à minha confissão inicial, a minha prioridade tem sido trabalhar e é isso que tenho feito. Trabalho para os outros, não para mim. Vivo uma pausa de mim, digamos assim. Mas a minha sanidade mental e psicológica pede-me contextos onde possa reflectir sobre a minha prática e confrontá-la com outras pessoas. Daí procurar conferências, por exemplo. São tão importantes quanto um "concerto". A sua preparação é igualmente exigente e morosa. Neste momento preciso de criar um "evento" e respectivo texto a contextualizá-lo. Mas quando começarei a prepará-los? Preciso de espaços vazios na minha vida: espaços para ler, escrever ou simplesmente para explorar um território novo. Felizmente a tendência será para melhorar. As férias vêm já aí, ufa!

TVV

Tuesday 17 March 2009

O Portugal de Ontem e de Hoje

Há dias ouvi o meu pai dizer uma frase que é recorrente nele e que me fez pensar sobre Portugal, o de Ontem e o de Hoje. «A tua opinião não conta para nada», disse ele. As circunstâncias deste comentário são irrelevantes. O importante é fiquei a pensar... Como é ele capaz de negar a sua força como ser humano? Como pode negar a sua voz? Será que nós não contámos realmente para nada? Somos seres assim tão passivos e submissos na nossa vivência? Como é possível alguém aceitar que não conta para nada neste mundo?

Só consigo entender esta expressão como um legado dos 50 anos de ditadura aos dias de hoje. Nessa altura cultivava-se o que eu chamo o"Portugal dos pequeninos": as pessoas tinham de ser felizes com a sua pobreza e ignorância; viver só era possível dentro de parâmetros muito estreitos; e era preciso obedecer, sempre e sem pestanejar, à autoridade, fosse ela de que natureza fosse. Qualquer atitude de empreendedorismo, de criação, de ousadia, de risco, de crítica salutar era impensável neste quadro ideológico-sócio-económico.

Felizmente sou filha da revolução e não me revejo neste Portugal. Quero um país arejado, inovador, capaz de arriscar e de se mostrar ao Mundo sem complexos. Por isso me interessam as vanguardas, em todas as suas dimensões. O nosso espaço de intervenção já não se limita à nossa rua. A nossa acção pode chegar a toda a parte. O que conta é encontrarmos empatias, estejam elas onde estiverem. O que conta é vermos uma consequência da nossa acção ou pensamento, por mais mínima que seja. O que conta é que nós contamos!

Muito devemos a Maio de 68. Os seus slogans, muitas vezes radicais e excessivos, foram fundamentais para resgatar o indivíduo de um viver medíocre e acomodado. Quarenta (e um) anos depois, temos o direito de ser nós próprios e de contribuir para o mundo com a nossa diferença. Esta mudança de paradigma (que Touraine diz ser individual e cultural) apela-nos à responsabilidade. Agora temos de responder na primeira pessoa pelas consequências das nossas acções e pensamentos. E é exactamente este sentido de responsabilidade que a geração do meu pai não se habituou. Sempre tiveram alguém a moldar-lhes o agir, pensar e viver. Às vezes pelo Salazar, outras pela figura paternal, outras clerical, outras civil (polícia), etc.

Hoje podemo-nos afirmar com mais facilidade, é verdade, mas também ficamos sujeitos aos seus efeitos "laterais". Por isso, há que ter coragem para viver, para nos afirmarmos de viva voz, para arriscar apesar dos riscos, para perder o medo de errar, e para nos lançarmos sempre para a frente. Porque o futuro é aí. E eu quero pertencer ao Portugal de amanhã.

E sim, nós contamos, meu pai.

TVV

Thursday 12 March 2009

Música ou Performance? Eis a questão

Que entendo eu de blogs? Nada ou muito pouco. Espaço para fixar pensamentos, partilhar emoções e experiências com um Outro, mas qual o interesse destas histórias senão para mim? Vou esquecer isto e escrever. Apenas escrever. Talvez assim descubra o sentido deste blog.

Após uma semana em Glasgow, onde o Eu teve o privilégio supremo, é-me difícil pensar numa proposta de investigação que não passe por mim. Não é narcisismo; é não me rever nos dogmas de uma musicologia que venera o objecto (a partitura) em vez do evento; que vê o músico como "tradutor" de partituras e não como um ser criativo (estatuto esse reservado ao compositor); e que vive nostalgicamente "à procura do tempo perdido", situado algures entre os séculos XVIII e XX.

Eu preciso de futuro; preciso de um mundo académico mais aberto à contemporaneidade, à miscigenação de géneros artísticos, às tecnologias e às novas metodologias; aberto ao não convencional, ao subjectivo e ao contingente. Porque o mundo real é assim mesmo. Tratar a música como se fosse algo controlável e gerador de leis universais, é negar a sua essência. O seu elemento vital. Tal como as outras artes, ela vive da energia e expressividade de um momento, do imprevisto, da efemeridade e do arrepio. Isto não se mede, sente-se.

Por não me rever na orientação clássica da investigação musicológica quero mudar de departamento. Aos poucos vou-me aproximando da "performance" - conceito novo para mim, mas que me soa a esperança. Baseia-se em teorias filosóficas e estéticas completamente distintas, que me parecem em melhor consonância com o mundo pós-moderno que vivemos. Tenho uma enorme curiosidade em saber mais sobre esta manifestação expressiva que começou há exactamente 100 anos (segundo RoseLee Goldberg* a Performance começa com a publicação do primeiro manifesto futurista de F. T. Marinetti no jornal francês Le Figaro em 20/02/1909). Quero estudar performance para investigar música. Veremos o que farei com disto.

TVV
* Goldberg, R. (2001). Performance Art: From Futurism to the Present. London: Thames and Hudson.

Sunday 8 March 2009

This is not art - Australia




CALLS FOR PROPOSALS NOW OPEN:

Closing 31st March 2009
If you work, think, play or study in creative, intellectual or artistic practices then…
We want you!
Join us for the 2009 grand interpretation of This Is Not Art: Australia’s largest and most diverse media and arts festival.
This Is Not Art has been growing and developing over the past twelve years to become a national showcase and skills share for Australia’s most creative and niche movers and shakers.
This year it’s your turn!
To be a part of the This Is Not Art 2009 Festival Program, you will need to go to our website at: www.thisisnotart.org and download and submit an application form. Alternatively you can send an email to: admin[at]thisisnotart.org and request an application form , or phone (02) 4927 0675.

We are always open to new suggestions and ideas for events or other inclusions into the festival program. While not every proposal can be guaranteed a place in the festival, we try to be as inclusive as possible, so please send us your proposals… We’d love to have you along for the ride!
Please ensure we receive your application by 31st March 2009. Email and postal details are found on the application forms.

xx This Is Not Art
Office: 3 / 231 King Street, Newcastle, 2300
Phone: (02) 4927 0675
Fax: +61 2 4927 1475
Email: amin[at]thisisnotart.org

independent, emerging & experimental annual arts & media festival

01 – 05 October 2009
Newcastle, Australia

www.thisisnotart.org

Wednesday 4 March 2009

Autobiology 2



Recém regressada de Glasgow, onde participei no workshop "Autobiology" (detalhes no post Autobiology 1), sinto-me em estado de choque. E agora? Um workshop é respirar mais fundo dentro de nós mesmos; é um período para experimentar algo novo; é descobrirmos novas potencialidades para o futuro. O ambiente de salutar criticismo e a variedade incrível de projectos aí apresentados, abrem as portas da minha percepção para o que é "Performance. Mais do que apenas música, teatro ou dança, é humor, drama, imagem, palavra, histórias, ou apenas um sentir. É um momento de transformação de nós, é construir uma relação forte com o outro, é tocar o inefável, é sentir uma energia simultaneamente poderosíssima e fragilíssima. É viver um momento certo na vida!

Neste workshop fiz duas "NO performances". A minha primeira manifestação de um "gut feeling" andou à volta da palavra No - palavra que todos têm medo de dizer, em especial nos olhos do Outro; palavra que tantas vezes tenho de dizer na minha vida... Construí um momento cheio de drama, de olhar forte, de respiração, de cabelos desalinhados e alinhados. A segunda, proposta da Helen Paris, foi ser apenas Eu. Apresentar-me como pessoa real, sem representação metafórica de nada, apenas a nudez de mim. Improvisei ao piano enquanto respondia às questões das pessoas. Desta vez, sem subterfúgios, máscaras ou metáforas de qualquer espécie. Apenas Eu. De olhos nos olhos. Tive medo, confesso. Não envolvia qualquer preparação, nada, nada. Teria de aceitar o que quer que acontecesse, sem tentar controlar o momento. Isto foi aterrador! Mas Gemma disse-me as palavras mágicas: Everything is going to be fine, Teresa! E acalmei. Pensei no John Cage e na sua "não intencionalidade", no espírito Zen (aceitar o que acontece como o melhor que pode acontecer nesse instante) e arrisquei. Foi um momento maravilhoso! Consegui criar empatia com as pessoas e venci um novo desafio. Nunca fiz nada assim na minha vida. Tudo é sempre calculado, estudado. Aqui, foi o inverso e resultou! Esta faceta do "real me" é-me inteiramente nova. Ainda não sei como me transformará mas sei que dei aqui um passo importante .

Esta viagem à Escócia também ficou marcada pelas pessoas que conheci nomeadamente o coreógrafo Paulo Ribeiro que é uma pessoa muito generosa e autêntica. Ele é uma inspiração para mim pois soube transformar as suas dificuldades em mais-valias. São as nossas idiossincrasias e diferenças que tornam este mundo num espaço - tempo fascinante para se viver. Outra pessoa inspiradora foi a minha "room-mate", uma escritora australiana de 70 anos que está em Glasgow a investigar para o seu novo livro. Tem o nome da minha mãe, Isabelle. Que mulher! Acho que me vi daqui a quatro décadas assim: a viajar pelo mundo, sozinha ou acompanhada, mas sempre em processo criativo e ousando viver os seus sonhos. Nunca encontrei ninguém com tantos sonhos, mistérios e instintos. Isabelle vai atrás deles sem esperar pelo dia de amanhã. Ela vive o hoje. Ainda procura aquele que viu no seu sonho: «Será ele o homem dos meus sonhos?». Quem diz isto aos 70 anos?

Agora, de regresso a casa, encontro emails que me põe triste. Ainda não consegui reagir ao embate. Preciso de respirar e descansar. Vou fazer Yoga...

Teresa