Wednesday 2 July 2008

Crónica inglesa 11: Everything must change!

Que é feito de vós? Que é feito de mim?

Ontem fui ao encontro de lusos que estudam ou investigam aqui no Reino Unido (LUSO2008 em Oxford). Oradores muito bons. Alguns conhecidos, outros nem tanto, mas todos muito bons. Falaram das suas razões, dificuldades, alegrias em regressar (ou não) para Portugal, após a sua experiência inglesa.

Que aprendi?
Que a vida se faz aos ziguezagues, de decisões com período de validade, de flexibilidade e de espírito empreendedor. Nós Portugueses somos uns eternos "sebastiânicos"; estamos sempre á espera de quem nos descubra, nos resgate, nos salve, nos dê as respostas certas. Em alternativa, porque não sermos pró-activos e criarmos o nosso próprio espaço de expressão no mundo? Como sempre, tudo está dentro de nós.

Aquele mundo de certezas feitas, de planos perfeitamente delineados (ao pormenor!) quanto ao nosso futuro, isso tudo já era. Vivemos num mundo em constante mudança, volátil, virtual, em que tudo nos seduz e nos promete facilidades e sonhos (obviamente, sem envolver qualquer esforço da nossa parte!). Face a tudo isto temos de ter a coragem, se for necessário, de mudar, de alterar, de ajustar, de flexibilizar os nossos planos e convicções. É aqui que reside o segredo de viver no mundo de hoje. Neste mundo que eu tento perceber quer vivendo-o ‘por dentro’ quer observando-o 'de fora'. Pergunto-me: Quem somos? Como vivemos? O que nos move? Como nos exprimimos? Não acho que seja um mundo melhor ou pior que o do passado. É um mundo diferente. Um mundo que exige pensamento crítico. E depois, novas formas de estar e de nos exprimirmos nele.

Ontem também (re)aprendi que os campeões não são aqueles que não erram ou que nunca perdem. São os que se levantam a seguir; os que face às dificuldades persistem e procuram respostas alternativas noutros caminhos. Foi o que João Rocha (um ilustre ‘desconhecido’ da Universidade de Aveiro) me lembrou com a sua apresentação. Exemplo de sobriedade, de espírito de luta face às adversidades e de alguém que se fez fora dos caminhos normais de ‘sucesso’. E eu também me sinto um bocado fora: fora na minha forma de fazer música; fora do espírito normal dos conservatórios; fora das universidades míticas da música; e sei lá que mais.

A sua comunicação fez-me recordar os meus dois últimos exames desta temporada. Na passada segunda-feira fiz o pior exame da minha vida. Era um projecto de música improvisada em que outros músicos tocavam o que eu planeei. Eles não perceberam o que eu queria e o resultado não foi nada bom. Enfim, fiquei de rastos. Apesar do meu cansaço extremo, tinha de arranjar forças para reverter a péssima impressão que fiz e fazer algo muito bom no dia seguinte, no meu projecto a solo. E fiz!

Era suposto e esperado que tocasse piano. Isto é, que modelasse os meus gestos para obter certo resultado sonoro. Mas, perguntei-me, não há tanta gente a fazer isso tão bem? Que posso trazer de novo? Resolvi fazer o oposto. Em vez de partir do som, parti do meu corpo. Trabalhei movimentos, gestos e acções que produzissem um som por consequência deles. Som como um fruto secundário (mas não residual!) dessa "coreografia". Criei uma história, uma narrativa, um plano de eventos, uma metáfora da vida através das minhas mãos e o resultado de tudo isto, quer em termos visuais quer sonoros, foi no mínimo...forte! Não queiram saber da minha enorme satisfação. A satisfação de ter consegui ultrapassar a minha "derrota" e apresentar-me ao mais alto nível criativo. E é aqui que tudo faz a diferença; no dar a volta ás dificuldades, em não desistirmos de fazermos melhor.

Sou um ser humano. Tenho fragilidades e limitações. Mas também tenho uma força que me faz exceder tudo isto! A Arte é isto mesmo: uma transcendência e uma ilusão. Por momentos consigo exceder todas as minhas limitações. Naqueles minutos que estou no limbo, vivo no nirvana, num mundo de utopias, regresso à felicidade da infância. Sou muito muito FELIZ!! Quando termino a performance, volto a ser normal. E sou feliz por ser normal. É nesta dualidade que encontrei o meu equilíbrio.


Teresa